10 - Ceder

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No sábado de manhã, ambas estavam na expectativa. Marília queria ir logo pra casa de Maraisa, mas achou ridículo chegar muito cedo, seria bandeira demais. Já a chef andava de um lado pra outro pensando no que preparar para a sua convidada. Como gostava de peixe, resolveu seguir a intuição. Por fim cozinhar a distraiu e quando temperava o linguado o interfone tocou. Foi correndo atender.      

— Entrega de uma garrafa de vinho.  

— Opa, é aqui mesmo. – abriu se sentindo animada.      

Marília entrou e logo ela a recebeu na porta com um sorriso.      

— Bom dia.  

— Cheguei muito cedo? – vinha com capacete em uma das mãos e uma pequena mochila nas costas.  

— Não, chegou na hora. Estava temperando seu almoço, aliás, nosso.       

A loira gostou de ouvir aquilo.      

— Quer esperar na sala ou ir pra cozinha comigo?  

— Ah, prefiro vê-la cozinhar.  

— Está animada pra andar de moto hein?  

— Adoro andar de moto, um dia eu pego a estrada e vou pro sul.  

— Nossa que longe! – Maraisa brincou.      

Seguiram pra cozinha e Maraisa preparou a frigideira pra dourar o peixe.      

— Vai dar uma fumacinha, mas não assusta. – jogou as postas de peixe e depois o azeite e um molho que Marília não soube dizer o que era.  

— Gosto de dourar porque fica crocante por fora e macio por dentro.  

— Que peixe é?  

— Calma, me deixa terminar.      

Pacientemente a publicitária esperou com os olhos atentos aos movimentos de Maraisa. Ela foi colocando o peixe e por cima um molho. Depois fez uma salada bem rapidinha e serviu com arroz simples.      

— O arroz é opcional, não precisa comer se não quiser.  

— Estou com fome, vou comer tudo. – riu.  

— Essa é minha tática, deixar os convidados com fome pra impressionar na hora de servir. Se ficar bom ou não, eles vão gostar do mesmo jeito.  

— Você não precisa disso. O que vamos comer?  

— Linguado com molho de limão e cogumelos.  

— Hum. – Marília fez uma cara de cobiça pra cima dos pratos.  

— Eu gosto de peixe, então arrisquei.      

Serviram-se e almoçaram batendo papo. Era disso que Marília sentia falta e só podia ficar grata. Não era só a presença de Maraisa, mas a delicadeza em chamá-la pra almoçar.   

— Se pudesse, faria isso todos os dias. – a loira falou mais pra si mesma.  

— O que disse?  

— Pensei alto, mas posso repetir. Se pudesse faria isso todos os dias da minha vidinha. – falou franzindo o nariz.  

— Vidinha? Sua vida é ótima, do jeito que falou parece até que não gosta dela.  

— Gosto em partes, adoro meu trabalho, amo o que faço e é aquele discurso profissional que você já deve conhecer. Mas quando se trata da vida pessoal, é vazia, muitos contatos, poucos amigos. Não sou chegada à rotina, mas gosto de dividir o dia a dia. Entendeu?  

Medida certa - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora