Franzi o cenho em descrença ao ver meu capitão, sentado na minha cama enquanto folheava um livro que comprei na nossa última parada. Ele tem feito muito isso nas últimas duas semanas e já começava a me tirar do sério. A presença deste ser já era um tanto quanto incômoda e agora ter que aturá-lo em meus aposentos, era demais. Ninguém deveria passar por isso de suportar Tarquinn por mais de cinco minutos.
— Por que você gosta tanto disso? — perguntou de repente. — É só um monte de papel com letras.
— Capitão — disse com um certo tom de desgosto —, o senhor não tem nada melhor para fazer? Além de ficar no meu quarto mexendo nas minhas coisas, óbvio.
— Não. — respondeu simplesmente.
Cheguei a pensar em socar a cara dele para ver se formaria outra cicatriz. Então respirei fundo e contei até cinco, da mesma forma que Albert me ensinou a tantos anos atrás.
— Sendo sincero, quero ficar de olho em você, não confio muito em sua lealdade. — ele disse depois de um tempo em silêncio.
— Justo.
Fui em sua direção e retirei o livro de suas mãos, e o posicionei de volta no lugar e depois fui até o armário para trocar de roupa.
— Tenho a pequena impressão de que se importa mais com os livros do que com as pessoas.
O ignorei enquanto escolhia algo para vestir. As vezes acreditar em sua inexistência é uma escolha sábia.
— Vamos descer em uma ilha hoje? — Perguntei trocando a camisa.
— Sim. Por quê?
Senti o olhar do loiro penetrando minhas costas. Dessa vez, sentia que seu olhar era quente, então temi me virar e me deparar novamente com suas íris frias. Seus olhos não costumavam demonstrar muitas emoções e aquilo me dava um frio na espinha.
— Quero comprar uma coisa.
Tarquinn não questionou o que eu precisava comprar, apenas se aconchegou mais em minha cama e eu senti uma vontade quase que incontrolável de retirá-lo dali. Porém não o fiz. Apenas saí da cabine e o vi vindo atrás de mim.
— Já ia chamar vocês! — falou Ajax no topo da escada — Preciso comprar algumas ervas medicinais, quer vir comigo Corber?
Estava prestes a responder quando Tarquinn colocou um braço através do meu pescoço e, por ser um pouco mais baixo que eu, me forçou a encurvar.
— Já marcamos de ir a alguns lugares. O passeio de vocês ficará para a próxima. — Disse enquanto me puxava. — Avise a nossa querida imediata, de que iremos passar a noite na ilha.
O capitão desceu do navio comigo ao seu lado e começamos a andar pelas ruas da cidade de Akor. Ele usava dessa vez uma camisa verde com uma calça amarela, uma combinação que dava dor nos olhos de quem via. Eu me perguntava como ele conseguia andar por aí chamando tanta atenção, mesmo sabendo dos perigos que corria.
Devo admitir que estava incomodado por andar lado a lado com James. Mas não havia nada que eu pudesse fazer, o capitão fisgou seus olhos em mim e me tornei seu alvo pessoal. Pensei em alguma forma de o despistar, porém ele me encarava como se pudesse enxergar meu interior, então achei melhor nem tentar. Por isso precisei me contentar em apenas esbarrar em algumas pessoas a fim de tentar surrupiar coisas que me pudessem ser de valor.
Quando encontrei o meu destino, parei em frente a loja com o garoto ao meu encalço. Encarei o letreiro com divertimento e pude sentir o olhar do loiro sobre mim.
— Uma loja de armas?
— Preciso comprar um revólver novo, já que com a queima do meu navio, o antigo se foi. E, infelizmente, estou andando por aí com um dos capitães mais procurado do mundo, não consigo nem sequer cogitar em ficar desarmado.
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Entre às águas
RomanceUm pirata sem uma tripulação era motivo de piada ao redor dos mares. Corber estava determinado a fazerem eles pensarem o contrário quando aceitou o trabalho de assassinar o maior pirata que navegava pelas águas.