MUDANÇA (2015 - 2018).

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No terceiro ano, em 2015, finalmente mudei de escola, o que me deixou aliviada por sair daquela sala após tantos anos, mas, ao mesmo tempo, senti tristeza por me afastar dos poucos amigos que fiz. No novo colégio, fiz novas amizades, melhorei meus relacionamentos com colegas e professores, e tentei me esforçar mais nas aulas, embora nem sempre com sucesso.

Em 2016, comecei a namorar um rapaz da minha idade, e surpreendentemente, o relacionamento se mostrou estável e relativamente duradouro, algo incomum para mim, que nunca havia ficado tanto tempo com uma pessoa.

Naturalmente, devido ao meu primeiro namoro, meus amigos e, claro, a busca pela aprovação no vestibular no final de 2015, não tive tempo para pensar no meu "antigo" crush da infância, com quem nunca tive a oportunidade de me aproximar. Durante esse período, se eu e Maurício trocamos quatro mensagens em uma semana, foi um feito notável. Na verdade, nossas conversas eram escassas, acontecendo a cada dois ou quatro meses, o que gradualmente nos distanciou ao longo do tempo.

Entretanto, essa dinâmica mudou no ano de 2018. Mesmo seguindo com minha vida, eu continuava a sonhar com meu ex-colega inúmeras vezes, chorava e, em algumas ocasiões, chegava a machucar minha própria pele como uma forma de lidar com a culpa avassaladora que sentia. Infelizmente, os cortes se tornaram um vício.

Enquanto eu estava na faculdade e meu relacionamentocomeçava a enfrentar problemas, retomei o hábito de escrever em meu diário emjunho daquele ano.

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Querido diário,

Acordei mal. Eu passei as férias bem, mas é a terceira vez em uma semana que me sinto assim. Aquela sensação de vazio, de incompleto. Nada faz sentido, nada parece bom o bastante ou ao menos interessante. Me arrasto, no automático, no modo avião. Só concordo com o que dizem e não discuto para não causar mal a mim. Minha voz sai baixa, meu corpo pesa e minha cabeça está doendo. Eu estou com fome, mas não quero comer nada. Nem mesmo sinto vontade de comer aquela batata frita ou a pizza que eu estava desejando. Também não quero tomar banho. Ir até o banheiro parece difícil, e ele está do meu lado. Me sinto pesada, acorrentada.

Quero fazer algo para mudar isso, mas eu não tenho vontade. Nem mesmo chorar consigo. Meus dedos só se movem de um lado para o outro no teclado enquanto eu leio o que está saindo. Me sinto desgastada e eu não sei o porquê disso. Não quero que meus pais me vejam assim. Não agora. Minha mãe não percebe e meu pai não se importa. Se eles notarem, só vão me machucar e eu vou me sentir pior.

Eu devia fazer umexercício ou escrever, mas eu não tenho vontade. Eu só me sinto triste, incapazde fazer qualquer coisa. Eu não gosto disso, isso vem do nada e permanece porhoras ou o dia inteiro. Eu quero que isso suma. Eu quero que isso suma. Porfavor, suma. Eu odeio me sentir assim.

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O ano de 2018 se tornou progressivamente insuportável, deixando-me confusa e perdida em relação aos acontecimentos em minha mente. Como resultado, meu diário começou a refletir essas emoções de maneira mais intensa e vigorosa.

Eu não conseguia compreender o que estava ocorrendo comigo, já que meu humor nesse ano se tornou ainda mais agressivo e hostil, levando-me quase à beira de um estado delirante.

Então, em setembro, comecei a convencer-me de que realmente estava vivenciando algo fora da realidade.

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Querido diário, 

Eu acho que o vi hoje. 

Não é certeza, é apenas uma sensação, um sentimento de reconhecimento que me fez parar e olhar para trás. Não sei porque fiz isso. Talvez na esperança dele olhar de volta. Eu passei depressa, vi um homem alto vindo de cabeça baixa, de óculos e cabelo ondulado. A pele branca, quase rosada, me lembrou o tempo que estudávamos juntos e ele ficava corado depois de um jogo na quadra. Ele engordou de novo também, mas isso é um detalhe. Ao menos não destruiu totalmente a imagem que eu tinha dele. Soube que era ele por causa do irmão mais novo. 

Hoje ele tem 17 anos. O irmão usava uma blusa azul e ele uma blusa branca – como a minha. Nós nos encaramos e eu soube na hora que era ele, eles são idênticos. Várias perguntas surgiram na minha cabeça naquele momento. 

Ele me viu? Me reconheceu? Abaixou a cabeça de propósito? Acredito que não, ele sempre andou de cabeça baixa, esse costume eu tenho certeza de que ele ainda tem. Mas e se tivesse visto? E se eu tivesse andado pelo canto da parede e acidentalmente esbarrado nele? Seria um encontro de frente e eu.... Eu veria aqueles olhos verdes de novo. 

Estariam arregalados e ele daria passos para trás, provavelmente gaguejando "desculpa" sem olhar para mim direito. Eu imagino o que eu teria falado se nós nos olhássemos.

 Conversaríamos? Sorriríamos? Talvez apenas ignorássemos o outro e seguiríamos andando. Quando parei e olhei para trás, ele dobrou a esquina. Senti algo apertar e pensei em ir atrás dele. Olhar de longe, ter certeza de que era ele. Ou então agarrar o braço e fazê-lo olhar para mim. Se eu fizesse isso, algo mudaria? Sei lá, como mágica? Provavelmente ele me trataria como uma estranha. Me sinto inquieta de novo. 

A imagem do homem alto de óculos e blusa branca andando com a cabeça baixa não sai da minha cabeça. Será ele? 

Depois de quase quatro anos... Será que eu finalmente vi o Maurício?

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Querido diário,

Ontem eu fiz de novo. Estava de noite, eu não sei o que sentia exatamente. Eu só precisava sentir o gosto e o cheiro daquilo. É tão bom. Ver ele escorrer pela pele, tingindo-a como se fosse tinta. Eu não sei, eu gosto dessa sensação. Mas não sei o que me fez voltar para isso. Aos poucos eu comecei a retornar a isso e agora sinto que não consigo sair. Ao mesmo tempo que me excita e me acalma, me constrange. Cubro o rosto e as coxas, os braços, os dedos.

É uma sensação ruim, o medo de alguém ver ou desconfiar me causa pânico. E, por falar em pânico, tive um surto na faculdade quarta-feira, dia 19 de setembro. A sensação de perseguição voltou e eu fiquei com muito medo de que as pessoas estivessem realmente me olhando e rindo de mim. Talvez por isso eu tenha voltado. Por causa do nervosismo, do medo.

O sangue me acalma. Mas ao mesmo tempo me assusta e me deixa mal. Porque no fundo eu não quero isso, mas não consigo fugir.


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⏰ Última atualização: Aug 14, 2023 ⏰

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