Latidos

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Eu me recordo daquela noite, quando eu estava morando no campo, cerca de um ano atrás.

Acordei, olhando meu celular pra verificar as horas, quando vi que era quase 2:30 da madrugada. Não me lembro do que me fez acordar. De toda forma, decidi descer até a cozinha pra beber alguma coisa. Minha cozinha tem uma porta nos fundos que dá pro jardim e esta era a única fonte de luz, já que não acendi nenhuma luz (minha intenção era ir pra cozinha rápido e voltar logo pra cama). Percebo algo arranhando a porta, bastante ofegante.

Deixo meu copo cair e fico lá, paralisado de medo. Os arranhões ficaram mais intensos e a respiração ofegante parou para dar lugar à um latido. Era um latido desesperado, quase como que implorando pra que eu deixasse entrar. Os latidos acompanhavam aquele gemidinho que todo cachorro doméstico faz quando está com fome. Os latidos então pararam, por uns dois minutos.

Eu não podia fazer nada, eu estava parado, congelado e rodeado de cacos de vidro. Então ele começou a empurrar e debater. Ele estava desesperado, tentando entrar na casa. As batidas eram violentas e acompanhadas de barulhos como os de uma fera sedenta por sangue.

Eu sequer podia comparar tais barulhos com nada do que eu sequer ouvi na vida. A única descrição que consigo fazer é que, seja o que for, era o próprio mal. Eu ouvi o mal encarnado e sedento por sangue. Não era meu cachorro...

Meu cachorro morreu ha três anos atras...

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