Extra | The Blue Dragon's Reason

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Era quase meio-dia e Kim Sunoo estava deixando a clínica com as chaves do apartamento no bolso e uma enorme pasta de documentos para revisar. De repente, sua secretária surgiu com os olhos arregalados por detrás das lentes grossas do óculos.

Kobayashi Natsuo franziu as sobrancelhas finas e limpou as mãos suadas no uniforme branco, antes de gaguejar uma série de palavras desconexas e respirar fundo para repetir o falatório.

— Tem a-alguém nos vigiando! — sussurrou, embora estivessem sozinhos na recepção. Somente o som do ar-condicionado rangendo vez ou outra no canto da parede. Era irritante demais. Sunoo havia o consertado pela sexta vez, mas nada parecia resolver o problema.

— Como assim?

Ele fez menção de se aproximar da entrada, mas Natsuo o agarrou pelo braço temerosa.

— Tem um carro estacionado do outro lado da rua desde o início da manhã! A mulher fica encarando o consultório do banco do motorista.. e um garoto todo tatuado sai de lá a cada duas horas e dá uma volta na rua! — disse rápido, tomando fôlego novamente. — Não é a primeira vez que os vejo. Será que é a... Yakuza?! — a última palavra saiu quase estridente em meio a sua voz trêmula.

Sunoo negou com a cabeça, sorrindo docemente.

Maldito o dia em que contou a mulher sobre sua aventura de sobrevivência. Como Nishimura Riki havia salvado sua vida e de bonûs adquirido a cicatriz do rosto. Não que ele não houvesse tentado esconder esse fato, mas ela insistira que um corte daquele jamais poderia ter sido feito acidentalmente. Vinte minutos de pressão e ele contara tudo a ela com um olhar sombrio. Seguir o seu coração, quanta baboseira. Aparentemente, seguir seu coração não incluía se envolver com um ex-criminoso e ela o repreendeu veemente.

— Tá, calma! — ele acariciou seu ombro. — Vai almoçar e eu resolvo isso, ok?

Ela acenou com a cabeça, mas não fez menção de deixar o prédio.

Sunoo deu uma olhada em direção ao outro lado da rua onde o Toyota Yaris estava estacionado. Ele acompanhou a mais velha até a esquina e retornou para o seu apartamento, subindo as escadas e procurando seu revólver na gaveta da cômoda.

Era mentira dizer que suas experiências da noite com o Nishimura não o haviam atormentado por um bom tempo. Sunoo levou alguns meses para controlar seus pesadelos e se sentir seguro para sair na rua à noite. Toda vez que o telefone tocava, ele dava um pulo para ver quem era antes de atender, e se era número privado ele deixava ir para a caixa de mensagens.

Haviam coisas que ele não podia evitar que acontecessem, como os efeitos colaterais que o atingiram nas várias semanas após a noite infernal, quando descobriu que Riki estava seguro e ele teve um momento de silêncio para pensar em si mesmo. — para pensar no que tinha acontecido, no que tinha perdido e no que nunca voltaria a ter por completo.

Dois mês após sua despedida, Nishimura Riki enviou um e-mail com algumas informações do que estava acontecendo em sua vida na conta profissional do mais velho. Ele estava trabalhando em Quito e reconstruindo sua imagem por lá, com a ajuda de algumas pessoas que estavam dispostas a confiar nele.

No início, Sunoo hesitou em respondê-lo. Se envolver mais ainda com o japonês implicaria um nível de intimidade que ele não estava disposto a ceder. Mas sua teimosia era originada de uma noção perspicaz de que o Nishimura não retornaria por um bom tempo. Sunoo não tinha se dado conta da esperança que nutria, contra todas as possibilidades, até a frustração se instalar e ele respondê-lo pela primeira vez.

Após isso, um ano de troca de mensagem havia os trazido até aquela situação inoportuna.

Sunoo bateu os dedos na janela do carro. O vidro esfumaçado desceu lentamente e em um movimento rápido a arma surgiu silenciosamente na direção dos estranhos.

Tokyo Blue Complex | SUNKIOnde histórias criam vida. Descubra agora