01 | Tique-Taque.

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   Todos esperam que eu sinta algo. Esperam que eu sinta dor, remorso, arrependimento, tristeza ou culpa desde o dia que me trancaram nesse hospício. Mas eu não sinto nada, sinto apenas a sede de vingança que eu dia retornará para eles.

Eu não sou louco, eu sou cruel. Sei de cada crime que cometo e me responsabilizo por isso. Não podem colocar culpa na loucura ou em doenças mentais, eu estou perfeitamente bem. Apenas gosto de brincar com a vida das pessoas como se fosse um jogo.

Ou melhor, a vida é um jogo, e eu não vou ser o primeiro a perder.

Todas as noites, eu escuto gritos no silêncio na calada da noite, dos pacientes buscando perdão por seus pecados. Eu escuto seus pedidos, aclamações, esperando que um dia, elas voltaram a ver o sol de novo. Mas não vão, não há esperança para aqueles que já entregaram suas vidas à loucura.

O circo sempre fecha, afinal de contas. E todos os palhacinhos serão mandados embora no fim do dia, sem seus sorrisos alegres e sem suas maquiagens ridículas.

Nos circos, nunca existe a verdadeira felicidade. São apenas atrações vazias, pessoas vazias, que fazem suas palhaçadas para alguém com mais felicidade rir.

No circo, quem mais chora sempre é o palhaço. E no meu caso, no meu circo, quem mais chora é a Lotte.

Para uma psicóloga ou uma psiquiatra, que deveria saber a fórmula da felicidade, ela mesmo sabe o que é isso. Mas eu sei, e eu vou mostrar para ela com todo prazer do mundo.

Eu só preciso mostrar a ela como é ser feliz de verdade.

Eu observo seu peito subir e descer, num sono calmo e profundo quando ela está acomodada em sua cama grande, coberta por edredons quentinhos. Ela parece tranquila agora. Parece anjo. Meu doce e bonito anjo.

Não foi difícil invadir sua casa.

Mas há uma pessoa ao seu lado. Um homem alto, com um ronco alto e cabelos cumpridos que jogam pelo travesseiro. A raiva sobre pelo meu peito só de o observar de longe.

Eu olho para o relógio de prata dentro do meu bolso largo, com um desenho de morango enferrujado desenhado no fundo. Era da minha irmã, e quando eu a matei, achei que deveria ficar com ele. Eu pego o do meu bolso e escuto seu barulho.

Tique taque, tique taque, tique taque, tique taque...

Um lembrete que o tempo corre.

Eu pego a seringa no meu bolso, e quando olho para o líquido dentro dela, consigo sorrir. Eu me inclino silenciosamente, e quando estou próximo do seu pescoço branco e macio, eu enfio a agulha dentro dela e despejo o líquido transparente dentro dela.

Nenhum movimento.

Um suspiro escapa do meu nariz, contente. Agora, eu tenho toda a liberdade do mundo.

Eu retiro a faca do meu cinto, e vou para o outro lado da cama. O corpo masculino ronca, babando do travesseiro. Ele é seu namorado e ela não me contou isso. Talvez por medo, talvez por ter vergonha de namorar um homem como ele.

Descobri sozinho quando vi a aliança em seu dedo. A fúria exata que senti naquele momento foi enorme. Nunca senti aquilo antes, foi sufocante, foi alucinador. Meu peito doeu, e em mil pedaços eu senti ele se esvaziar dentro de mim. Tiveram que me dopar, fiquei apagado por dois dias com medicamentos fortes o bastante para apagar um leão.

Hoje, depois de duas noites apagados, achei que deveria fazer uma visitinha para a minha doce Lotte. A palhacinha merecia ver seu circo pegar fogo bem de perto.

CHARLOTTE ROSS | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora