capítulo 8

53 2 0
                                    

O negócio ficou feio . Naquele dia, pai e mãe às seis da tarde em casa.Os dois, surpresos pelos telefonemas, faziam, eles também, longos telefonemas que viravam cochichos quando Alex se aproximava.Os dois sentados no sofá, Alexandre mais adiante, de pé .Os dois sentíam- se ma-go-a-dos, como disse o pai, em voz baixa e jeito solene.Nem olhou nos olhos do filho . Nenhuma vez.
-um colégio tão bom! nunca pensei.Meu filho expulso do colégio! -Alberto mordia o lábio inferior, passava lentamente os dedos pelos poucos cabelos que lhe restavam na testa.
- oh, Alex!-era a terceira vez que a mãe de Alex dizia "oh Alex! e não completava a frase.
Silêncio e penumbra, apenas o motor do aquário fazia um zumbido discreto.Alexandre, de cabeça baixa.Adiantava explicar? ele bem que tentou.Tentou falar que a culpa era do Guilherme. Mas não quiseram saber:"Guilherme não precisou até ir para o hospital? ", havia dito a mãe, com espanto.Como se o fato de ir para o hospital já mostrasse que o outro é que estava com a razão.
-amanhã vou falar com dona Marta.Quem sabe?-o pai falou para a esposa.
-explique que o menino tem pouco tempo de São Paulo...É uma criança.
-criança! dois meses de escola e conhece mais a Diretora do que a classe.
-é só uma fase.
-uma fase...Vamos ver.Quem sabe um psicólogo, não é mesmo? a sua prima deu o endereço daquele conhecido dela?
-deu.Mas será psicólogo, Alberto, não é muito apressado? quem sabe ele...
Os dois falavam sobre Alexandre, mas não com ele.O garoto continuo calado e de pé.Ouvia os pais do mesmo jeito com que ouvirá a diretora, como se realmente eles estivessem falando de outra pessoa, alguém que não fosse ele, porque o que Alex queria mesmo, com uma força que até machucava dentro de sua cabeça, era gritar.Gritar que odiava a escola, a cidade. Por que não perguntavam pra ele , Alexandre, o que queria da vida, por que tinha ficado tão magoado, o que tinha acontecido de verdade? por que ele, Alexandre, já tinha sido julgado, era criminoso e bandido, sem que o ouvissem?
Mas o pai preferiu apenas olhar para Alex e suspirar. Moveu devagar a cabeça. -bem , Alexandre ...Vamos ver se a gente consegue consertar a bobagem que você fez.Expulso da escola.Ah, que tristeza você vai dar para sua avó!
-já telefonou para ela, Alberto?
O garoto se afastou.Sentiam os olhos secos, estranhamente secos, numa hora dolorida como aquela.Sabia que os pais iriam continuar com aquela conversa em voz baixa, como se estivesse no velório de alguém, como se esse alguém precisasse de psicólogo, de bronca, de castigos. E talvez ele apenas precisasse ser ouvido.Apenas conversar com alguém.

Primeiro beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora