Prólogo

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O cheiro de água salgada e álcool rapidamente invadiram minhas narinas quando entrei no bar. Era um cheiro forte, que de certa forma trazia náusea, porém ao mesmo tempo aconchegante, fazia com que me sentisse em casa.

Me sentei em um dos bancos livres no balcão segurando um copo com cerveja e observei as pessoas entrando e saindo enquanto riam.

Hoje era um daqueles dias onde todos os marinheiros resolviam ancorar no porto para passar no primeiro lugar com bebida que viam pela frente, então não fiquei surpreso quando vi um grupo de cães do governo entrarem pela porta com suas roupas azuis e começarem a conversar com o atendente.

Me levantei do banco terminando minha bebida e deixei duas moedas de cobre no balcão. Comecei a passear por entre as mesas surrupiando moedas de ouro e prata ou qualquer outro objeto que pudesse achar que eram de algum valor. O local estava bem cheio então não foi difícil me esgueirar entre as pessoas e sair sem ser notado por aqueles malditos do reino.

Encostei na parede do lado de fora do bar para poder verificar as coisas que roubei e estava prestes a ir embora dali, mas não pude deixar de escutar a conversa quando dois caras passaram perto de mim, claramente meio bêbados.

— Você ouviu o que aqueles marinheiros diziam?

— Quero só ver quem vai ser o idiota que vai trabalhar pro governo em troca desse dinheiro.

Um deles riu e eu apurei os ouvidos ao escutar a palavra "dinheiro".

— A quantidade é boa, mas é um trabalho suicida. Tem que ser muito louco.

Esbarrei neles enquanto andava.

— Sinto muito.

— Da próxima vez, olhe por onde anda.

Caminhei pela rua iluminada pela luz dos postes enquanto encarava o pequeno bracelete de ouro que peguei daqueles caras.

Andei mais alguns quarteirões e, ao virar em uma rua, arrumei o cabelo e tirei a bandana da cabeça antes de bater na porta de uma casa que estava com uma aparência pobre e claramente mal cuidada.

O velho, quando abriu, me encarou de cima a baixo revirando os olhos.

— Ah, é você. Entre.

Albert era um cara que me viu crescer e trabalha como bibliotecário aqui na cidade. Ele não tem família e tende a ser desorganizado, quando mais jovem, arrumava as coisas para ele, agora ele simplesmente espera que eu volte para que arrume.

Por ser bibliotecário, acaba ouvindo o que quer e o que não quer dos clientes. Consequentemente, esse velho se tornou minha maior fonte de informação.

— Olá pra você também, velhote. Ouvi dizer que o palácio estará pagando uma quantia consideravelmente grande em troca de um trabalho. Sabe me dizer o que é?

Albert acendeu algumas velas e com uma delicadeza, jogou algumas almofadas e um lençol no chão.

— Você só aparece quando precisa de mim, garoto ingrato. Essa é a primeira vez que te vejo em dois anos e já chega pedindo as coisas. Não me desejou nem mesmo um "boa noite, Albert. Como vai?".

Mostrei a língua para ele e ri baixo enquanto organizava o lençol no chão.

— Deixe de ser irritante, você sabe que preciso de dinheiro.

O velho resmungou alguma coisa antes de pegar o jornal e o atirar em cima de mim. Peguei antes que caísse no chão e imediatamente meus olhos passaram pela primeira notícia que estampava na folha.

— Quinhentas mil moedas de ouro em troca da cabeça do capitão Tarquinn. — Arregalei os olhos perante a quantia — Eles deixaram bem claro na publicação de que não se importam com quem o mate, contanto que o rei e a rainha recebam sua cabeça. Se levado vivo, a recompensa dobra.

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