4-Calmantes

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-Felix! Vêm cá! Vamos tirar uma foto!

O homem sorriu-lhe, baixando o telemóvel enquanto esperava o loiro aproximar-se de si para eternizar aquele momento.

-Sempre quiseste vir à Noruega. Quando chegar a casa vou mandar imprimir a foto e emoldurá-la para a pendurar no corredor.

Felix esboçou um sorriso deixando o ar sair-lhe pelos lábios, criando uma nuvem esbranquiçada à sua frente.

O homem riu-se, beijando-lhe o topo da cabeça, puxou-o para mais perto do seu corpo pela cintura e enquadradou-o no ecrã.

-Sorri! -falou de dentes já mostrados para a fotografia.

Felix gargalhou, inclinou a cabeça e esperou o barulho da camêra acionar, voltando logo de seguida ao seu estado de espírito normal: alegre.

-Ficou ótima! -elogiou suscitando a curiosidade do loiro que se juntou ao outro outra vez para ver a foto.

-Meu Deus! -sussurrou.

A foto dos dois apanhava a bela paisagem, os sorrisos feitos na medida perfeita, o que desesperou Felix foi a roupa que tinha vestida na foto.

Uma camisa branca aberta até meio do seu peito expunha a sua pele branca marcada de pequenas manchas vermelhas. Uma gravata de padrão vermelho e verde estava laça à volta do pescoço acompanhado por uma gargantilha de veludo vermelha que tinha o toque de um pingente em forma de círculo pendurado.

Não vestia nada daquilo, estava completamente encasacado, não sabia como aquilo tinha acontecido, era impossível tal coisa...

As palavras fugiam-lhe e sentia o ar mais pesado do que já estava.

Só usara aquela roupa uma vez na vida, numa noite com Hyunjin.

Reconheceria aquilo em qualquer lado porque tinha sido o mais velho a trajá-lo, a camisa era dele e mais tarde Felix tinha usado a gravata para atar umas certas mãos.

-Uma foto para eternizar um dos momentos em que me meteste os cornos. É das melhores que já tirámos!

-Timóteo... -não sabia explicar-se, desesperado recuou dois passos.

-Deve ter fudido-te bem, pelas marcas que te deixou. -guardou o telemóvel, aproximou-se. -Até após de me meteres os cornos não te bastou a vingança e tiveste que me matar.

Não sabia o que dizer só recuava tentando não bater contra alguém atrás de si.

-Diz alguma coisa, Felix! Estás feliz agora que me mataste? Já não tens dívidas e tiraste a pedra do sapato do teu amante. É isso?! Agora vais fodê-lo sem parar enquando deixaste o meu corpo estendido no chão da cozinha?

>Fala Felix! Seu filho da puta!

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O ar preencheu-lhe os pulmões numa golfada, acordando sobressaltado.

Suava de frio e tremia de desespero, os lábios deixando mais ar entrar-lhe no corpo.

Era ele, sempre ele. Podia ter partido fisicamente, mas mentalmente permanecia presente como sempre.

Fixou um ponto na parede e tentou branquear a mente contando as respirações que fazia calmamente mesmo com o corpo pedindo-lhe um bocadinho de desregulação.

Vendo que não funcionava a sua técnica, voltando sempre aquele pesadelo, desistiu e decidiu ir à cozinha para ir tomar mais um ou dois calmantes, quando chegasse lá iria decidir a quantidade melhor.

Não acendeu quaisquer luzes, não queria soubessem que andava desperto na casa a estas horas da noite.

Desceu as escadas para o rés de chão e viu uma luz pouco forte a vir da cozinha, ponderou seriamente em se devia sempre ir para o espaço, estava com pouca vontade para conviver, mas acabou por ceder às migalhas de vontade que o seu corpo manifestava em contrário: ter a presença de alguém ao seu lado.

Entrou na cozinha e encontrou umas costas vestidas com uma camisa branca sentado no banco onde BangChan estivera sentado durante a conversa daquela tarde.

Na pedra da ilha pousava um telemóvel desbloqueado que iluminava um pouco o espaço, ao lado estava uma garrafa de vinho aberta vazia e outra que ia a meio.

Era o Hyunjin, reconheceria aqueles ombros largos e delineados em qualquer lado.

Reconheceria-lo em qualquer lado, qualquer parte do seu corpo, algo que irritava um bocado o loiro, conhecê-lo tão bem... pelo menos fisicamente.

Os sons dos seus passos e movimentos despertaram Hyunjin que mexeu no telemóvel rapidamente deixando-o ainda ligado em cima da bancada, depois virou-se para trás.

-Precisas de algo? -perguntou demasiado rápido.

Não disse nada, pegou na garrafa de água, nos comprimidos e foi em direção ao mais velho.

-Quando é que tomaste os últimos? -Hyunjin questionou por mera precaução.

Não obteve resposta, só um fechar de cara seguido de um desvio de olhar.

-Felix, só podes tomar isto no mínimo de 8 em 8 horas! Estás louco em tomar isto seguido! -puxou-lhe o potinho das mãos afastando-o.

O loiro seguiu o movimento, precisava dos calmantes mais do que nunca, só eles cortavam a transmissão da mente com a realidade de merda que estava a enfrentar.

-Porque é que estás a beber? -Felix apontou o dedo pasmando Hyunjin que julgava não ir ouvir a sua voz tão cedo.

Afroxou a sua raiva, mas mesmo assim agarrou-se em parte a ela, falava só para ter aquele merdinha de volta o que era bom, mas na origem profunda era mau.

-Não mudes de tópico, Felix. -suspirou descaindo os ombros.

Puxou o banco e sentou-se de frente para Hyunjin, olhou-lhe à espera que talvez desse os calmantes de volta, mas nem por isso foi o que se sucedeu.

Sem oscilar esticou a mão para a garrafa com meio vinho e encaminhou aos lábios, mas nem uma gota derramou com um novo puxar brusco do objeto por parte do Hyunjin.

O mais velho virou o resto do liquido para a sua boca todo de uma vez, fuzilando Felix com o olhar depois.

-Não podes beber quando tomaste calmantes e mesmo se pudesses não te deixava derramar nem uma gota de álcool para o teu sangue.

Levantou-se e foi em direção ao lava loiças, abriu o pote e virou os comprimidos para a pia, tirou o filtro do ralo e com a água empurrou tudo até ao cano, no fim colocou tudo no sitio, colocando o pote para o lixo.

Felix observava com cólera toda a cena, já Hyunjin também estava longe de estar agrado com a situação, estava a ser demasiado frio com o loiro, mas era da sua vida e de uma possível pendência pelos comprimidos que estavam em causa.

Parecia-lhe que mesmo se tentasse falar com Felix acabaria por não mudar nada, ele iria concordar e nas suas costas faria o pior, as rédeas tinham que ser tomadas.

-Um dia hás de me agradecer, Felix...

Um dia...

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