Acordo com o barulho do mar agitado e logo um cheiro forte invade minhas narinas. Me levanto rapidamente e sinto um peso em meus pulsos, ao olhar para baixo percebo que estou amarrado, completamente preso ao chão.
Mexo minhas mãos de um lado para o outro até sentir que as cordas começaram a arranhar minha pele e pequenas gotas de sangue puderam ser vistas manchando a amarra que mantinha imóvel.
— Isso é uma perda de tempo. Se eu fosse você, pouparia energia, já que ficará preso por muito tempo. — Ouço uma voz dizer a minha frente — Caso continue com isso, arrancará as próprias mãos.
A voz masculina estava na minha frente, por conta da escuridão, o seu rosto só pôde ser visto parcialmente através da luz de uma lamparina. Ainda precisei apertar os olhos para conseguir enxergar, já que estava sem óculos.
Era um garoto, claramente mais jovem do que eu. Ele apoiava seus pés em cima da mesa e brincava com a cadeira, balançando para frente e para trás, como uma criança.
Então ele se levantou e pude vê-lo melhor. Tinha o cabelo levemente comprido, onde a franja era grande o suficiente para tapar os olhos, e loiro, com os olhos assustadoramente verdes. O corpo era magro, com músculos bem definidos que podiam ser notados mesmo com a camisa ridiculamente grande. Sua pele era branca e ele tinha uma cicatriz no canto dos lábios.
O garoto encostou no meu queixo e virou meu rosto de um lado para o outro, como se me estudasse. Tentei morder mas ele retirou a mão a tempo.
— Não toque em mim.
Ele soltou um riso fraco e o sorriso cínico permaneceu em sua face. Aquela cara dele me dava nojo.
— Você é um cachorrinho bem raivoso.
Movi meu corpo para frente em uma tentativa de atacar, mas com a limitação dos braços, não pude ir muito longe.
O pirata deu alguns passos para trás e encarou minha investida com um ar de diversão, então arrastou sua cadeira para se sentar de frente para mim.
— Soube que estava atrás de mim. Gostaria de saber sobre o que planeja fazer agora que me encontrou.
Tive dúvida do que ele estava falando, porém ao encarar o chapéu berrante, meu olhar foi tomado pelo terror da compreensão. Logo, respirei fundo antes de dizer entre dentes:
— Tarquinn? Você é o demônio dos mares?
Aquele que agora eu sabia que se tratava do meu alvo, sorriu para mim com um olhar presunçoso. E aquilo me trouxe a súbita vontade de vender minha alma em troca de quebrar aquele maldito sorriso com meus punhos
— Não diria demônio. Mas quem sou eu para reverter os boatos do povo? Esse apelido eleva positivamente meu status.
Eu não podia acreditar, ele era muito jovem. Devia ter uma diferença de no mínimo três anos entre a gente.
Estão me dizendo que estive esse tempo todo atrás de um garoto?
— Isso é impossível! Você é mais novo que eu.
Ele deu de ombros como se não se importasse de forma alguma.
— E se eu for mais novo? Isso só prova que sou melhor que você.
Aquilo atingiu meu ego enquanto assistia Tarquinn começar a brincar com uma adaga, minha adaga, e a balançava entre os dedos enquanto me olhava de cima a baixo como se eu fosse alguma droga de atração de circo.
— Agora... — disse jogando a arma a milímetros do meu rosto — me diga o que quer comigo.
O desgraçado nem parecia saber que a cabeça dele tá valendo a merda de uma ilha inteira.
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Entre às águas
RomansaUm pirata sem uma tripulação era motivo de piada ao redor dos mares. Corber estava determinado a fazerem eles pensarem o contrário quando aceitou o trabalho de assassinar o maior pirata que navegava pelas águas.