CONTO 3 | J-Hope | Capítulo 2 | +14

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Independente de qualquer desconforto que eu possa sentir por ter que tirar a roupa daqui a pouco, quando se trata de aparecer em frente a uma plateia animada na expectativa de me ver dançar é onde me sinto melhor. No fundo, bem lá no fundinho, sei que esse foi o motivo pelo qual o Jimin me aprontou essa. Tenho ainda mais certeza ao dar o primeiro passo para a área externa da casa. Como eu senti falta disto.

Deslizo até o canto oposto, explorando o "palco" improvisado, mas rapidamente já ganho o centro pulsando movimentos de locking, desde os braços até as pernas, descendo até ficar sobre um dos joelhos e girar sobre ele.

Os gritos ganham força por entre o ritmo da música e me dirijo à noiva que continua sem enxergar. Sentindo-me mais confiante, solto os braços da loira, mas antes de retirar a venda, aproveito para brincar um pouco com as suas mãos sobre o meu peitoral e barriga. A camisa aberta com decote até quase o umbigo facilita o processo e ela aproveita para sentir bem o que encontra por lá, porém a interrompo antes de ultrapassar o limite.

Como orientado, dedico um bom tempo à noiva, afinal o show era para ela. Ponho-a de pé, faço-a girar, rebolo muito próximo do seu corpo, deixo-a me tocar mais um pouco no tronco, deito-a no chão para uns movimentos acrobáticos sobre ela. Tudo ensaiado com o profissional no assunto umas horas antes e com a marcação do tempo na minha cabeça. Cinco, seis, sete, oito e a primeira música acaba, dando o timing certo para a segunda parte da performance.

Agora vem o que eu preferia evitar, mas afinal Jimin tinha razão, depois que se pega o embalo fica mais fácil. Posiciono a noiva sentada em meio às amigas e, finalmente olho ao redor, enquanto me preparo para arrancar a camisa com um único puxão. Em uma das pontas, a mulher alta com o coque está rodando uma toalha por cima da cabeça. Pelo menos umas dez mulheres estão amontoadas organizadas em um semicírculo.

Arranco a camisa ainda observando a plateia e é aí que vacilo. Não pelo óbvio desconforto que vinha sentindo até então, não por qualquer insegurança em relação ao meu corpo ou pudor que poderia ter surgido da minha, há muito esquecida, criação cristã.

PLOC.

Uma bola de chiclete estoura, roubando toda a minha atenção. Por meio dos gritos, palmas e gargalhadas, dos olhares curiosos e desejosos, reconheço um rosto terrivelmente familiar. No canto do sofá, pernas cruzadas em uma calça preta justíssima, torcendo os lábios para não rir ao me encarar.

Pelo menos dez anos haviam passado desde a última vez que nos vimos, ela não poderia estar mais diferente com os longos cabelos lisos tingidos em uma combinação delicada de rosa, lilás e prata. Porém, os olhos escuros fortemente maquiados são os mesmos e, pelo visto, o hábito de mascar chicletes, fazendo enormes bolas, também. Sophie sorri de canto para mim, demonstrando como, assim como eu, me reconheceu. Droga! Ela aqui, não!

Uma nada tímida vaia vinda da noiva me faz perceber que a minha pausa na pose de retirada da camisa, talvez tenha durado tempo demais e me recomponho para finalizar a apresentação, mas já não tão seguro como antes. Ainda por cima, a tão almejada ereção está me abandonando. Também pudera, com o susto que levei, como me manter daquela forma? Vai ter que ser assim mesmo.

Um giro e adeus sapatos, umas ondas com o tronco e tchauzinho calças, está quase na hora e eu nunca me vi em um dilema tão grande. Por que justo a Sophie está aqui? Apanho a capa improvisada e me preparo para o grand finale meia bomba. Viro de costas e solto o ar, buscando forças e tentando me convencer que não haverá problema em não performar como se espera.

Até já, cuecas. Rebolo um pouco mais, ainda de costas e com as nádegas à mostra, segurando a parte da frente coberta pela capa.

A gritaria aumenta, elas com certeza antecipam o que vem a seguir e só posso esperar que não se decepcionem muito, mas então, bem de leve, sinto unhas percorrerem as minhas costas, me causando arrepios. Imediatamente me viro.

Clicheando | Coletânea de Contos/Shortfic BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora