Capítulo 29: Reencontro

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07/02/1934

Hoje vou ter que sair contra a minha vontade, minha tutora recebeu uma ligação de última hora do manicômio, papai disse que queria me ver, mas eu não queria sequer olhar para a cara dele, não depois do que ele fez da minha mãe, mas minha tutora meio que me obrigou a ir o que esse papo de respeite seu pai e blá blá blá, então meio que eu fui contra a minha vontade.

Chegando lá a minha tutora o cumprimentou gentilmente, aquela foi a primeira vez em anos que eu reencontrei o meu pai, ele estava terrível, eu nunca vi ele naquele estado, era como se meu pai verdadeiro tivesse morrido e no lugar ficou um mendigo, ele estava magro, com cabelo e barba grandes, bagunçados e mal feitos, ele também tinha um rosto esquelético e cansado, sem falar que ele parecia estar muito magro, pergunto-me a quanto tempo aquele homem não come, acho que no fundo eu senti um pouco de pena dele, o que não é um sentimento bom.

Eu para a minha tutora um momento a sós com o meu pai, eu precisava falar com ele mesmo a contra gosto, ela foi muito compreensiva e nos deixou a sós e nós ficamos lá nos encarando em uma mesa ao redor de um monte de gente insana e louca. 

Depois de muito tempo eu percebi que ele não iria falar comigo, então fui obrigado a quebrar o silencio, perguntei como ele estava, o que obviamente foi uma pergunta idiota, mas só foi a única coisa que eu pensei em falar, foi tão idiota que aquele merda riu um pouquinho, eu senti vontade de rir também, mas eu prendi o riso e fiquei sério.

Fui direto ao ponto e coloquei o elefante na sala, eu perguntei se ele realmente amava a mamãe, obviamente ele disse que sim, com a resposta dele eu perguntei porque ele a traiu com aquela mulher tão parecida com ela e quem era aquela mulher, meu pai ficou calado por um tempo, mas depois do silencio constrangedor finalmente veio a resposta que me fez sentir vontade de vomitar, o motivo da traição é que depois que a minha mãe ficou doente eles não tinham relações com tanta frequência, na verdade, eles quase nunca faziam amor, mas ao mesmo tempo ele tinha muito medo de deixa-la melhor, não queria ter o risco dela ir embora mesmo que por um milésimo de segundo, mas foi aí que ele conheceu aquela, ela era uma das nossas e tinha essa similaridade com a mamãe, por isso eles começaram a ter uma relação,  mas era apenas sexo e ele não a amava. 

Meu sangue ferveu naquele momento, eu senti vontade de bater no meu pai até que seu sangue inteiro estivesse espalhado por todo o chão, mas eu respirei fundo, aquele manicômio estava cheio de seguranças e outros funcionários, não poderia correr o risco de alguém chamar a policia, eu precisava saber de mais coisas, eu perguntei mais sobre aquela mulher, queria saber mais sobre ela, coisas como nome, onde morava, etc, acho que meu pai já sabia das minhas intenções que naquele momento estavam bem claras, mas ele me deu todas as informações que eu precisava, até mesmo pontos de referencia e locais que eu poderia encontra-la, mas ele não me garantiu que a destruidora de lares ainda moraria no mesmo lugar, mas eu contava com isso.

Coletei todas as informações que eu precisava, estava pronto para ir embora, mas fui pego de surpresa quando meu pai falou que estava orgulhoso de mim por eu ter me tornado o guardião no livro, aquelas palavras me pegaram como um soco, eu não queria continuar amando o meu pai, a vontade de chorar que eu senti foi indescritíveis, mas eu me controlei, mandei ele ir para o inferno e fui embora.

Do lado de fora daquele manicômio eu chorei, não consegui me aguentar, eu chorei, chorei muito! Era difícil de me recompor naquele momento, era como se eu tivesse voltado a ser uma criança que era o filhinho do papai, eu não estava pronto para estar aqui, eu não estava pronto para ver meu pai novamente, estou chorando enquanto escrevo essas linhas do diário eu estou completamente indefeso agora. A minha tutora percebeu o meu estado e veio me ajudar eu só disse que queria ir embora, ela foi compreensiva como sempre e me levou para casa, tudo o que eu preciso fazer é dormir.

08/02/1934

Eu parei para pensar um pouco e cheguei a uma conclusão, que eu não estou preparado para uma responsabilidade como cuidar do livro, eu sou fraco mentalmente e sou jovem, a minha reação ao ver meu pai comprova isso, eu deveria ter sido mais forte e ter resistido aos meus sentimentos, mas parece que o meu amor por todos entra no caminho e estraga tudo, eu amo tudo isso, amo Emily, amo minha tutora e ainda amo meu pai e tudo isso drena meu cérebro, eu preciso, uma pessoa instável como eu não pode ser responsável por algo tão importante. Hoje mesmo vou pedir para minha tutora para achar outro guardião, vou renunciar o meu posto, eu sou muito jovem para tal responsabilidade, tenho certeza que ela vai entender, ela sempre me entendeu melhor do que ninguém, melhor até do que meus pais.

09/02/1934

Voltei a estaca zero, minha tutora não foi tão compreensiva como eu pensei que seria, ela me convenceu a continuar com a minha função, eu perguntei a ela porque deseja tanto que eu continuasse com essa função, mas ela disse que eu era forte graças aos meus sentimentos que eu gradava dentro de mim, todo esse amor alimentava meu sangue e isso é a força que eu preciso para seguir com a minha jornada, ela também disse que dentre todos os eu sou o que ela mais confia por ter me criado como seu próprio. 

Uma parte de mim está feliz por minha mestra e segunda mãe confiar em mim dessa forma, mas outra parte de mim ainda me alto sabota, acho que preciso de instruções de alguém diferente, alguém que não seja a minha tutora, acho que alguém imparcial não vai pegar tão leve igual a minha tutora e eu sei exatamente para quem posso pedir esses concelhos.  

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