Canivete

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- Sim, mas ainda quero ficar atraente. Você sabe que gosto de coisas esquisitas. Roupas feitas de saco de batata e tal. Tenho a sensação de que vou de um extremo ao outro, e não sei como me vestir entre eles.

- Tudo bem. - Charlotte bufou - exausta e me seguiu até o quarto.

Comecei a tirar os vestidos do guarda-roupa, jogando-os sobre a cama um a um.

- Que tal este? -

- Vulgar!

- E este?

- Mais vulgar ainda.

- Ok. E este?

- Tem uma sandália para combinar?

- Entendi

- este?
- Bom, esse seria ótimo para se livrar do cara.

Cobri o rosto.

- Ah, isso é muito frustrante!

- Tenho uma solução.

- Qual?

- Desiste desse encontro.

- Porque não consigo escolher o que vestir?

- É. Acho que deveria ficar em casa.

- Você não gosta dele.

- Não gosto.

- Por que?

- Ele só quer te comer, Engfa.

- Mas não vai.

- Tem certeza disso?

- Não transo no primeiro encontro.

Ela levantou as sobrancelhas como se duvidasse.

- Nunca foi para a cama no primeiro encontro?

- Bom...

- Exatamente.

- Mesmo se eu quisesse dormir com ele, o que não quero não seria hoje.

- Porque?

- Eu me esfaqueei de novo.

Ela balançou a cabeça e riu quando entendeu que eu me referia a minha menstruação.

- Entendi.

- Porque acha que ele só quer transar comigo?

- Eu vi aqueles olhos. Nao confio neles. Dá para dizer muito sobre uma pessoa só pelo olhar dela. O dele me causou um sentimento ruim.

- Bom, tenho mais qualidades interessantes, além de peitos e bunda. Portanto, espero que esteja errada.

- Tem razão. Você também tem covinhas legais, quando sorri.

Senti o corpo esquentar quando ouvi aquele elogio inesperado. Não sabia como responder por isso apenas disse:

- Cala a boca.

- Só tome cuidado. - disse Charlotte, - em um tom sério, levando a mão no bolso de trás.
- Falando nisso. - Era o velho canivete suíço que ela carregava quando éramos mais novos.

- Ainda tem isso?

- Nunca vou deixar de precisar dele.

- Quer mesmo que eu leve o canivete?

- QUERO!

Aceitei a oferta.

- Tudo bem.

- Tudo certo, então?

- Ainda não escolhemos a roupa..

Charlotte se aproximou do meu guarda-roupa e passou a mão pela fileira de opções, parando em um vestido preto e sem mangas que não tinha nada derevelador. Parecia mais adequado para um funeral. Na verdade, era o vestida que eu havia comprado para o funeral da minha avó, antes de saber que ela havia deixado ordens explicitas para que no houvesse um. Ela queria apenas ser cremada e que suas cinzas fossem jogadas no mar, sem nenhuma cerimônia.

Sempre Foi AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora