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  POV CAMILA CABELLO

   Ser médica não é uma tarefa fácil, sempre temos que lidar com situações que exigem demais da nossa atenção e humanidade. É uma inconstante montanha russa, vivendo sempre na linha tênue entre o sensível e o insensível, testando minha humanidade e meu controle em dar péssimas notícias. Há anos que não me relaciono com ninguém e foco apenas na minha carreira, isso não me incomoda tanto, é suficiente por ora.

  - Doutora Cabello, comparecer à sala 107. - a voz no microfone me desperta dos devaneios e me levanto para ir no lugar solicitado. Fecho meu jaleco e coloco o óculos de grau no rosto, em seguida, já preparo meu estetoscópio no pescoço para não me atrapalhar, ser estabanada é um dos meus charmes.

  - Doutora, pelo amor de Deus, me ajude. - no corredor uma senhora por volta dos seus 50 anos me para e segura meu braço. Seu rosto vermelho denunciava que havia chorado horrores. Os enfermeiros se aproximam e acolhem seu sofrimento e quando entro no quarto encontro uma jovem ensanguentada deitada na maca.

- Relatório? - questiono a enfermeira auxiliar que se apressava em rasgar a calça da garota para facilitar na averiguação. Coloco minhas luvas e máscara e me aproximo mais do corpo.

- Tem cortes no tórax, nos braços e ela perdeu muito sangue na artéria da coxa esquerda. E levou um tiro que talvez tenha pegado de raspão na cintura.

- Ela está entrando em estado de choque. - abro as pálpebras do seu olho e sua pupila não respondia aos estímulos  - Levem ela para a sala de cirurgia agora. - os enfermeiros se apressam em empurrar a maca até a sala e eu coloco o restante da roupa necessária para iniciar a sedação.

A mulher já se encontrava sem calça porque tivemos de rasgar e estava usando apenas uma calcinha box na cor preto e sua regata branca, que também precisou ser retirada. Aplico a sedação na sua veia e deixo que a anestesista tome conta do processo.

- Seus batimentos cardíacos vão se estabilizar em um, dois, três, quatro, cinco e ... - o painel mostrava a frequência cardíaca se tornar estável e começo a limpar seus ferimentos para iniciar a cirurgia na sua coxa. - Ela foi provavelmente perfurada por uma faca. - o corte fez com que ela perdesse muito sangue e isso não é bom. Até porque ela também estava baleada.

O processo durou uma hora e meia, mas consegui retirar os fragmentos de bala do seu corpo e dar pontos em todos os seus cortes. Peço para que assim que ela acorde as enfermeiras me chamem e depois de limpar minhas mãos volto para a sala.

- Camila, sabe quem você acabou de atender? - Dinah aparece no corredor sussurrando para que mais ninguém possa ouvir. Termino de escrever as condições da paciente na prancheta e encaro a loira à minha frente.

- Ainda não, ela não fez o cadastro. Por que? - eu estava tranquila e séria esperando a resposta.

- Você acabou de salvar a vida da maior e mais temida criminosa e assassina de pedófilos dos Estados Unidos. - arregalo meus olhos assustada com a informação e Dinah sorri animada.

- Do que diabos você ri? Precisamos chamar a polícia. - pego meu celular apressada e ela puxa da minha mão.

- Você não entendeu? Todo mundo teme ela, inclusive a polícia e você foi a primeira a tocar nessa mulher. A primeira! - sinto minha visão ficar turva e me encosto na parede atrás de mim. - Não, não, nem pense em desmaiar agora... - ela me puxa pelo braço para dentro da minha sala e fecha a porta. - Se recompõe logo. - caminho até o filtro e pego um pouco de água.

- Não fiquei tonta por isso, é que eu não comi direito hoje. - ela me olha repreendendo minha fala - Eu não tive tempo, Dinah. - ela revira os olhos e pega seu celular. - E não vejo motivos para admirar essa mulher, você é doida.

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