Capítulo 19 - A triste realidade

4 0 0
                                    

  A recuperação vem aos poucos, longe do caminho que leva até a entrada da arena. A definição de como Alexssandra se sente é particularmente estranha após sair do palco de batalha.

  Estar normal depois da exaustão não é algo comum.

  Prossegue normalmente entre os corredores até o quarto deixado para uso dela, onde poderia descansar plenamente e assistir as outras disputas nos outros pisos. Depois que saiu de lá, descobriu que foi a segunda a se classificar e que os outros pisos estão acirrados até o limite.

  Quem lhe informou tudo isso de antemão foi Yasi, que a aguardava na saída e está ao seu lado nesse momento, informando questões técnicas que só ela perceberia do espaço privilegiado que os treinadores têm disponível.

  — Você sabia daquela armadilha de queda, Yasi? — pergunta parando em frente a porta do quarto.

  — Negativo — responde a treinadora enquanto digita a senha para destravar a trava de segurança. — Mesmo que fosse possível saber, na hora que foi ativada, todas as opções de armadilhas foram bloqueadas. Não tinha o que eu pudesse fazer.

  É claro que não.

  A porta abriu com um deslize rápido e as duas entraram no cômodo.

  Ambas tinham planos nesse intervalo bem distintos: Alexssandra descansaria por alguns minutos dormindo ou lendo, e Yasi ficaria assistindo as outras disputas para pontuar a nova estratégia (de preferência totalmente funcional dessa vez).

  O malefício dos planos é que eles podem ser drasticamente alterados.

  Chegaram nem a se acomodarem no quarto antes de perceber a presença de alguém. E não era um alguém qualquer.

  O Chanceler está ali, de costas, vendo a transmissão das disputas por uma velha televisão — talvez uma antiguidade nesse tempo —concentrado no que está passando, demorando a dar atenção a elas, que estão paradas sem ter reação.

  Quando chegado o momento da atenção, ele se vira para elas. Mark está do mesmo jeito que a filha o viu na arena, com um traje de gala e imponente, tingido dessa vez em detalhes que honra as cores da bandeira, mesmo sendo em tons discretos.

  Sua expressão é de alguém simpático, nem um pouco furioso ou nada parecido. Talvez não esteja assim ainda.

  Na mesma hora que está focado no que elas vão dizer, Yasi vai ao chão, ficando de joelhos, levando as mãos ao cabelo escuro em coque, depois deslizando pelo rosto de pouca melanina parda até o coração, sendo tudo ao som de múrmuros incompreensíveis. Ao fim leva a cabeça ao chão e eleva as mãos, juntas, a frente, para uma espécie de citação primordial.

  — Me ofereço de corpo e espírito a servidão ao senhor e a Aurum. — Fala num tom de submissão e respeito místico a Mark.

  Alexssandra fica sem o que fazer, agir e reagir com o que presencia, mas entende muito bem o que é. Um significado tão raro quanto a TV.

  A antiga tradição de Aurum.

  Uma de várias outras. Algumas presentes na cultura atual, outras extintas da história. Sendo esse o destino da herança dos primeiros povos que fundaram Aurum, que na grande maioria eram tribos durante a época da Reconstrução.

  Essas tribos não duraram muito quando os progressistas chegaram e os massacraram e dominaram, quase criando novos tempos de colonização novamente, até a Guerra de Unificação selar a permanência dos dois povos no continente.

  Como representação harmônica de aceitação, as tribos associaram sua reverência, que antes era feita ao líder próprio, a figura de governador da cidade que ia surgindo. Com o tempo essa reverência foi se modificando com os eventos sociopolítico que a Metrópole sofreu durante a história, moldando-se para continuar existindo, sendo atualmente repousada na figura do Chanceler.

A Princesa e o Passado do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora