Capítulo 10

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Na Segunda-feira, como de costume, seguia até a casa vermelha dos Webber junto de meu violão para mais uma tarde. Era estranho ver Seu Santiago e Afonso me esperando na varanda sozinhos, já que Dante sempre chegava primeiro por morar bem em frente à eles.

- Boa tarde Seu Santiago... O Dante já chegou?

- Ele não vem hoje, minha querida. Está doente ou algo assim. Sua avó veio me avisar.

"Tudo bem, então ele tem uma desculpa." Pensei. Apesar de achar curioso, já que essa era a primeira vez em 5 anos que Dante deixava de vir em um ensaio. Independentemente de seu estado de saúde. Foi por sua vontade de nunca perder um ensaio que nós dois passamos uma semana estudando guitarra com catapora, pois ele acabou me contaminando também. Ou quando ficamos duas semanas gripados sem nem conseguir ouvir direito o som da bateria acústica de Seu Santiago, mas estávamos lá, firmes.

Por mais estranho que parecesse, era só um dia. Aproveitei aquele tempo com Seu Santiago, como há muitos anos não tínhamos. Só eu e ele. Naquele período, já estávamos finalmente praticando violoncelo e eu me sentia incrível ao toca-lo.

- Você está ficando cada vez melhor nesse instrumento. Não que fique admirado, pois você é um fenômeno desde pequena, desde os primeiros acordes que tocou no violão. Mas com o cello, você parece praticamente uma profissional. – Eu sorria para ele toda orgulhosa ao ouvir seus elogios.

- Ei Seu Santiago, durante todos esses anos que o senhor me ensina a tocar, nunca me contou como foi que aprendeu tanto sobre isso.

- Ah, minha menina, é uma longa história...

- Eu tenho todo o tempo do mundo pra ouvir. – Disse, escorando-me na mesinha a minha frente, como uma criança que se senta para ouvir uma história antes de dormir.

- Bem, já que você insiste... – Ele ajeitou-se em sua poltrona na sala, e seus olhos encheram-se de brilho a cada palavra que começava a formular frases para aquela história.

Seu Santiago disse que desde muito novo via os músicos tocando nos bailes da cidade, que eram bem famosos por ali. Nós os chamamos até hoje de "bandinhas", e normalmente no interior as músicas tinham ritmos alemães e letras em alemão, assim como um pouco da cultura holandesa na música também prevalecia por ali.

Assim que viu o primeiro show de uma bandinha ao vivo quando criança, ficou vidrado em todos os instrumentos ao mesmo tempo. Da gaita ao baixo, do violão à bateria... um pouco de tudo. Pensou, desde muito novo, que queria ser músico e insistiu para que seu pai comprasse um violão para ele. Seu pai achava uma perda de tempo e levaram alguns anos até que fosse convencido, por sua esposa, a comprar o bendito violão para o pequeno Santiago.

- E foi por isso que quando vi você, uma criança sentada com um violão bem maior do que seu tamanho, sentada na frente de casa, quis muito lhe ensinar. Se sua mãe já havia lhe dado aquele presente, o resto se tornaria mais fácil. – Ele continuava.

Depois de muito insistir, aprendeu a tocar seu violão sozinho. Mas isso, para desgosto de seu pai, só o deixava louco para aprender outros instrumentos.

- Comecei a trabalhar bem novo, com 14 anos, na venda do meu bairro. Carregava caixas para o dono e ele me dava um trocado toda a semana. Assim fui juntando até que tivesse o suficiente para comprar meu próximo instrumento.

E assim foi indo, primeiro a guitarra, depois o baixo, um saxofone e uma flauta doce. Estava começando a ter seu quarto decorado por discos de jazz, samba, música germânica e qualquer coisa interessante que encontrasse na loja de discos. A paixão aumentava a cada nova descoberta musical, mas isso, infelizmente, desagradava muito seu pai.

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