02 | Bluer Than Indigo

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Nishimura Riki era muito novo, mas ainda se lembrava de sentir as mudanças em sua vida após o casamento da mãe. Elas aconteceram em questão de dias e se alongaram por meses até que ele notasse como as coisas por lá funcionavam.

Depois que ele entrou na adolescência, foi mandado para um internato e ficou lá até se formar. Nessa época sua personalidade havia se estragado após conviver tanto tempo com homens como Inagawa Genji e os laços com sua família tinham sido cortados.

Com o velho esquema empresarial falindo, sua mãe estava sempre pisando em ovos para garantir o bom humor do padrasto. Após cinco anos mandando cartas sem conseguir algum tipo de resposta, sua irmã havia desistido de manter contato e seguido os passos da mãe, rebaixando sua cabeça para a organização. 

Riki detestava a forma como estava vivendo sua vida, mas até a morte da irmã, ele acreditava fielmente que não havia outro caminho a seguir. 

Talvez estivesse certo, afinal estava escolhendo o mesmo destino que a mais velha. Fazer a coisa certa era sempre uma faca de dois gumes. Mas essa discussão era inútil agora, considerando que estava a caminho da própria morte. 

Ele tinha cavado sua própria cova. Velhos hábitos nunca morrem. Sua obsessão por Kim Sunoo havia começado tudo aquilo. No momento em que pôs os olhos nele. Aquela esperança infantil de que seria diferente dessa vez. Que conseguiria recomeçar a vida longe de problemas. 

Porra, estava tão enganado. 

— Olha só, se não é o próprio Seiryū.. o dragrão azul de Tóquio!

Inagawa Genji estava confortavelmente sentado à mesa, balançando o cigarro em um aceno amigável demais para o próprio diabo. 

Riki olhou para ele, aqueles dentes cheios de manchas pretas e o rosto todo tatuado, com traços tradicionais que foram admiráveis no passado, mas agora não passavam de um lembrete de sua desonra. Estava com tanta raiva dele que teve de tomar um tempo antes de se aproximar. 

Todo o restaurante estava deserto, as luzes da cozinha apagadas e um leve cheiro de cigarro ondulava pelo ar. Era a cena perfeita para um conflito. Sem inocentes, sem capangas e sem armas. — como instruído no telefonema. Então caminhou até ele, sentando-se na cadeira em frente ao mais velho. 

— Quanto você quer? — foi logo ao ponto.

— Não quero dinheiro, você sabe.

Houve um momento de silêncio no qual Inagawa abanou o ar fedorento ao seu redor e amassou a bituca no cinzeiro sobre a mesa. Estava confiante, com os lábios curvados em divertimento. 

Vê-lo tão cheio de si era o suficiente para despertar o ódio bem escondido no coração de Riki. 

Aceitou ser chantageado porque não havia nenhuma outra maneira de controlar Inagawa e manter Sunoo em segurança. Mas não podia se dar ao luxo de ter o canalha atiçando sua ira que já estava queimando descontroladamente.

— Me odeia tanto assim? 

O sorriso presunçoso se tornou uma risada sarcástica. Inagawa deu de ombros, como o ótimo ator que era. 

— Seu pai sequer deu um sobrenome digno pra sua família, acha que sua vida tem alguma importância pra eles? Assim como a vagabunda da sua mãe.. nem mesmo ela te suporta. 

Sobrenome.. que importância isso tem? — devolveu Riki. — É você que está atrás de um verme como eu, certo? Pelo menos sai por vontade própria, diferente de você que foi chutado na bunda pelo próprio dono. 

Em um movimento rápido demais para calcular, o homem se ergueu e agarrou os fios negros de Riki, batendo o rosto dele contra a mesa. Ficou pressionando a cabeça do mais novo no lugar, antes de se inclinar em seu ouvido. 

Tokyo Blue Complex | SUNKIOnde histórias criam vida. Descubra agora