capítulo dois;

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Pov autora

"Puta que pariu...cantar que o Palmeiras é o time da virada novamente?" Era o que Tini pensava. A mulher estava no Allianz depois de bastante tempo e não estava gostando do que via, principalmente pelo fato do seu meia não conseguir acertar um passe sequer. Havia se passado 9 longos meses desde o encontro deles no hospital. Martina jamais esqueceria daquele dia, da forma como ele a tratou, da adrenalina que foi correr aquele perigo. Desde então muitas coisas mudaram, só não a fase péssima na vida da atual estudante de direito. Nada tinha melhorado, arrisco dizer que até piorou. Tini precisava relaxar, encontrar sua paz, sua calmaria; mas nem isso funcionou, o Palmeiras só estava lhe trazendo estresse, e quando Raphael perdeu o pênalti tudo foi por água abaixo. "Com certeza foi o cabelo", pensava ela. Há poucos dias havia comentado com sua amiga sobre o medo do mau futebol ter voltado com o cabelo, e parece que ela estava certa. Sem contar o fato do ex-presidente estar presente no Allianz. "Quem deixou esse verme entrar aqui?" essa pergunta não saia de sua mente. Ele não é uma celebridade, não é alguém importante; não há porquê tratá-lo como se fosse. Tudo que ela queria era abraçar bem forte o Raphael e dizer que vai ficar tudo bem. Ele já passou por coisas piores, perder um pênalti não era o fim do mundo. Almejava que a torcida entendesse isso..

Pov Tini

A partida acabou com a vitória do time visitante, o Palmeiras ia perdendo a sua invencibilidade dentro do Allianz. Os burburinhos que ouvia ao meu redor eram todos sobre o meu camisa 23, tive vontade de socá-los. Torcida ingrata, parece que esquecem tudo que ele já fez por nós. Logo começaram a gritar o nome do clube enquanto os jogadores desciam para o túnel, eu estava bem rente à proteção da arquibancada e pude vê-los de perto, por um momento de distração não consegui ver o Veiga entrando e me enfureci comigo mesma. Não que eu ache que ele lembre de mim, já passou tanto tempo, além disso, por quê ele lembraria? Eu sou só a torcedora maluca que invadiu o quarto de hospital para vê-lo.

Quando sai do Allianz Parque, procurei como uma louca por um táxi já que estava sem bateria para chamar um Uber, porém não tinha uma alma viva, então tive que ir andando e torcer para encontrar um no caminho, minha casa era longe demais para ir andando, deveria ter escutado a Mel e ter vindo com meu carro. Comecei a correr pela calçada quando a chuva começou morrendo de medo de cair ou ser assaltada, ao menos eu estava de sapatos, seria um estrago caso eu viesse de saltos. Os motoristas dos carros parados no sinal vermelho me olhavam como se eu fosse maluca de estar tomando toda essa chuva ao invés de esperar passar nem que saiba um pouco, - e talvez eu realmente seja - mas não posso parar aqui no meio do nada e sem ninguém por perto. Eu estava com medo, com frio, almejava encontrar um táxi ou um rosto conhecido para me salvar daquela tempestade. Eu já estava toda molhada, meu telefone provavelmente já estava como uma bucha de lavar louças encharcada, meu cabelo nem se fala. Hoje não era o meu dia, isso estava bem claro.

- Ei, moça!! - ouvi uma voz familiar e desejei como louca que fosse algum conhecido me chamando, porém o medo invadiu meu corpo ao pensar que pode ser um estranho querendo fazer algo comigo. Me virei lentamente para a voz que gritava e vi ele. Raphael. O meu Raphael.



Pov Raphael Veiga


Vazio; tristeza; vergonha; decepção. Foram alguns dos sentimentos que invadiram meu corpo após perder aquele pênalti. Minha vontade era descer direto para o vestiário assim que fui substituído, ou melhor, ir direto para minha casa. Estava com vergonha de olhar para meus colegas de equipe e meu treinador. Todos eles tentavam me animar dizendo que ninguém acerta sempre, e no fundo eu sei disso, mas não muda o sentimento que falhei com minha torcida. Por falar em torcida, já tinham se passado 9 meses desde que aquela maluca invadiu meu quarto no hospital, desde então não consigo tirar ela do meu pensamento.

Tini. Faria de tudo para encontrá-la novamente.

Quando o Daronco finalmente decretou o final da partida, eu só queria sair dali, mas eu precisava ser profissional; então cumprimentei todos os jogadores, o árbitro - mesmo sentindo vontade de socar a cara dele - e caminhei em passos longos almejando sair logo do campo, mesmo a torcida gritando o nome do clube. O sentimento era que eu falhei com eles, mal conseguia olhá-los, até que eu vi ela. Ela estava aqui! Tini estava no meio da torcida independente, que ficava perto do túnel que desce para o vestiário. Não tive reação, não consegui comprimentá-la, nem ao menos sei se me viu. Queria poder abraçá-la, ter o privilégio de conversar novamente com aquela mulher que domina meu pensamento há 9 meses. É como se tivéssemos uma conexão espiritual, não sei explicar, é algo de outro mundo. Sequer olhei para outra mulher ou desejei outra sem ser ela. Tini havia me deixado totalmente maluco.

[★★]

Enquanto esperava o sinal abrir, notei uma mulher correndo em meio a forte chuva que caia nas ruas de São Paulo, ela parecia familiar, talvez pela camisa do Palmeiras, provavelmente estava voltando do jogo, meu instinto pedia para chamá-la, porém não fazia nenhum sentido colocar uma completa estranha - ou não - no meu carro, ainda mais após eu perder um pênalti. Vai que ela quer me matar. Aquele sinal parecia que nunca iria abrir, já estava impaciente e minha mente não ajudava. Lutei com todas as minhas forças para não me mover naquele carro, mas não consegui, abri o vidro e gritei por aquela mulher desconhecida que parecia assustada, ela estava completamente encharcada, muito provável não ter achado nenhum carro disponível. Quando ela finalmente se virou - mais devagar que a defesa do Corinthians - eu pude ver quem era. Tini. Era ela. A minha Tini. Novamente ela estava bem diantes dos meus olhos.

Dusk till dawn - Raphael Veiga Onde histórias criam vida. Descubra agora