Capítulo 5

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Eu estava no meu canto de sempre, lendo, quando o avistei no meio de outros garotos. Fingi não tê-lo visto, mas ele foi bem claro: já tinha me percebido. Danillo acenou e continuou a conversar com sua galera. Danillo estava diferente, havia cortado seu cabelo e não estava com seu skate, mas com uma bicicleta. O tempo em que ele se virou foi suficiente pra que eu me levantasse. Tentei me esconder em um local mais afastado, mas ele percebeu e foi ao meu encontro acompanhado dos garotos. Ele sozinho já me deixava completamente nervoso; na presença daqueles garotos de roupas largas e tatuagens eu ficava com o 'cu na mão'.

"É impressão minha ou você tá tentando se esconder de mim?", Ele sorriu com o canto da boca. Dias haviam se passado desde o encontro na sorveteria.

"Eu já estava indo pra casa. Hoje a praça está muito agitada, sabe?", O nervosismo era transparente e se mostrava principalmente através de minhas mãos agitadas e que suavam sem parar, de modo que eu as esfregava constantemente nos bolsos da calça.

"Nós vamos ao cinema, quer ir com a gente?".

Havia dois garotos gordos e fortes, um era mais alto. Havia outro magro e de estatura mediana, tinha tatuagens nos dois braços.

"Eu não estou muito a fim agora..."

"Se decide logo, caralho", disse um dos garotos gordos e fortes.

Danillo pediu para que ele se acalmasse. "Vamos, Kássio", me disse com um olhar pidão.

"Tá, vamos logo". Eu não sabia o que era pior: ir e ficar perto do cara que eu nem sabia o nome ou não ir e fazer o Danillo ficar também, deixando o cara bravo.

Ao chegar, nem perguntei o que iríamos ver. Disse que ia ao banheiro e fiquei matando tempo. Cheguei e Danillo estava me esperando para entrar.

Não consegui prestar atenção no filme, havia piadas com duplo sentido e cenas que eu não julgaria apropriada para assistir em família.

Danilo sentou à minha esquerda e eu era o mais à direita, bem no fim da fila. Eu queria que tudo aquilo acabasse logo e batia os dedos contra o braço da poltrona. Estava perdido em meus pensamentos quando senti dedos tocando os meus.

Olhei para o rosto de Danillo e ele deu um sorrisinho, olhei para os outros três, que estavam concentrados no filme. Puxei minha mão e Danillo a buscou. Eu disse a ele um 'Pare' apenas com o olhar e ele ficou quieto até o fim do filme.

O filme acabou e eu não queria continuar com aquele pessoal, então pedi a Danillo que fôssemos embora rápido. O agradeci por ter se oferecido para pagar a entrada, mas dessa vez eu tinha trazido minha carteira. "Bem, eu já vou", tentei me despedir um pouco distante dessa vez.

"Espera um momento, a gente poderia lanchar um pouco, vamos aguardar eles irem embora", ele disse um pouco nervoso.

"Mas tem que ser rápido, preciso chegar em casa cedo".

Em uns 5 minutos todos já tinham saído, não mencionamos lanches para evitar que algum deles ficassem.

Lanchamos rapidamente e, pouco antes de sairmos, vi Walleska chegar com um grupo de amigos.

Ela acenou de maneira debochada. Eu estava muito envergonhado de tê-la encontrado duas vezes com o Danillo e queria ir embora.

"Eu já estou indo", disse depois de novamente tomar uma distância considerável para não ser abraçado.

Ele parecia ter percebido. Mostrou uma máquina de pegar ursinhos, outra de acessórios para celular e uma de pegar doces. "Vamos tentar?", ele disse sorrindo. Vez ou outra ele olhava para a mesa de Walleska, que não ficava longe.

"Uma tentativa para cada, já está ficando tarde. Eu disse que precisava chegar cedo em casa". Ele fez que sim e fomos para a máquina.

Ele pôs a moeda, posicionou corretamente e pegou um urso. Estava dando certo, ele conseguiu levantar o bichinho, mas de repente ele caiu.

"Mais uma vez, por favorzinho?"

"Tá, mas só porque tu quase conseguiu de primeira"

Dessa vez o urso escorregou e ficou preso por muito pouco, mas saiu.

"Minha vez. Eu quero tentar pegar uma capinha".

Não cheguei nem perto, Danillo riu muito.

"Você parece nunca ter tentado".

"Duas vezes".

"Vamos tirar uma foto?", ele disse 'vamos' contando com o urso. Este era branco, uma blusinha e gorro amarelos com listras brancas, o nariz era rosa; tinha uma cara meio triste.

Ele sutilmente olhou outra vez para mesa de Walleska e tirou a foto.

"É pra ti", estendeu o urso.

"Obrigado", aceitei com um pouco de vergonha de ir para casa carregando um urso.

"Consegui!", ele disse me abraçando. Eu estava com mais vergonha ainda.

Dessa vez fui eu quem olhou para a mesa. Walleska olhava fixamente para nós, nem tentou disfarçar.

Eu tentei, discretamente, me desvencilhar de seu abraço, mas foi em vão. Danillo me abraçava forte.

"Vamos, eu já tenho que ir, não vou conseguir pegar a minha capinha".

"Nós podemos vir aqui novamente na próxima semana, assim eu te ensino como pegar coisas nessas máquinas".

"Não sei se eu posso vir aqui tão frequentemente", olhei de canto de olho e Waleska ainda nos fitava. "Vamos logo".

Eu insisti que poderia pegar um ônibus, mas Danillo me fez esperar por um carro de aplicativo e me levou em casa. Foi um barraco enorme para que ele não entrasse comigo.

"Deixa para a próxima", eu disse nervoso.

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