Princesa ao contrário.

Novos guardas

Dias depois....


Eu estava em um lugar escuro, frio, completamente desconhecido. O chão não tinha asfalto e era repleto de lama. Aos poucos casas foram surgindo. Mas não como aquelas do reino. Eram menores, simples e feitas de madeira. Perguntei-me como uma família inteira poderia viver ali.

As pessoas passavam por mim sem olhar, como se eu fosse só mais uma. Um menininho de aproximadamente cinco anos veio até mim.

- Moça, você poderia me ajudar? Estou com fome. - suas roupas eram rasgadas e sujas, como se morasse na rua. Meu coração se partiu ao meio.

- Eu...

- Por favor, princesa.

- Como você sabe que eu...

- Nos ajude, princesa.

Em um piscar de olhos eu estava rodeada de pessoas.

- Nos ajude, princesa...

Repetiam incansavelmente.

- Eu não posso...desculpa. - corri para longe. As vozes me seguiram por um tempo até ficarem distantes e o cenário mudou para o castelo.

Eu usava um vestido rosa com predarias. E à minha frente estava a escada que levava para o salão de bailes, onde eu e Veronica éramos apresentadas ao público. Desci devagar, como se algo muito ruim me esperasse lá embaixo. Ao me aproximar, pude vê duas sombras do que presumi ser dois garotos. Tentei vê seus rostos, mas estavam embaçados. Desci mais alguns degraus, sentindo todo meu corpo se arrepiar. E quando finalmente cheguei mais perto...

- Betty! Acorda! - a voz de Bianca desfez as imagens em minha cabeça.

- Que foi? - resmunguei, cobrindo o rosto com o travesseiro.

Perdi a melhor parte.

- Chegou o grande dia.

- Que dia?

- Você não lembra? O baile onde você e Veronica vão ser apresentadas aos príncipes.

- O quê?! - levantei num susto. - Não acredito que você acabou com meu sonho por causa desse baile idiota.

- Que sonho? Enfim, tem muito o que fazer hoje. Portanto, é melhor se arrumar.

- Droga...

- Ei, olha a boca. - fiz uma careta. - Arrume-se. - disse antes de fechar a porta.

Levantei sem vontade. Ainda que eu não quisesse, teria que fazer isso de qualquer forma. Depois de tanto tempo, ainda tinha esperança que meu pai esquecesse essa história. Agora tenho que dançar a noite inteira com um completo desconhecido.

Tomei um banho para relaxar, mas os flashes do sonho passavam em minha mente a todo instante. Aquelas pessoas, os pedidos de ajuda, foi como um lembrete. Eles precisam de mim.

O que ainda não entendi foi os dois meninos na escada, o que isso significa? Nem príncipe eu tenho. Não ainda.

Vesti um saia preta e uma camiseta branca, junto com uma meia calça com estrelas e uma bota preta que chegava até os meus joelhos. Prendi meu cabelo no meu típico rabo de cavalo  e fui até o quarto de V para chamá-la.

- V, já está pronta? - gritei, batendo na porta.

- Quase! - gritou em resposta.

- Vamos, não tenho o dia todo! - bati com mais força. Sabia que ia irritá-la. E nisso eu sou muito boa.

- Já vai!

Consegui.

- Pronto, estava colocando meu sapato. - ela disse ao sair. Usava um vestido violeta, sua cor preferida, com curtas mangas bufantes e um coset que marcava sua cintura. Eu detestava ter aquela coisa me sufocando, mas para V já parecia ser parte do seu corpo.