Capítulo 1

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Arco 1

Não houve comunicado, carta, luz ou voz divina, muito menos anel, vestido de noiva ou o comparecimento de familiares (do lado dela pelo menos), aconteceu repentinamente de que uma divindade grega, aparentemente Himeneu, Deus da União Matrimonial e filho de Apolo, dar-lhes sua bênção e desaparecer na mesma maneira que havia inicialmente surgido; do nada para o nada. Porém para Maria Antonieta, que lidava com a ideia de que estava casando-se, e, além do mais, divindades realmente existirem (incluídas aquelas que a sociedade consolidadamente cristã, e/ou católica, categorizou como mitológicas) e não eram mais apenas uma maneira que a humanidade encontrou de não lidar com a realidade podre que viviam. Ela tentou prestar atenção, mas depois de ser arrastada para o altar e forçada a ajoelhar-se em frente aos estranhos, sua mente sobressaiu e não retornou até muito mais tarde.

Céus, aquilo era ridículo. Totalmente ridículo!

Maria Antonieta queria acreditar que era uma piada, uma piada muito ruim por sinal, mas, ainda assim, uma piada que terminaria com várias câmeras aparecendo e seus familiares rindo de sua cara de choro. Porque nada daquilo poderia ser real. Não poderia estar acontecendo. Aqueles homens não deveriam estar perto de si, tocando-a, olhando-a como se não passasse de mais um obstáculo, incômodo, um rato imundo.

Ela queria voltar a sua casa, voltar para os braços de sua mãe e chorar, chorar até não aguentar mais, até não haver mais lágrimas para derramar. Mas não havia como voltar a sua vida humana pelo que o senhor com aparência velha caindo aos pedaços e olhar de um predador sexual lhe contou — e talvez nunca mais pudesse retornar a terra…

Porra, isso parece tão surreal!

Mencionar onde vivia com tanta normalidade depois de ser LITERALMENTE abduzida por uma luz arco-íris para um casamento era loucura!

Não houve explicação quando ela viu-se naquele palácio — porra, ela nem sabia se era um palácio! Apenas parecia o mais próximo da arquitetura grega/romana que conhecia! — rodeada de pessoas que nunca em toda sua vida teve a chance de conhecer e muito menos um momento para absorver a revelação imediata a sua chegada de que estava na presença de divindades.

Pelo que pensava ser divindades menores, Maria Antonieta foi obrigada a ajoelhar-se com a testa sobre o chão de concreto para mostrar respeito enquanto ouvia calada tudo que falavam a seu respeito, desde reclamações sobre sua etnia e raça até mesmo sobre sua aparência, formato de seu corpo e a melanina presente em sua pele. Eram tantos absurdos, tantos comentários que em vida ouviu pelo menos uma vez e em morte, onde pensou não ter o desprazer de ouvir novamente, tornou a ouvir. Eles a mencionaram como se estivessem falando de um produto defeituoso, como um brinquedo inútil que de perto parecia ainda mais inútil. Ela não queria escutá-los, não queria estar ali, mas a mão sobre sua cabeça a forçava permanecer ali, sua testa sangrava sobre as minúsculas pedrinhas no chão.

Maria Antonieta então fez naquele momento o que desde a infância fazia: deixou de ouvi-los, esqueceu-se do mundo a fora. Em vida — insistirá até alguém dizer-lhe o contrário de que havia realmente morrido — sua maior preocupação era não perder-se em pensamentos, as pessoas não gostavam quando não as ouvia, mas pela primeira vez  não importou-se e continuou a lembrar-se de sua mãe, de seu pai, seus irmãos mais velhos, sua irmã mais nova, de seus avós, de seus bisavós, de seus tios, de seus sobrinhos e de seus alunos do primário em que infelizmente não poderia dar-lhes as últimas aulas daquele ano letivo.

Oh, sim, ela lembrou de sua última aula! Foi divertido, pois recebeu cartas e desenhos de seus alunos junto a uma dança especial, sessões de abraços e cantoria! Eles eram tão fofos e até mesmo disseram-lhe que amava-a! Ela queria nunca esquecê-los! Nunca esquecer do momento em que seus olhinhos brilhavam como explosões de supernovas! E seus sorrisos! Oh, sim! Eles sorriam como se ela fosse seu mundo! Seu coração doía apenas pensando em como eles iriam receber a notícia de seu desaparecimento… Mesmo não gostando nenhum pouco de mentiras, Maria Antonieta esperava que seus superiores da escola e sua família mentissem sobre seu desaparecimento (talvez morte) dizendo-os sobre ter mudado de escola, feito uma viagem para outro estado ou país ou apenas desistido de ser professora (ninguém iria desconfiar de que ela desistiu de mais uma coisa, Maria Antonieta era experimente em desistir aos olhos de todos que conhecia).

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