When I Kissed The Teacher

As Constelações Em Paris

  Tem uma semana que estão nisso. É um sonho, e First ainda não consegue acreditar. Seu eu do passado ficaria maluco com isso, seria demais para o coração dele, como ainda é demais para a sua versão do presente.

   Hoje é feriado, uma celebração pelo primeiro sermão de Buda. Mas nenhum dos dois é lá muito religioso, então passam a terça-feira livre na casa de Khaotung. First quer aproveitar todo o tempo possível com ele, porque quinta Khaotung parte para ministrar um curso intensivo em um evento de matemática pura em Paris. Por duas semanas. Duas semanas inteiras. First está evitando pensar nisso desde que soube.

  É quase meio-dia e está deitado com a cabeça no colo dele, em um sofá macio e espaçoso.

   "Seus pais já sabem que você veio para ficar?" Khaotung pergunta. Leva a mão até o seu cabelo, hesitante. Faz First se lembrar das vezes em que esteve na casa dele durante o ensino médio. É surreal pensar em como as coisas mudaram. Sente seu coração á ponto de explodir de tanta felicidade. Finalmente, finalmente.

   First sorri. "Eu ia esperar pra contar, mas minha mãe soube desde o começo. É bizarro, mas as mães sempre sabem."

   "O que aconteceu lá dentro?" Khaotung desliza os dedos pelos fios do seu cabelo. É bom. First fecha os olhos. "Não estava gostando?"

   First ainda se sente nervoso em tocar nesse assunto. Queria tanto que Khaotung só entendesse, que o apoiasse, embora as visões deles sobre o assunto sejam opostas.

    Engole em seco. Ok, vai dar uma chance. Tenta se concentrar na sensação reconfortante da mão dele no seu cabelo.

   "Minha orientadora de mestrado era uma senhora. Ela devia ter uns setenta ou mais, mas tipo, ela era fenomenal. Pra caramba mesmo. A pessoa mais legal que eu já conheci. Ela foi a única pessoa lá dentro que eu contei sobre..." First hesita. "Que eu contei sobre você."

   "O que você controu de mim?" Khaotung brinca com a sua sobrancelha agora, deslizando o indicador sobre ela. Ele cheira á banho recém-tomado e colônia.

   First olha para cima e seus olhos se encontram. "Que eu te amava e sentia sua falta."
   
   Khaotung desvia os olhos e para de brincar com o seu rosto, como se First tivesse dito algo que ele não consegue entender. Se ajeita no sofá, parecendo desconfortável, e First se levanta.

   "O que ela tem a ver com você sair?" Khaotung pergunta. Ele alcança o controle e liga a tv. Agora a sala se enche com o som de comentaristas de um jogo de basquete qualquer.

    First suspira. Calma, um dia você vai ouvir um eu te amo também.

    Bate na sua perna e Montow se acomoda no seu colo. First começa a fazer carinho no pelo dele. O gato cheira tão bem quanto o resto da casa, como se tivesse absorvido o aroma dos produtos de limpeza que Khaotung usou.

   "Calma. Eu não te falei, mas eu fiz um estágio no JPL no fim da graduação" First diz, observando Khaotung arregalar os olhos. É o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, seu sonho desde criança. Montow mia e First faz carinho atrás das orelhas dele. "Mas deu tudo errado e foi uma merda. A competitividade lá dentro é coisa de louco. Amor pela ciência? Esquece. Os caras só querem saber de lucros e não ligam para passar por cima dos outros se for para alavancar suas carreiras."

  O ambiente era tão ruim, e a pressão estava ferrando tanto com a sua cabeça, que First teve que sair antes do final do estágio. Cedeu o lugar para um colega mexicano que teria conseguido a vaga se não fosse por ele.

   Khaotung parece ainda estar preso na parte dele ter estagiado no JPL, com uma expressão surpresa e feliz. First sente uma mistura de tristeza e ansiedade borbulhar no seu estômago. Talvez nunca mais seja capaz de fazer ele ficar orgulhoso assim. Sua versão de antes, brilhante e cheia de potencial, já não existe mais. Agora tudo o que sobrou foi um adulto decepcionante. First queria ter mais á oferecer.