03 - Cartas do passado

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Caminhando por Saint Denis, Dutch pensava nas questões da vida e como tudo saiu do controle devido ao temperamento e erros cometidos. Naquele momento de introspecção, inspirou profundamente, sentindo o ar fresco e úmido encher os pulmões. Seu coração estava repleto de pensamentos tumultuados, anseios e lembranças que pareciam nunca deixá-lo em paz.

Ao andar mais alguns metros, encontrou o saloon agitado com pessoas entrando e saindo. O cavaleirou percebeu que aquele era um bom momento para relaxar, com passos cuidadosos entrou no local. A porta estava entreaberta revelando um vislumbre do interior convidativo. Dutch ouvia vozes, risos, e a música que o guiou até ali. Foi então que a viu...

Isabella "Bella" Sullivan estava lá, no centro daquela cena animada. Seus cabelos ondulados brilhavam à luz das lanternas, e seus olhos verdes pareciam capturar a própria essência da esperança.

Dutch sentiu o coração disparar e uma enxurrada de emoções inundar a mente. Os sentimentos por aquela mulher ainda eram profundos, misturando-se com lembranças e emoções intocadas pelo tempo.

Isabella não o viu ainda, estava distraída conversando com seus diversos amigos no interior do saloon. Enquanto isso, permaneceu em pé à entrada, observando-a em silêncio. Ele sentia o peso das palavras não ditas, das memórias compartilhadas e dos momentos perdidos que tinham enfrentado.

Dutch continuou imóvel observando a cena com um misto de nostalgia e incerteza. Ele queria se afastar, dar meia-volta e desaparecer nas sombras da noite, mas algo o impedia de fugir novamente. Era como se o passado e o presente se encontrassem em um momento efêmero e irreal.

Perdido nos devaneios, o pianista começou a tocar uma música animada e como se fosse um sinal predestinado, as pessoas ao redor de Isabella levantaram-se para dançar. Ela sorriu, colocando a taça sobre uma mesa próxima e também deixou-se levar pelo ritmo contagioso.

Dutch a encarava incrédulo, até que inevitavelmente os passos de dança trouxeram Isabella para mais perto. Foi quando então os olhares finalmente se encontraram, e uma avalanche de sensações invadiu o peito.

A saudade, o arrependimento, a paixão reacendida... Tudo começou a misturar-se em um turbilhão avassalador. Dutch viu os olhos verdes de Isabella se alargarem em surpresa e uma expressão de perplexidade formou em seu rosto.

— Isabella... — murmurou, quase sussurrando.

Ela o fitou levemente perturbada, os lábios se entreabriram como se quisesse dizer algo. As palavras pareciam ter fugido, deixando apenas o silêncio eloquente entre eles. Enquanto isso, a música continuava tocando, o ritmo envolvente criava um cenário de sonho ao redor. Em um gesto ousado, Dutch estendeu a mão trêmula em direção a ela.

— Dança comigo?

Isabella olhou para a mão estendida, lentamente seus dedos se entrelaçaram com os dele. Um sorriso suave curvou-se nos lábios cheios de ternura e saudade.

— Sempre... — respondeu, emotiva.

Dutch e Isabella começaram a dançar, seus corações batiam em compasso como se estivessem retomando um ritmo perdido há muito tempo. Enquanto se moviam juntos, o mundo ao redor pareceu desaparecer, era como se o universo tivesse conspirado para uni-los novamente, permitindo-lhes reviver o passado. Aquele momento também foi um refúgio de paz e reencontro, como se uma ilha de tranquilidade se formasse ao redor em meio a qualquer tempestade.

Após a dança, encontraram um lugar tranquilo e afastado no saloon. Sentando-se à mesa, Isabella tomou um gole da bebida encarando o rosto de Dutch. A expressão dela estava carregada de sentimentos complexos e ressentimento. Isabella remoeu memórias dolorosas enquanto o fitava.

A maldição de Van Der LindeOnde histórias criam vida. Descubra agora