Vestido roxo

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***

Era noite de sábado, e Charlotte ja havia saido para tocar. Ela partiria cedo na manhã seguinte para voltar a Nova York. Eu havia dito que não assistiria à apresentação, mas estava quase mudando de idéia. Não sabia quando e se ela ia voltar a Tailândia. Afinal, ela tinha vindo para passar um tempo sozinha, sem saber que Lua e eu traríamos o caos para sua vida. Eu, no lugar dela, não sei se voltaria.

De repente, olhei para Lua:

- Quer sair para ver a tia Charlotte tocar? Promete que vai ser boazinha?

Deixei a bebê no berço e comecei a me despir apressada, com medo de demorar muito para me arrumar e acabar ficando em casa por falta de coragem. Escolhi um vestido roxo que não usava desde antes da gravidez eusei protetores de seio para evitar vazamentos de leite. Arrumei o cabelo em ondas soltas e me maquiei. Minutos depois Lua e eu estávamos prontas e dentro do carro.

Voltar ao Sandy's me deixava nervosa. Eu não ia la desde o verão passado. Também estava inexplicavelmente aflita com a idéia de Charlotte me ver na plateia depois de eu ter dito que não iria.

Quando entrei, ela estava no meio de uma canção que eu não conhecia. Como sempre, a multidão estava hipnotizada, e mulheres se aproximavam cada vez mais do palco para ver melhor aquele rosto bonito. Eu sempre me emocionava quando assistia a uma de suas apresentações. Felizmente, Lua se comportava no canguru, e eu pude aproveitar cada momento.

Fui até o bar para cumprimentar Artur, o bartender, que me deu uma água com gás por conta da casa. Relaxada em meu lugar, fechei os olhos e me deliciei com a voz de Charlotte cantando um cover de No Way fifth Harmony. A canção parece ter sido feita para a voz dela. Quando senti que meus olhos se enchiam de lágrimas, briguei comigo mesma. Porque eu tinha que me emocionar sempre que ela cantava? Era como se cada palavra de cada musica tivesse um significado relacionado o que eu viveria com ela.

Na metade da musica. Lua começou a chorar e a canção não era do tipo que encobria muito bem os gritos de um bebê. Muita gente olhou para mim. Ouvi algumas pessoas cochichando, provavelmente se perguntando por que alguém leva um bebê a um lugar como aquele. Ondas quentes passeavam por meu corpo. Sem parar de cantar, Charlotte olhou para onde eu estava.
Nossos olhares se encontraram. Quase morri de vergonha por interromper aquela linda canção. Quando a musica chegou ao fim, levantei para ir para sala do fundo. Charlotte fez um gesto me pedindo para ficar. Continuei andando mesmo assim, até a voz amplificada pelo microfone me fazer parar.

- A bebê que acabaram de ouvir chorando é muito especial para mim. Ela se chama Lua, cuja mãe, Engfa, também é muito especial para mim. Uma das minhas amigas mais antigas. Enfim, essa é a primeira vez que Engfa sai de casa para se divertir desde que Lua nasceu, há quase tres meses. Ela não queria vir. Temia que as pessoas se incomodassem, caso a filha chorasse. Eu disse a ela para não se preocupar, pois o público aqui é gentil e compreensivo. Ela não acreditou em mim, mas decidiu arriscar e vir assim mesmo. Acreditem, não tem sido fácil para ela. Engfa está fazendo um trabalho incrível criando a bebê sozinha. Ela merece uma noite de folga, não merece?

Aplausos estrondosos seguiram o discurso, e Charlotte acenou me chamando para perto dela. Lua ainda berrava.

- Traz ela para cá. Traz o canguru também - falou Charlotte ao microfone.

Charlotte ajustou o canguru no peito e acomodou Lua nele. Minha bebê estava exatamente onde queria estar e, enfim, se acalmou. Ela mudou a posição do violão para ajeita-la e começou a cantar uma música que, de início, parecia uma canção de ninar. Não consegui deixar de sorrir vendo Lua no palco com ela.

As mulheres na plateia suspiravam. Se já a adoravam antes, agora sentiam os ovários entrando em combustão. Os aplausos bateu recordes quando ela terminou.

Sempre Foi AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora