Quente.

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Eu não sei bem como saímos daquele lugar, mas agora estou sentada em um banco de couro velho, olhando para um pôster de cerveja que emenda a janela de um trailer.

"Trouxe toalhas" Michael joga em minha direção uma toalha branca, qual posso apostar já ter visto no clube "Seus remédios molharam um pouco, mas ainda dão pra tomar" ele me entregar o frasco.
Michael vai mais para dentro do trailer, pelo reflexo da janela vejo quando ele tira a camiseta e seca sua costa. Uma surpresa, uma tatuagem que eu tento desvendar, ele sai do meu campo de vista, antes disso.

"Como você fez isso?" Falo assim que ele entra na sala, já com roupas secas.

"E o que exatamente eu fiz?" Ele me encara, senta no sofá ao meu lado e põe suas botas.

"Isso..." ponho a minha mão no seu peito, seus olhos encaram os meus mais uma vez. Ele retira lentamente, massageando a palma da minha mão.

"A minha mãe fazia, quando eu e o Troy caiamos" ele sorri, um sorriso espontâneo e terrivelmente bonito "Ela dizia que o coração é o órgão principal do nosso corpo, e seguir as batidas dele nos trás de volta a realidade" ele enfim põe a minha mão acima da minha perna "Eles são pra que?" Ele aponta pro frasco.

"Por favor, não conte pra ninguém" levanto e pego o frasco de remédio "Eu preciso ir" falo rapidamente procurando, meus sapatos? Como eu os tirei sem nem lembrar?

"Eu levo você" ele levanta.

Michael fica a minha frente, tão mais alto que eu. O encaro, na verdade não consigo fazer o que ele faz, cravar os olhos dentro dos meus. Sem falas mais alguma coisa procuro meus sapatos pelo lugar.

"Michael eu..." Troy empurra a porta e se assusta ao me ver abaixada no chão daquele lugar "Desculpa eu não..." ele tenta fechar a porta.

"Qual é moleque?" Michael senta no sofá "Entra logo!" Ele amarra as botas.

"Eles estão vindo!" Troy fala meio assustado.

"O que? Agora" Michael fala ríspido, com um tom de surpresa em sua voz "Avise o Nate!" Nate? O que eles estão falando? Michael pega meus pares de sapatos e joga contra meu corpo, faz menção e me levar até a porta.

"O que foi?" Pergunto e tiro meu braço de sua mão "Não toque assim em mim" me afasto, talvez eu só tenha coragem de falar alto assim um pouquinho longe dele.

"Droga! Não dá tempo" ele pega meu braço novamente e me puxa até o que parece ser seu quarto "Me escuta..." ele respira fundo, apoia suas mãos no batente da porta e me encara
"Você não vai sair desse quarto, por nada, me entendeu?" Tento falar algo "Por favor! Olha pra mim?" Estranhamente o olho "Você vai ficar aqui nesse quarto quietinha, sem fazer nenhum barulho, tá me ouvindo?" Apenos assinalo que sim com a cabeça, para que ele se afaste e enfim feche a porta.

Estou com os meus sapatos contra o peito, olhando ao redor. Tem uma janela com persianas do lado direito, uma cama de solteiro revirada com suas roupas recém trocadas, junto a um armário. Colocado na parede tem fotos, de Michael bebê junto a uma moça. Que pela semelhança, seria sua mãe. Ouço barulho mais alto de motos, ando na ponta do pé até a janela e abaixo uma peça da persiana olhando para fora. São cinco motos, com pessoas que eu nunca vi pela região.
Pelo estalar do piso, eles estão aqui dentro. E agradeço por ter tomado meu remédio, se não a ansiedade estaria me fazendo companhia uma hora dessa.
Tento acompanhar um pouco do que falam, mas obviamente falam baixo. Coloco meu ouvido contra a porta.

"Olli está do nosso lado" me assusto com a voz grossa do lado de fora e deixo cair um dos lados do meu tênis " Tem alguém lá?" Ouço o ranger do piso cada vez mais perto.

