3- estou cansada

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Após outra festa, eu caí na calçada na rua. Lembram da mulher rica que me perturbava sempre? Então... Eu a encontrei naquela manhã.

— Sua bêbada imprestável! — Uma voz surgiu.

 Eu estava em efeito de álcool, mas sabia quem era. Pensei que eram algumas vozes da minha cabeça. Quando olhei para o chapéu da pessoa, eu lembrei quem era.

— Senhora Gusmão...— Levantei minha cabeça. — Como vai? — Ela estava dentro de uma carro esportivo luxuoso.

— Não é da sua conta, sua vagabunda! —

Eu me levantei devagar.

— Eu estou bem, também. —

— Você não faz nada que sirva para sociedade? Vá a uma igreja! E reze para não queimar no inferno! Que é o que merece. Sua prostituta! — Assim, ela foi embora.

O mais incrível, é que essa mulher tem certeza que a amante do marido dela sou eu, mas eu não fico com homens tão velhos como ele.

Não me julguem, mas eu segui o concelho dela... Eu fui para a igreja para me confessar ou rezar por algum milagre, mesmo que fosse impossível nas condições de vida que eu me encontro.

Soube que a igreja ia estar aberta pela tarde, então eu aproveitei e me arrumei com as poucas opções de roupas que tinha. Porém, no momento que eu avistei a capela, o desespero bateu; eu ia ficar perto de muitas pessoas. Tentei me acalmar, mas era impossível. Se continuasse, eu poderia ter uma crise de pânico. 

Peguei qualquer coisa que vi e coloquei na boca. E funcionou. Eu não estava com tanto medo, mas notei que tudo estava se mexendo de uma forma engraçada. Era a pílula que eu tinha tomado? Resolvi ignorar e entrar logo na igreja.

Quando cheguei, algo estava diferente... E não sei que festividade era aquela, mas a igreja estava estranha: as pessoas estavam vestidas de vermelho, as imagens da igreja estavam cobertas com panos escuros e pesados, a grande cruz do centro estava coberta com um pano roxo escuro, todos os bancos estavam ocupados, somente um padre vestido de vermelho no altar, todos estavam em silêncio, apenas o coral da igreja fazia o som existir naquele lugar. 

Eu fui andando devagar até ao altar da igreja, todas as pessoas começaram a olhar para mim com olhares de julgamentos, eu me sentia muito mau. Queria vomitar com tanto mau-olhado.

Olhei para as pessoas e vi alguns rostos familiares: algumas pessoas que eu via diariamente: homens com quem passava a noite, minhas vizinhas, a Gusmão, até amigos como David e Hanni. 

Quando percebi, eu já estava em frente ao altar. O padre me observava atentamente. 

— "Ó vós, ó vós, vós que por aqui passais. Olhai, dizei, quem nesse mundo sofreu mais?" — O coral cantava.

Eu caí no chão em prantos. Chorava desesperada e muito chamativa.

— Eu sou culpada de tudo! Eu nunca faço nada que realmente preste! Eu não sou boa o suficiente para ninguém! Eu sou um erro! Eu sou um erro...— Eu gritava ajoelhada no chão com o rosto abaixado. — Eu mereço esse sofrimento... Eu não sou ninguém! Eu não sou ninguém...— 

Senti alguém tocar em meus ombros, olhei para cima e vi o padre que, carinhosamente, me levantou e me abraçou.

— Minha filha, você não tem culpa de nada. Isso está sendo apenas um teste do mundo, seja forte! A dor tem começo, meio e fim. E é horrível quando você está na metade...— Eu continuei chorando em seus braços. 

Quando o soltei, eu vi meu pai, já não era mais o sacerdote. Eu me assustei e me afastei um pouco. Ele sorria para mim, o que fez meu peito doer de tristeza. Minha mãe apareceu por trás dele, o acariciando. Meu irmão chegou logo depois, assim completando minha família, minha querida família! Eu corri para abraça-los e, ainda em seus braços, eu me desculpei.

— Me desculpem! Eu não deveria só ter pensado em mim. Eu deveria tem feito outra coisa pra sair daquele relacionamento tóxico, mas eu não fiz nada que não fosse fugir para longe e depois voltar, como uma covarde que eu sou. Me perdoem! Por favor! — Eu clamava desesperadamente.

Eles continuavam me abraçando fortemente, era tão reconfortante...

— Você não precisa pedir desculpas, querida. — Disse meu pai dando um beijo em minha testa.

— Você não teve culpa.— Disse minha mãe.

Nós nos soltamos. Eles sorriam pra mim, enquanto eu não parava de chorar.

— Não chore, você não teve culpa. O acidente não foi sua culpa.— Disse meu pai.

— Ele... Foi ele que fez isso e, sim, eu tenho culpa por isso. Não teria acontecido nada se eu não tivesse fugido de tudo. — Disse limpando as lágrimas do meu rosto.

— Você não fez nada, irmã. Você nos ama demais para fazer isso. Ele é o culpado, não você. — Finneas me abraçou.

Minha mãe e meu pai se juntaram no abraço. Eu fiquei tão confortável que abri os olhos rapidamente, mas eles não estavam mais lá, me o padre, nem a igreja, eu estava deitada na varanda da minha casa, sozinha. 

Obrigada! Obrigada por isso. Eu finalmente consegui pedir desculpas da minha amada família.

1000 FORMS OF FEAR (B.E) -1Onde histórias criam vida. Descubra agora