01 | Tokyo Sensation

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Sunoo desceu a escada lateral do estádio, tomando o cuidado de pular os degraus. Um pouco de glitter tinha grudado no seu braço e rosto, mas ele não sabia a origem. Bateu as roupas duas vezes, notando a multidão se espremendo em direção ao centro. Algumas pessoas gritavam a letra final de T.N.T e pulavam em sincronia, formando ondas na plateia eufórica de agitação.

A grande Tóquio era agitada e viva. Sunoo havia deixado seu país há cerca de oito anos e construído sua vida nos subúrbios de Shibuya. Ele estava acostumado com a rotina exaustiva de trabalho e as lamúrias de Natsuo sobre o trânsito, o clima e a falta de feriados. O Kim havia planejado aquela semana de férias exclusivamente para aproveitar o show e curtir alguns dias viajando. O AC/DC era sua banda favorita no mundo, um legado do seu irmão mais velho. Não havia músicas que pudessem deixá-lo mais em si do que os acordes de guitarra e a agitação da multidão.

O estádio era ainda maior visto de dentro. Ele conseguia ouvir o som da guitarra ecoando ao longe. Kick You When You're Down iniciava em meio a uma onda de gritos e suspiros extasiados. Sunoo sentiu o próprio coração se agitar no peito. Era uma das suas músicas favoritas. Aquela altura, uma pequena multidão estava amontoada no centro, pulando no ritmo da canção.

Às vezes ele se sentia meio solitário e sentimental. Estar sozinho naquele show era bom, mas não ter alguém para compartilhar seus gostos era realmente triste. Sunoo passava muito tempo trabalhando, isso tomava grande parte da sua vida. Então a maioria das suas companhias eram pessoas aleatórias que ele conhecia em bares e baladas da meia-noite. Ninguém que estivesse realmente interessado em conversar e conhecê-lo de verdade.

Ignorando esses pensamentos, Sunoo se espremeu entre as pessoas, tentando voltar ao seu lugar para curtir o início do show. Mas no meio do empurra-empurra acabou esbarrando em alguém. Foi certeiro, seu ombro bateu com força nas costas de algum desconhecido e ele cambaleou meio metro.

Odiava essas situações e evitava contato físico ao máximo, tentando não criar problemas para si mesmo. Analisando o rapaz com o qual se esbarrou, viu o exato momento em que o estranho se virou para encará-lo com raiva. Os olhos negros o analisaram da cabeça aos pés, em um misto de expressões que Sunoo não conseguiu decifrar. Um arrepio gelado atravessou sua espinha, contrastando em meio a noite calorosa de agosto.

Sunoo tentou sair dali enquanto se explicava brevemente, dando a volta ao redor do rapaz para continuar seu caminho. Mas em um gesto rápido seu pulso foi segurado e o estranho o virou com violência e uma facilidade que vez seu corpo ficar rígido de medo. Em resposta o encarou com raiva e na mesma hora o estranho o soltou do aperto, erguendo as mãos em rendição.

O Kim franziu as sobrancelhas, cruzando os braços em sua típica pose defensiva. Então eles se encararam em um misto de estranheza e interesse. Com uma leve checada, pode concluir que o idiota era muito atraente. Sunoo o considerou cativante o suficiente para se sentir intimidado e receoso.

O rapaz era alto, com a pele morena e um olhar selvagem. Vestia uma regata azul-marinho com uma jaqueta jeans meio rasgada. Estreitando os olhos, viu metade de uma tatuagem surgindo no pescoço dele, mas na baixa luminosidade era quase impossível distinguir o desenho. Ele então passou a mão nos fios escuros e sorriu em sua direção. O tipo de sorriso que Sunoo mais detestava, em um leve contorno elevado que provavelmente realizava desejos e desgraçava vidas.

— Está sozinho? — quis saber o rapaz, o encarando de cima a baixo. Se não estivesse tão focado nos lábios dele, Sunoo mal o entenderia em meio à barulheira. — Quer companhia?

Ele estendeu a mão em sua direção, com um convite perigosamente silencioso. Um sorriso ladino despontou nos lábios ao notar sua indecisão.

Sunoo encarou a multidão e a banda que tocava no gigantesco palco a metros de distância. Nem saberia distinguir se as batidas vinham da música ou do seu coração, mas um calor incômodo ardeu no seu rosto ao sentir a aproximação sorrateira do outro. Bem, era o início de uma longa noite e ele ainda poderia aproveitar o show e se divertir na companhia de um homem atraente. Então com essa ideia em mente, Sunoo segurou aquela mão com força.













Tokyo Blue Complex | SUNKIOnde histórias criam vida. Descubra agora