"E desde quando estou sozinho?" A voz de Michael fala "Vocês atrapalharam uma boa trepada" ele rir e todos seguem sua risada.

"Você é como seu pai..." uma voz rouca diz "So espero que essa sua bela foda não abra a boca por aí" a voz finaliza.

"Só outras coisas" Michael rir.

O que? Como alguém trata uma mulher assim e ainda mais, ele estava falando de mim? Se eu não tivesse com tanto medo, abriria essa porta e daria bons tapas no mesmo. Desisto de ouvir quando eles voltam a diminuir o tom da voz. Estou com sono demais, um dos efeitos do meu alto estresse após crise. Afasto um pouco a roupa recém trocada de Michael e alinho meu corpo.

(...)

"Sério que você dormiu?" Ouço a voz que me atormenta desde o dia que ouvi pela primeira vez. Abro os olhos lentamente e observo sua figura na penumbra do ambiente. Que horas são?

"Como você pode tratar uma mulher daquele jeito?" Lembro-me e disparo em sua direção. A medida que meu corpo também levanta e fica a frente ao seu "Seu filho da puta egocêntrico" aponto meu dedo sobre seu colo.

"Que mulher?" Ele olha fixamente pelo para o meu dedo fazendo em seguida uma expressão positiva "Você fala daquilo?" Ele aponta para a sala.

"Exatamente aquilo!" Cruzo os braços e serro os olhos.

"Você queria o que? Que eu falasse que estou aqui com a filha do prefeito?" Ele rir e sai lentamente do quarto.

"Eu não sou filha dele!" Esbravejo o seguindo "Independentemente..." gaguejo um pouco "Você não pode tratar uma mulher apenas como... trepada!" Sento no sofá e o encaro. Ele rir e chega perto de mim. Coloca os dois braços em volta da parte de cima sofá , faz meu corpo encolher ao nível de conseguir seu hálito quente ao meu rosto quando ele abaixa-se para ficar da minha altura. Dessa vez noto uma corrente no seu pescoço, de prata, que reluz a luz de fora.

"Eu trato as mulheres muito bem, e uma trepada comigo...." Ele aproxima-se cada vez mais, puxo a barra da minha saia "Você tem toda a razão, não é apenas uma trepada..." se ele se aproximar se mais? Penso. Fecho os olhos pela adrenalina que corre no meu corpo "É a melhor, o sexo mais quente e forte..." ele afasta-se do meu corpo e anda em direção a porta abrindo-a fazendo meu corpo enfim ganhar um ar a medida que encaro "É assim que eu trato as mulheres" ele sorrir sai do trailer, fazendo a porta bater em um som que acorda meu corpo. Volto a queimar, dentro de mim. Contraio as pernas, pela sensação que pulsa entre elas.

Estou ansiosa, de um jeito diferente. Qual jamais senti. Tento me reconectar a algumas coisas. Olho tanto em volta, tento encontrar a mim mesma. Meu tênis! Isso, meu tênis. Vou até o quarto e os calço de vez. Como eu posso ter saído sem celular? Eu pediria ao Taylor me tirar daqui em questão de segundos. Agora eu preciso do Michael, mais uma vez.
Pego o frasco de remédio que deixei em cima da cama e os ponho no cós da saia. Respiro... 1...2... 3! Pronta.
Sigo em direção a porta. E como um quadro, vejo a imagem dele. Está de costa, no escurecer, apenas iluminado por luzes penduras em alguns trailers. Existe um pouco de névoa, ao seu redor. Como se ele fosse tão quente!

"Pronta?" Ele diz ainda de costa e joga um cigarro no chão, olhando-me em seguida. Faço um sinal que sim com a cabeça, sem demais conversas. Michael pega sua moto, ao lado do seu trailer, e por um instante sinto alívio ao ouvir o ronco do seu motor chega perto de mim. Subo, sem ajuda mais uma vez. Sem o mínimo de contato "Você está quente!" Ele diz. A sua voz rouca.

Fecho os olhos, sim, estou acesa e queimando.

Atenção, perigo! Onde histórias criam vida. Descubra agora