Capítulo 1 - Na Calada Da Noite

5 1 0
                                    

     Após desvendar um misterioso caso de uma mulher assassinada pelo marido, na Bélgica, Vincent Aubinet e seu melhor amigo Marcel Roux, retornam para sua antiga cidade, Lille, em busca de um prazeroso descanso mental.
     Em seu precioso carro, um  Ford Model B de cor preta, a zarpar, as mais diversas lembranças explodiam em suas cabeças. E mesmo que o tempo de quase dois semestres favorecesse todo o desgaste físico e psicológico que tiveram pela investigação fatídica, o mistério solucionado era algo que os enchiam de orgulho. Porém, algo ainda não parecia estar certo!

— Por que parou o carro, Vincent? — recostou-se no banco após uma parada brusca no meio da estrada pouco movimentada.
— Eu não sei... De repente, veio-me sobre a mente algo intrigante. — levou a mão sobre a cabeça agachada.
— O que lhe preocupa? — franziu a testa.
— O rosto de satisfação daquela mulher quando a encontramos morta. — suspirou incomodado, sob o olhar pensante ao teto do carro, antes desligado.

     Mesmo com mais um mistério solucionado de uma carreira que já durava anos, Vincent havia enfrentado sua maior pedra no sapato! O que seria?... O mistério da mulher assassinada pelo marido a golpes de punhal. Tal caso, se estendeu por meses de investigação. Era como se fosse uma provação para a dupla de detetives. Na teia investigativa, pendurava-se mulher mantida em cárcere por um marido supostamente enciumado que, logo depois de tê-la matado, fugiu para um bairro vizinho... Foi uma busca difícil, mas assim que fora encontrado num barraco abandonado no meio do nada, sua prisão foi decretada e o caso deu-se por solucionado.
     Para Marcel, tudo parecia ter um fim, mas para Vincent, "algo ainda não parecia estar certo", essa frase gritava por misericórdia na sua mente que palpitava a cada símbolo místico, cuja as formas mantinham-se em duas cruzes emendadas pela parte de baixo, que manchava de sangue as paredes do quarto onde a vítima havia sido encontrada morta, deitada sobre uma cama velha e mofada. E sua aparência satisfeita era algo tão assustador quanto a frieza de seu marido que, entrando em sua sela, exclamava "Ela conseguiu, mas ainda irei à sua caça!" Tudo isso ainda era um peso cheio de dúvidas que Vincent carregava nas costas.

— Você não deve continuar pensando nisso. Precisa repousar a mente. — Marcel confortou o amigo, tornando a ligar o carro. — Vai, fica tranquilo. — aproximou seu ombro ao de Vincent, transcendeu seu braço por trás da nuca do amigo e lhe deu dois tapas no ombro esquerdo. — Precisamos seguir de volta à Lille. Tenho certeza que há uma grande recepção a nossa espera.

     E Marcel tinha razão, ele e Vincent eram vistos como os "mandachuva" da cidade! Todos os casos, dos mais fáceis ao mais difíceis, eram investigados e solucionados por eles. Todos na cidade os admiravam. Não havia um detetive sequer que chegassem ao seus pés em toda França.
     Ao ser convencido pelo amigo, Vincent dá a partida e zarpa rumo a sua cidade...
     Ao crepúsculo do dia, os dois admiráveis detetives chegam a cidade de Lille. Ambos observavam o quão bela ainda parecia, com seus canteiros floridos, suas catedrais deslumbrantes e seus casarões elegantes que tornavam a cidade mais iluminada com suas luzes douradas e cintilantes! Tudo ainda parecia estar como antes, os dois vislumbravam, inclusive, a grande recepção fora pensada por Marcel.
     Ao porem os pés para fora do automóvel, fora estacionado numa praça pública, puseram-se a ajeitar seus casacões de cor beje que cobriam seus elegantes trajes sociais de cor preta e aguardavam a vinda de um amontoado de pessoas que surgia com palmas eufóricas às suas aparições!

— Está vendo só, Vincent? —cochichou em harmonia. — Todos nesta cidade nos amam! — Marcel, assim como Vincent, foi apertando a mão de cada cavalheiro e beijando a mão de cada dama que aparecerá para felicitá-los.
— Os cavalheiros de certa forma, porém as damas são mais amáveis a você. —  Vincent cochichou em tom humorado.

     Vincent era um homem de quarentena anos, possuía um metro e oitenta e oito de estatura, tinha cabelos médios pretos, olhos castanhos escuros e barba por fazer. Era formoso aos olhos de algumas mulheres, porém, não se saltava a vista se comparado a beleza de seu amigo. Marcel possuía quase as mesmas características, de certa maneira, diferenciava-se apenas pelos cabelos loiros à navalha, olhos azuis celeste e cavanhaque. Marcel era vaidoso, e usava isso para lançar um ar galanteador nas senhoritas que lhes dará ao cortejo com outras intenções.

A Dama Das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora