Amor et Scelus (SASUSAKU x MÁFIA)

Domus Memoriae

CAPÍTULO 1 –

A mansão se erguia perante ele, como um cenário de seus piores pesadelos, com sua fachada alaranjada e fantasmagórica, contrastando de forma estranha com as venezianas azuis de gosto duvidoso. As estátuas grotescas, vigiando os portões, eram a única coisa que não chocava em toda essa cena desoladora, iluminadas pelo sol.

Sasuke Uchiha tinha suas últimas lembranças daquele lugar em meio a uma chuva fria, com roupas esfarrapadas grudadas em sua pele enquanto ele se escondia nas moitas fora dos portões. Parte dele rezava para não ser descoberto, mas, ao mesmo tempo, esperava que se o encontrassem, aquilo significaria o fim de todo o sofrimento, fome e dor angustiante da rejeição que o atormentava dia e noite aos seus treze anos de idade.

Naquele tempo, ele até agradeceu pelas surras que seu salvador recebeu por ousar levá-lo de volta àquele lugar, pois assim teria uma chance de ser acolhido novamente. Porém, o destino decidiu de forma diferente. Tremendo de frio e quase inconsciente, Sasuke se escondeu nos arbustos até que a constante fome o obrigasse a se mover.

Agora, de volta ao presente, Sasuke encarava as lanças nas mãos das estátuas, lembrando-se do modo como seu pai gabava-se de que elas eram feitas de ouro puro. Aquele homem que o havia chamado de bastardo inútil, cara a cara, antes de mandar seu empregado expulsá-lo e garantir que nunca mais voltasse.

Ele não se importava nem um pouco com a vida ou morte dos filhos das prostitutas com quem ele trepava nos becos da Sicília.Tudo o que importava para Fugaku Uchiha, o chefe da principal família de criminosos, era não ver o rosto daquele menino novamente.

Mas Sasuke pensava diferente... Ele se recusava a chamá-lo de pai. Aquele homem não merecia esse título. Apertando a barra de direção de sua Ferrari, ele refletia pela milionésima vez sobre o motivo de ter se dado ao trabalho de voltar àquele lugar.

Por que a carta que o deixou furioso e que ele rasgou em pedacinhos logo após ler, o compeliram a retornar após o juramento que fizera a si mesmo vinte anos antes. Olhou para o muro externo da propriedade do falecido Fugaku Uchiha, que se elevava para o céu, vendo os arbustos que lembrava tão bem, os ramos folhosos espalhados como se oferecessem uma falsa proteção.

Por um momento insano, Sasuke lutou contra a urgência de descer do carro e arrancar aquele arbusto do solo com as mãos nuas, destruindo cada folha e galho até reduzi-lo a pó. Com os maxilares cerrados, ele baixou o vidro e digitou o código dos portões, que, ironicamente, ainda estava gravado em sua memória.

Enquanto os portões rangiam ao se abrir, ele se perguntou novamente por que estava fazendo aquilo. E se a carta mencionasse outra coisa? O que aquele homem que o rejeitou tão cruelmente teria a lhe oferecer depois de morto, se durante a vida se recusou a dar qualquer tipo de afeto ou reconhecimento? Ele voltava ali movido pela necessidade de encontrar respostas.

Precisava saber se o sangue que corria em suas veias teria o poder sufocante de virar sua vida de cabeça para baixo quando menos esperasse. Perguntou-se se as duas vezes na vida em que perdera o controle a ponto de não reconhecer a si mesmo voltariam a acontecer.

Ninguém além de Sasuke se arrependia dos quatro anos que perdera após aquela noite amarga quando estivera ali pela última vez, procurando ser aceito de qualquer maneira. Mais do que o ódio que sentia pelo homem que lhe dera a vida, odiava os anos que perdera tentando encontrar um substituto para Fugaku Uchiha. Fechar seu coração aos 17 anos fora a melhor coisa que fizera na vida.

Então, por que está aqui? Você não se parece em nada com ele, o pensamento gritou. Porém, precisava ter certeza. Fugaku podia estar morto, mas Sasuke necessitava examinar o legado dos Uchiha. Garantir a si mesmo que o garotinho perdido que pensara que seu mundo acabaria devido a outra rejeição fora completamente esquecido.