Capitulo 1

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• JISUNG •

Me sinto bem em voltar para a Coreia novamente... Meu corpo e alma pertence à esse lugar, e esse lugar me pertence de alguma forma. Não faz nem uma hora que eu cheguei mas já me sinto em casa, parte do vazio que existe em mim parece estar sendo preenchido só de andar pelo meu antigo bairro e avistar minha antiga casa, mas isso não é o suficiente pra preencher todo o vazio.
O pé de árvore que antes era um pouco mais alto que eu já está enorme... Eu deveria imaginar, afinal, foram 8 anos morando na Inglaterra, 8 longos anos em que eu tentei me encaixar para agradar meus pais, mas decidir por um ponto final nisso, sou adulto e quero viver minha vida sem alguém para me impor limites. Eu tinha uma casa lá, mas ainda me sentia na zona dos meus pais, então resolvi voltar para onde eu nunca deveria ter saído.

Abro a porta da minha antiga-nova casa e olho ao redor, tudo estava no mesmo lugar que deixamos, entro e acendo as luzes que por algum milagre ainda funcionavam. As coisas da sala estão meio empoeiradas mesmo que minha mãe tenha contratado alguém pra limpar dois dias atrás, mas amanhã eu limpo já que não tenho muito o que fazer aqui além de tentar arranjar emprego e esperar, mas como ainda são seis da tarde, eu acho que vou andar um pouco e comprar algo pra comer.

Coloco as coisas no quarto e saio de casa observando tudo. Eu gosto bastante de observar as coisas que me chamam muito a atenção.
De repente me pego pensando no passado. Talvez seja por estar vendo as ruas e o bairro onde eu vivi grande parte da minha vida, me sinto nostálgico, ver isso tudo me lembra ele também, como será que ele tá? Eu não parei de pensar nisso desde que fui embora... Fiquei tão mal naquela época que quase parei no hospital. Eu sempre me perguntava, "e se eu não tivesse partido? E se ainda estivéssemos namorando...? E se eu tentasse achar ele? Mas... E se ele tiver raiva de mim?". Bom, melhor não pensar nessas coisas agora, não quero chorar, mesmo que meus olhos já tenham marejado.
As árvores ainda colorem toda a praça. Eu sempre achei muito legal a minha casa ser perto do centro, porque fica perto de tudo o que eu gosto.

(inclusive ele...)

Entro em uma loja de conveniência e compro um pote de macarrão instantâneo, água e sorvete, eu amava o sorvete de melancia, todo fim de semana eu (e ele) tomava pelo menos uns dois. Pago e saio já tomando o sorvete, quase choro quando provo, mas para o meu azar eu acabo esbarrando em alguém. Seguro com firmeza meu sorvete e não levanto o olhar por sentir um pouco de culpa de estar com a mente longe e ter esbarrado com alguma pessoa, mas é normal... Sempre acontece isso comigo. Quando eu não estou tropeçando, eu estou esbarrando ou caindo em alguém ou algo.

- Desculpa moço... - É um cara, percebo por seus sapatos e sua calça. Não o encaro, mas sinto que ele está me encarando. - Eu estava com a mente longe e não prestei atenção.

- Tá tudo bem, relaxa, eu também tava meio desligado, acontece. - Sinto ele procurando algum jeito de encarar meu rosto com mais clareza. Levanto o rosto e dessa vez o encaro. Desejo ser cego por alguns segundos a perceber quem era.

- Min-...

Alguém (que eu deduzo que seja uma mulher) chama seu nome o fazendo desviar a atenção para a voz. Me sinto aliviado mas também uma vontade de chorar. Ele não mudou quase nada, está alguns centímetros mais alto, ruivo, encara demais as pessoas, usa o mesmo perfume delicioso de sempre... Me perdi em pensamentos novamente. Balanço a cabeça devagar me dando conta de que estou parado igual uma árvore no meio da calçada enquanto ele anda rápido até a mulher e vai embora com ela.
Me sinto... Eu... Não sei como me sinto. Não estava preparado pra ver ele. Nem tenho mais vontade de tomar o sorvete. Meu coração vai sair pela boca, estou tremendo, suando, respirando pesado, quero ir pra casa. (ele era minha casa)

Vou o mais depressa que consigo para casa, corro pro quarto depois de guardar o sorvete e penteio meu cabelo com as mãos. Respiro fundo. Preciso me acalmar. Por que estou assim sendo que nem falei com ele? E se eu tivesse falado com ele? E se ele tiver me reconhecido? Passo a mão no rosto e me jogo na cama encarando o teto.

Me acalmo aos poucos e abraço o travesseiro. Minha mente me diz que eu estou parecendo um idiota agora, não por estar pensando nele, mas sim por reagir assim. Pareço muito sensível e não quero mostrar esse lado (novamente) em público.

(Ou pra ele.)

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