capítulo 03

84 3 0
                                    

-seu Alberto no telefone - chamou Diná, a empregada.Alex largou o caderno na, foi ver o que o pai queria.
-Alexandre, tudo bem? como foi na escola?
Disse que tudo bem.O pai queria saber como estava com os colegas, se não tinha tido nenhum problema...Alex de novo mentiu que sim, que tinha um monte de amigos.Que ninguém ria porque ele falava com sotaque caipira.
-e a lição, já fez?
Já, já havia feito a lição. Tudo ótimo. O pai mandou um beijo, disse que dali a dois dias voltava.Uma viagem rápida, negócios...Disse que mais à noite ligava pra mãe, sabe como é. Os horários. A mãe ia chegar tarde? Então tudo bem, ligava no outro dia.Alex compreendia.
Alex tinha de compreender. Tinha de compreender que eles precisavam ficar ricos.Antes de desligar o telefone mentiu pela última vez que estava com saudade.Mas não era saudade; pelo menos, não a saudade de seus pais naquela vida que eles levavam agora.Era a saudade de antes.De quando ainda morava no Interior e o pai tinha apenas uma loja.A mãe ficava em casa.Os negócios não precisavam crescer, crescer tanto.
Pergunta: o que você mais quer ser na vida?
Alex poderia responder:Ser feliz?

-tó.Assim você para de encher.
-legal, Alex.Estou louca pra saber o que você respondeu.
Bete começou a folhear as páginas, um sorriso cheio de mistério e de aparelho nos dentes.
-cada pergunta besta que você foi arrumar, hem? Pra que você quer saber disso tudo?
-não sou só eu que quero saber.Todo mundo fica se conhecendo mais...ou você não leu as respostas?
Claro que tinha lido.Tinha até dado risada do Guilherme, respondendo sobre a comida que mais odiava: prato vazio. Tinha também achado legal a resposta do Vítor sobre o que pensa das meninas da classe? tão bobas como esta pergunta!
-ler, eu li.Mas o pessoal só responde abobrinha.
Dona Ruth chegou, eles pararam de conversar. A professora começou a chamada.Bete abriu disfarçado o caderno e leu as respostas de Alex durante quase toda a aula de matemática. Dava umas risadinhas. Alexandre começou a suar.Ia fazer papel de palhaço, e para uma menina? o que era tão engraçado? o cabelo marrom da Bete se movia rápido, maravilhosamente adequado para um puxão.
Foi dona Ruth sair e a Bete estapeou o rosto de Alex com o cabelo, louca pra fazer perguntas:
-quer dizer que você não gosta de cachorro?
-não.
-por quê?
-porque eu não gosto.
-não conheço ninguém que não goste de cachorro.
-e eu não conheço ninguém que fale tanto como você.
-mais por quê, Alex?
Ela parecia não ter entendido. Alex apenas queria ficar em paz.
-Deus do céu! não basta responder a essa droga, ficar livre de você...ainda tem de falar, falar, falar...
Ela riu, com o aparelho nos dentes.
-sabe de uma coisa? duvido que você tenha dado Beijo em um monte de menina.
O rosto dele ficou vermelho.
-e por que não?
-fala quem.
-você não conhece o calor do rosto espalhou pra debaixo do braço, pra testa e ficou brilhando no suor debaixo do nariz.
-não faz mal.Diz quem foi.
-não falo e pronto.
-tá vendo? Você mentiu!
-não menti e não enche, não enche!

Primeiro beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora