Capítulo 2

2 0 0
                                    

Eu tinha minha própria cabine, nem podia acreditar nisso. Por ser um navio tão grande, para uma tripulação minúscula, cada um possuía sua própria cabine e aquilo era incrível.

Meu sono não era tão pesado e eu estava acostumado a viver sozinho, então quando alguém decidiu espirrar água no meu rosto, meu corpo reagiu sozinho pegando a pessoa pelo colarinho e pressionando um canivete em seu pescoço.

— Não precisa me matar por te acordar, meu Deus.

Eu não enxergava bem sem os óculos, mas em meio a névoa embaçada, enxerguei uma cabeleira ruiva.

— Está querendo morrer, Ajax? — Disse o soltando. — Eu poderia ter te matado.

O médico colocou a mão no pescoço como se quisesse verificar que ainda o possuía e eu me segurei muito para que ele continuasse com a cabeça grudada ao corpo.

— Ainda bem que não matou. O que seria desse navio sem mim? — Ele riu, mas quando percebeu que eu não ria, parou. — Atracamos em uma ilha, o capitão pediu para que eu te chamasse para irmos comprar seu óculos.

Cruzei os braços compreendendo. Então amarrei uma bandana na cabeça com o objetivo de tirar um pouco o cabelo dos olhos, já não enxergava muito bem, com o cabelo atrapalhando a minha visão, ficava ainda pior.

Segui pela ruas com o ruivo ao meu lado. Em poucos minutos, senti meus bolsos cheios por conta das moedas e joias que roubava. Não sabia se Ajax conseguia perceber o que eu estava fazendo, mas se percebeu, não se importou.

— O que acha dessa loja? Gostou de algum desses modelos da vitrine?

Tentei olhar através do vidro alguns modelos de óculos que eles possuíam, mas desisti depois de fazer um esforço para enxergar e meus olhos doerem.

— Não importa a loja que formos, vou querer o modelo mais barato.

— Nossa, você é do tipo pão duro então?

Ignorei sua pergunta e entrei na loja ouvindo o sino tocar. Um homem que não devia ser muito mais velho que Albert apareceu para me atender.

— Boa tarde rapazes, em que posso ajudá-los?

— Preciso de um óculos novo, o antigo quebrou. — Disse, curto e grosso. — Da última vez que troquei de óculos eu tinha um grau e meio de miopia.

— Certo. — o senhor disse anotando em um caderno. — Faz muito tempo desde o último óculos?

Pensei um pouco e passei a mão por trás da nuca antes de responder:

— Tem uns quatro anos.

Ajax, que estava até agora entretido com algo na loja, veio em minha direção e me olhou como se eu fosse de outro mundo.

— Você é louco? Isso faz mal para sua saúde! Como conseguia enxergar com aquele óculos?

— Não enxergava. — Respondi simplista.

O dono da loja refez o meu exame e depois me levou para escolher um modelo para meu óculos novo. Eu queria muito escolher algo mais caro só para poder gastar o dinheiro de Tarquinn, mas uma parte minha ainda conseguia me fazer sentir culpado por gastar tanto dinheiro com algo sem sentido.

— Quero o modelo mais barato, por favor.

Ajax segurava alguns modelos em sua mão e antes que eu pudesse perguntar, ele me forçou a provar vários até encontrar um que lhe agradasse.

— A gente vai querer este aqui. — falou colocando uma armação redonda na mesa.

— Este custa 500 moedas de prata com a lente.

Entre às águas Onde histórias criam vida. Descubra agora