entre sapos, concelhos e concelhos

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2:23 P.M

Akiteru estava chegando do seu trabalho, costumava trabalhar até meio-dia nos sábados.

Quando passou pela lixeira de sua casa, viu uma sacola cheia de posters nela. O Tsukishima mais velho parou por um tempo, encarando-a, a confusão estampada em seu rosto.

- Ei, Kei, porque você jogou isso fora? Não são suas coisas daquele cara? Como era mesmo o nome? Aracnídeos...?

O mais velho pergunta, mostrando a sacola que tinha em mãos, para o irmão, que estava deitado no chão da sala, com o olhar fixo para o próprio quarto.

- Por que você pegou de volta? Deixa isso no lixo!

O mais novo nem se deu ao trabalho de encarar o irmão enquanto falava isso.

Akiteru não estava entendendo nada, como o irmão poderia jogar aquilo fora? Ele não gostava mais do guitarrista? Mas como? Não era possível alguém ser fã e simplesmente passar a não gostar no dia seguinte! Ou será que era possível? Essa nova geração era realmente um enigma.

- Kei, você quer conversar?

- Não.

- Tem certeza?

A partir da insistência do mais baixo, Kei finalmente cedeu à sua necessidade de conversar com alguém sobre tudo aquilo. O ruim de ter uma pessoa que te conhece tão bem morando junto com você era isso, não tem como negar quando algo não vai bem.

- Senta aqui...

Kei deu dois tapinhas no espaço ao seu lado no chão, aproveitou para se sentar também, apoiando as costas no sofá.

- Tá bom! Pode me falar o que houve.

Akiteru encorajou, ao se sentar ao lado do irmão. A verdade é que eles quase nunca tinham uma conversa de verdade, em parte por culpa do próprio Akiteru, por ter machucado a confiança do mais novo alguns anos atrás. Mas, esse era um mal recorrente na família Tsukishima, eles muitas vezes escondiam as coisas, com medo de ferir quem amavam, o problema era que isso sempre dava errado.

- Eu não sei nem por onde começar...

- Só relaxa Kei, não precisa se preocupar muito, é só por pra fora o que você sentir que precisa!

Exclamou o mais velho, encorajando o irmão a se abrir com ele.

- Eu descobri recentemente que o Anuros é um dos meus amigos...

O mais novo soltou de uma vez só, seu olhar perdido em meio aos móveis da casa, sem saber como encarar o irmão, com medo das reações que poderia receber dependendo do que falasse.

- Esse amigo é o Yamaguchi.

- E vocês estão brigados porque você ficou chateado por ele não ter te contado e agora não têm coragem de ir falar com ele?

O olhar do mais alto se voltou imediatamente para Akiteru, os olhos arregalados com tal pergunta, Kei Tsukishima, por um breve momento, teve seu ceticismo sobre o sobrenatural em jogo.

- Você é o quê? Algum vidente por acaso?

Perguntou incrédulo.

- Claro que não né, Kei! - o mais velho ri - mas estava na cara que era por isso, eu só presumi pelo seu rosto triste e os porters jogados. Fala a verdade, eu sou ótimo nisso, não sou?

Enquanto o mais velho se gabava, Kei apenas se virou novamente, endireitando as costas, e voltando a encarar o nada, com certeza estava decepcionado, - seria melhor ter um irmão vidente do que esse idiota que não leva nada a sério -.

- Ok, ok. Juro que não vou mais fazer piadinhas, pode me falar tudo o que você quiser!

Disse Akiteru, ficando em silêncio logo em seguida, dando ao mais novo a oportunidade de se expressar como quisesse.

- Eu acho que ele está me evitando, sempre que eu tento conversar ou mandar uma mensagem ele dá um jeito de me ignorar ou acabar com o assunto. Já falei pra ele que queria sair para poder conversar e ele simplesmente se esquivou da conversa. Eu não sei mais o que fazer!

Akiteru podia ver, apenas pela expressão facial do mais novo, que aquilo o estava fazendo sofrer.

- Kei, você gosta do Yamaguchi?

- Claro que sim. Ele é meu amigo!

- ... Então por que você não corre atrás dele? Faz ele querer te ouvir e entender que é importante para você! E não esquece de escutar o lado dele da história!

Kei encarou o irmão por um tempo, confuso sobre o que ouvira e, quando sua cabeça finalmente processou o que o irmão o mandava fazer, ele levantou, correndo até o quarto para separar uma roupa boa para que pudesse sair naquela noite. Iria encontrar Yamaguchi em um lugar que ele não tivesse como fugir.

[...]

- Yams, você tem certeza que vai conseguir tocar essa noite? Já é a terceira vez que você erra o tempo da música!

- Desculpa pessoal, vamos tentar mais uma vez, por favor!

Yamaguchi se curvava para demonstrar seu arrependimento. A verdade era que ele não estava conseguindo se concentrar, sua mente só pensava em uma pessoa e no problemão que havia entre os dois.

- Gente, vamos dar uma pausa, descansem um pouco!

Exclamou Sugawara, antes de pegar a mão de Yamaguchi e o levar para fora da sala de ensaio.

- Me conta o que tá acontecendo. Por que você anda tão distraído?

Pediu o mais velho, enquanto entregava uma latinha de refrigerante para o esverdeado. Não tinha para onde correr, o baixista era o mais observador do grupo, sempre sabia quando alguém não estava bem.

- O Tsukishima descobriu que eu sou o Anuros. Lembra aquele dia que eu disse que a pessoa que eu gostava me deu um bolo? Era mentira, na verdade o Tsukki veio ver o show, sem eu saber... Agora nós estamos meio afastados, acho que na real quem se afastou mesmo fui eu, já fazem algumas semanas que eu só estou inventando desculpas atrás de desculpas para não falar com ele, porque eu não sei como conversar com ele.

O de cabelo cinza se manteve em silêncio por um tempo, processando toda a história para saber o que falar. Sabia que Yamaguchi gostava do loiro, até porque fora ele que aguentou os suspiros daquele aspirante a roqueiro apaixonado, que começaram a meses atrás. Lembrava-se perfeitamente de ter conversado com o esverdeado sobre aquilo e perguntado se ele realmente confiava no rapaz, já que, uma vez que alguém soubesse que Yamaguchi frequentava os bares e shows com a banda mesmo sem ter dezoito anos, poderia acabar mal para todos.

- Escuta, Yams, se você continuar fugindo dele, vocês nunca vão se resolver! Sei que a minha opinião não vale de nada, mas, se você quer um conselho de amigo para amigo, converse com ele, conta como você se sente e explica a sua situação, se ele for gente boa de verdade ele vai te entender. Não posso garantir que ele vá retribuir os sentimentos por você, mas, isso eu tenho certeza que você consegue lidar com esse seu charme de garoto rebelde! Agora, por favor, esquece ele e foca só em quem você é nessa noite, o Anuros não pode decepcionar toda a galera que vai estar aí mais tarde!

Finaliza o mais velho, dando algumas batidinhas no ombro de Yamaguchi, depois indo de volta para a sala de ensaio deles.

- Suga-senpai está certo, eu preciso me concentrar!

Yamaguchi murmurou ao terminar de beber o seu refrigerante, então jogou a latinha no lixo e também voltou para onde estava a banda.

Entre Sapos e YamaOnde histórias criam vida. Descubra agora