02 | Monstros.

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O circo só começa
quando o palhaço sorri em felicidade
Por isso meu circo nunca abria.















































Pais podem ser monstros.

Aprendi isso cedo demais. Observei minhas amigas recebendo todo amor e carinho, enquanto eu observava meus pais brigando na sala de tv. Parecia que tudo sempre dava certo para elas. Parecia que elas eram as princesas dos contos de fadas, e eu, a bastarda.

A negada.

A odiada.

A excluída.

O erro.

Sempre foi assim.

Mesmo tendo uma irmã, sempre foi assim. Tudo solitário, vazio, quieto. Minha vida sempre foi um caos. Tudo sempre esteve em desordem, bagunçado. Eu queria consertar aquilo. Na minha cabeça, eu nasci para consertar a vida dos meus pais.

Na realidade, eu nasci para ser amada. Não para ser o problema.

Parece que eles não se tocaram disso até hoje.

- Sinto muito pela morte de John, querida. - Sua mão magra acaricia meu cabelo, com uma falsa ternura em sua voz, assim como seus olhos que parassem mais suaves agora. Quase paraliso quando percebo que ela está me tocando.

É raro.

Seus olhos são verdes, olhos que eu sempre quis ter quando era criança, e que infelizmente não herdei. Tinha um sorriso simples, porém falso. Cabelos loiros curtos, corpo magro, porém digno de passarela.

Minha mãe, Anne, era a mulher de se admirar de aparência. Porém por dentro, ela era podre.

- Obrigada, mãe.

Era incrível pensar que meu namorado teve que ser assassinado para eu poder receber palavras bondosas de seus lábios. Era difícil saber que meu namorado havia sido morto por ele enquanto eu dormia pacificamente ao seu lado.

Ele era um monstro. Um palhaço. Um psicopata emocionado.

Mas também... Ele era ele. Pouco sei de sua infância. Pouco sei sobre seu respeito, mas algo dentro dele chama por mim. Sinto ele chamando de longe. Sinto suas vibrações, a excitação que sinto quando fico perto dele, quando sinto seu cheiro...

Ele é tão confuso.

É errado demais pensar nele quando meu namorado acabou de morrer.

Eu balanço minha cabeça para afastar esse pensamento. Minha mão acaricia meu rosto novamente, e eu mal me movo do lugar.

Ela nunca era carinhosa comigo, mas estava sendo agora. Então eu aproveitava esses momentos e conseguia esquecer tudo de ruim que ela já fez para mim.

Era incrível como eu podia esquecer um passado todo de dores quando recebia o mínimo de carinho.

- Seu pai e eu pensamos em ir ao circo essa noite, já que eles estão na cidade... O que acha de ir conosco? - Sua pergunta é inocente quando sua mão desce para meu ombro.

Meus olhos chegam a brilhar.

A parte mais memorável da minha infância foi nos circos. Eu sonhava em trabalhar ali. Adorava ver as luzes piscando, adorava enxergar os sorrisos deles, a energia que aquele local tinha... Tudo era perfeito ao meus olhos de criança. Eu só conseguia sorrir quando olhava para os palhaços e via suas apresentações.

CHARLOTTE ROSS | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora