"É verdade que você é gay?", Danillo me perguntou de forma muito natural.
"Não! Por que tu perguntou isso?", se ele sabe, quantas outras pessoas também já sabem? Esse pensamento me fez tremer. Eu sabia que não poderia chorar ou sair correndo dali; eu confirmaria todas as suas suspeitas. "Tenho que agir friamente", pensei.
"Eu fiquei curioso, só isso". Ele estava fazendo aquilo novamente. Quando estava envergonhado, tinha o hábito de fechar um dos olhos e, com o outro semicerrado, mirar o horizonte.
"A curosidade matou o gato, sabia?".
"E como eu ainda tô vivo?".
Aparentemente suas piadas idiotas têm efeito sobre mim. Eu dei um sorrisinho, ele de soltou mais, mostrando suas covinhas na bochecha.
"Você não vai ficar com raiva por eu ter perguntado, vai?".
"Não, cara, de boa. Se aguento tuas piadas, todo resto eu posso suportar".
"Então quando tu vai assumir que é gay?".
"Nunca!".
"Eu sabia!".
"Não foi isso que eu quis dizer".
"Confessou sem querer".
Eu fiquei emburrado. Como eu caí nessa piada besta? E se ele levar a sério e contar pra alguém? Ele novamente olhou o horizonte e me perguntou se não queria ir ao cinema.
"Vamos só nós dois", ele reforçou.
"Outra vez?".
Ele se sentou mais próximo a mim e tirou sua camisa. Aparentemente um ato sem motivo, pois não estava quente, ele também não estava suado.
"Você tem piercing nos mamilos!?", Eu gritei surpreso.
"Quer pegar neles?", ele riu.
"NÃO!", Eu virei o rosto.
"A verdade é que eu sou sim, mas não precisa sair espalhando... ainda tô me acostumando com essas coisas, só queria saber quem te contou".
"Bem... a garota com quem nos encontramos no outro dia depois do cinema. A Walleska".
"Mas ela te contou ou tu perguntou? seja mais específico".
"Ontem eu a encontrei na sorveteria do teu irmão e ela me chamou para sentar com ela, perguntou por que estávamos sempre juntos e se eu sabia se tu era gay. Eu fiquei surpreso, mas disfarcei bem... disse que não me importava e depois me despedi".
"Uma canalha. Já imaginava que ela não fosse boa pessoa, mas não imaginei que o ódio era tão profundo".
"Cara, deixa isso pra lá", ele disse suspirando bem forte em seguida. "Sabe, e se ao invés de irmos cinema nós formos a minha casa?", um momento e, "lá tem livros".
Seu olhar penetrou os meus olhos e sua presa esquerda perfurou o lábio inferior. Não é possível que isso seja uma cantada.
"Humm, ok. Eu estou desconfiado, mas vou aceitar".
"Antes dos livros eu quero assistir um filme com você", Ele olhou para baixo e sorriu. "Não é nada imoral. Já assisti com minha mãe. Pode ficar tranquilo. Não estaremos sozinhos".
"Tá, mas não hoje. Ainda tenho que pensar em algumas coisas"
Nos despedimos, eu andei uns 10 minutos até a casa de Léo. Bati à porta.
"Ah, é você", disse Walleska com um sorrisinho fingido, "entre, ele já vem".
Walleska gritou por Leonardo duas vezes e ele veio.
"Achei que tivesse esquecido o caminho de minha casa, Walleska disse que você tem saído bastante com um cara.
"É... parece que estão sabendo mais de mim do que eu mesmo...".
Walleska parecia concentrada no DVD de uma novela ruim, mas eu preferiria que ela não estivesse ali. Chamei Léo até a cozinha e disse que precisava falar com ele sobre um assunto sério.
"Já sei o que fazer pra ela sair, ela já assistiu muita novela hoje", ele foi ao quarto e pegou seu PS2, levou à sala e disse a ela que queria jogar.
Ela não parecia ter gostado da notícia e disse que voltaria mais tarde para continuar assistindo.
Léo colocou Budokai Tenkaichi 3, o que jogávamos quase sempre. Foi buscar dois copos de achocolatado e nos sentamos. Escolhemos os personagens e ele deu play.
"Então sobre o que tu queria conversar, era sério mesmo?"
"Bem, lembra quando eu te disse que achava que era gay no final do ano passado? Eu só lembro de ter contado para ti. De algum modo Walleska ficou sabendo e contou para o Danillo e talvez para mais alguém".
"Então era pra isso que ela queria saber? Ela parecia ter a intenção de ajudar. Ela perguntou e eu disse".
"Eu não considero um problema tão grande que ela fale, mas tu sabe das agressões que eu posso sofrer. E ela não tá ajudando em nada, ela nem sequer falou comigo".
"Ela não deve ter feito por mal, vou falar com ela depois".
Eu já não conseguia segurar minhas lágrimas.
"Mas ela estava falando na sorveteria em que meu irmão trabalha, logo meus pais vão ficar sabendo, a escola toda vai ficar sabendo. Eu só tenho 13 anos e não posso dar conta de tudo isso sozinho", eu pausei o jogo e ele ainda não olhava para mim.
Em meio a lágrimas a porta abriu.
"Minha bolsa ficou aqui... o que tá acontecendo? É só por causa de um jogo?".
Eu não conseguia dizer nada.
"Ele disse que é porque tu tá espalhando que ele é gay", Léo disse sem a menor discrição. E eu dei-lhe um empurrão. "Ué, não é isso?".
"É... mas não precisa ficar falando alto".
"Walleska... se não era pra ajudar o Kássio, por que motivo tu queria saber se ele era gay?".
"Querem a verdade? Pois vou dizer. Eu percebi que o Kássio olhava muito para você e fiquei com ciúmes. Eu soube que ele já gostou de você e meio que peguei uma raivinha desde que começamos a namorar".
"Mas você sabe que isso já passou", eu disse, "Nunca tivemos nada e eu nunca tentei porque sei que ele não é gay".
Ela olhou para os pés e começou a esfregar as mãos em seu short, eu poderia acreditar que ela estava nervosa e queria não ter feito o que fez.
"Então me desculpe, é que eu sempre sinto como se você fosse toma-lo de mim. Não sei se posso gostar de você, mas ao menos vou tentar não fazer nada de ruim. Me desculpe... de verdade."
Ela pegou sua bolsa e saiu.
"Eu... eu acho que vou pra casa", eu continuava chorando. Léo passou a mão em meus cabelos e me abraçou.
"Se precisar de alguma coisa, liga para cá e eu vou até a tua casa".
Eu estava saindo quando Leonardo pegou uma camisa e disse que me levaria em casa.
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Going Under
RomanceKássio é um garoto louco por livros, estava no 1º ano do ensino médio e tinha 15 anos quando teve sua vida marcada pela morte de seu pai e por um namoro que deu errado. Ainda na mesma escola e passados dois anos, seu maior pesadelo volta a assombrá...