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Tudo que Eva sabia era que as trouxas de roupas e panos não iriam se lavar sozinhas. Ela pegou o cesto trançado e cheio de tecidos e o carregou com esmero até o lavatório. Os dias de Eva eram repletos dessas atividades de lavar tecidos de todos os tipos desde o dia que entrara no convento – ela não conseguia decidir na sua cabeça qual mártir seria pior, o da vida de uma freira ou o de Jesus Cristo na cruz. Tinha sido uma grande má sorte no seu caminho ela ter sido arrastada para essa instituição, e, agora, sem mais opções, virou uma escrava da mesma. É claro que ela não poderia blasfemar a comida que recebia e a cama que dormia, no entanto...

Ainda poderia blasfemar a Deus, que quis assim e que a fez ficar ali. Eva procurava manter a calma, mas sua inconformidade era grande demais. Mais uma vez praticava, na surdina, o ato da blasfêmia

– Porra! Por que não me mandou logo para um prostíbulo?! Deus, todo poderoso, se é tão bom assim me faça feliz! Uma vez nessa vida! – ela resmungava avidamente, longe de qualquer companhia ou alma viva. Havia apenas ela e as roupas, fronhas e lençóis. Suas mãos já estavam cansadas só de pensar naquele montante.

Ao longo da atividade, ela xingava aos poucos. No fundo duvidando um pouco que Deus escutaria suas preces rudes. Mas ao fim do seu serviço, ajoelhou no chão fielmente (como toda freira é instruída a fazer) e agradeceu ao bom pai Jesus Cristo e suas boas vontades de acabar com o “tormento”.

Uma freira vinha apressada atrás de Eva, era a irmã Lilith, que era uma das únicas outras mulheres dali que entendia um pouco Eva. Também tinha sido jogada aos lobos e tivera que se converter. O passado das duas era muito controvérsio, porém ainda tinham possibilidade de salvação – de acordo com a Mary, diretora do convento, cujo o perdão talvez fosse maior que o do próprio Senhor. Ou talvez ela fosse muito cega.

– Eva! Tenho novidades! Uma das boas, agora, lhe juro! – ela disse animada.

Eva a olhou por cima do ombro e logo se levantou, contagiada pela euforia maluca da sua amiga. Mas tudo bem, ninguém estava vendo elas e poderiam até fofocar mais.

– Diz! Só isso pra me salvar dessas trouxas infernais – reclamou revirando os olhos .

Se aproximou dela com suspense e ela disse:

– É um enviado de Deus que está vindo – ela sussurra como uma cúmplice do diabo – a irmã Mary estava de cochicho com o jardineiro Toby, mas nada me escapa, você sabe. Ela disse sobre um Lorenzo, um homem alto, loiro, que é abençoado pelos céus e veio interceder por nosso bem.

– Ele é alto? – sua mente se retém nessa informação.

Eva se cansou de ver todo dia aquele jardineiro baixinho nos matos, ou pior, o sacerdote Giovanni. Pensar numa presença masculina finalmente agradável fazia seus olhos brilharem e sua barriga esfriar de desejo. Ela trocou um sorriso safado com Lilith, que balançava a cabeça concordando e piscando.

Mas ela não podia se perder em valores tão superficiais. Era uma freira agora e tinha de se portar como uma, né? Era o que irmã Mary sempre dizia. Ela suspirou e, mesmo o brilho malicioso não tendo abandonado seus olhos, ela pergunta seriamente para Lilith:

– Mas quais são as intenções desse homem? Ele é confiável?

Lilith deu de ombros, incerta.

– Eu acho que em breve descobriremos.

Ela se agarrou ao em breve, mas querendo muito descobrir logo.

...

Na maioria das manhãs, depois de lavar milhões de roupas, Eva tinha que acompanhar o sacerdote em sua reza matinal e apagar as velas que ele pedisse pra apagar. Era algum tipo de ritual que precisava especificamente dele e dela, porque era Eva que tinha sido considerada a freira com maior nível de redenção e isso a fazia obrigada a se encaminhar nesse processo ritualístico. E também porque ela era suficientemente desocupada naquele horário pra poder ir junto e evitar do homem morrer de taquicardia só. Porque, convenhamos, o sacerdote Giovanni já não tem pouca idade.

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