capítulo 06

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Silêncio tão intenso que quando ela tomava fôlego dava pra ouvir o tique-taque do relógio da sala.
-eu quero saber quem foi.Porque isto aqui...-chacoalhava o barro como se fosse outra coisa nojenta em sua mão -nunca aconteceu nesta escola. nunca! é uma falta de educação,um ...-esqueceu até a palavra.Alex imaginou a hora em que a mulher ia enfiar a bola de barro pela garganta de um deles . Não deixaria de ser engraçado.
-mas é vou descobrir. Nem que vocês fiquem amanhã inteira aqui, na minha frente, eu vou descobrir.
Olhou de um em um:
-Ivan?
-não fui eu, não senhora.
-então quem foi, hem? quem foi?
Ele ficou quieto.Os garotos nem tentavam se olhar, com medo de se acusarem sem querer.Mas Alex percebia, pela respiração forte do colega, que Roberto devia estar chorando.E Roberto não tinha nada com aquilo.Nem ele, nem Tadeu, nem Ivan...Nem mesmo Filipe.Podia odiar o Filipe, mas desta vez ele nada tinha com o caso.
-pois bem- a diretora largou o barro na mesa, esfregou as mãos. -vocês não querem responder . Então eu vou suspender a classe inteira.
Antes que a mulher desse as costas para eles, Alex resolveu falar:
-não foi de propósito, dona Marta - começou dizendo . Não ia acusar Guilherme; apenas achava que os quatro, sim, podiam até levar uma dura.Envolver os outros é que não era justo.
-como você disse?-a diretora se aproximou dele.
Mas Alex não pode explicar nada . Guilherme se adiantou, deu um passo em direção à mulher, apontou o colega.
-dona Marta, foi o Alexandre, eu vi.
-o quê?
-o Alexandre.
Alex sentiu que o suor estava ficando gelado . Não conseguia enxergar o rosto do outro direito, via as coisas se embaralhando, como se de repente o coração fosse escapar pela garganta. Guilherme. Mas que filho da ...
-não fui eu, dona Marta - respondeu, depois da diretora perguntar três vezes se era ele o culpado.
-ah, não foi? Então quem me atirou o barro? caiu do céu? agora chove barro nas costas da diretora?
-não foi de propósito.
-nisso eu posso até...Quem sabe?...acreditar.Quem sabe...
A mulher devia ter ódio dele, Alex pensou.Todo mundo ali tinha ódio dele.
-mas eu não acredito. Não foi você que brigou com um colega, ontem? que já respondeu pra professora, que não faz lição?
-não fui eu.
-agora cale a boca, ouviu? porque mais uma palavra...-ela respirou fundo.Os olhos cinzentos brilhavam.-quem estava com você?
De novo o silêncio de ouvir tique-taque e mosquito voando pela sala.
Alex não respondeu . Não ia chorar.Isso nunca.Ia arrebentar o nariz do Guilherme. Ia levar bronca, castigo.Mas não chorar.
-não vai dizer? está bem.O resto está dispensado . Você fica.Vou preparar a suspensão. Uma semana.
Alexandre ouviu muito pouco daquilo que dona Marta falou . Algumas palavras, porém, ficaram marcadas como se só elas existissem.Mal-educado.Moleque.Pensava que ali era o quê, escola de marginal?Hombridade.Alex tinha onze anos.E ódio de Guilherme.

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