ALGUNS MESES DEPOIS...

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Querido diário, hoje é meu primeiro dia de aula no oitavo ano. Soube que a Yara vai estudar conosco.

Yara é uma amiga minha de infância. A gente se conheceu quando tínhamos quatro anos, mas depois que mudei de cidade e de colégio, a gente se afastou. Entretanto, ela vai estudar comigo de novo e eu acho que essa é a oportunidade perfeita para nos aproximarmos de novo.

Ano passado foi difícil. Fiquei de recuperação em quatro matérias e ainda tive que encarar o Maurício em dezembro e, ainda por cima, por duas semanas.

A gente meio que resolveu ignorar tudo o que eu falei para ele naquela sexta e resolvemos ficar como amigos, porque, afinal, estar com ele como amiga é mais importante, independente dele me querer ou não. 

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Guardo o diário e vou para a cozinha tomar café com meus pais, mantendo um silêncio quase palpável após receber a bênção. Enquanto saboreio o café da manhã, meu olhar desvia discretamente para o pequeno corte em meu pulso, resultado da noite anterior. Um gesto solitário, uma maneira de lidar com os tormentos internos que me assolam. Às vezes, parece que as paredes estão se fechando e as sombras ganham vida, uma luta interna que venho travando há alguns dias e que ainda não compartilhei com ninguém.

Apesar de sentir um certo alívio ao ir para a escola, também enfrento desafios consideráveis. Não sou exatamente bem recebida na turma. Tanto professores quanto colegas parecem manter certa distância de mim. Hoje é o primeiro dia de aula, e escolho uma posição no fundo da sala, engajando-me em conversas animadas com minhas amigas. Porém, meu foco muda quando percebo a entrada de Maurício. Embora esteja concentrada em mexer no celular, sinto seu olhar sobre mim quando ele coloca sua mochila na cadeira à minha frente e vira para trás.

Resisto à tentação de olhar para ele ou iniciar uma conversa. Tenho a certeza de que ele cortou o cabelo e está à espera de algum comentário ou brincadeira minha. Ignoro a situação, mantendo minha cabeça baixa, e percebo que ele acaba voltando sua atenção para a frente da sala. No entanto, meu coração bate mais rápido, e uma onda de vergonha e desconforto me invade, relembrando o dia 20 de agosto do ano passado, que deixou uma marca profunda em mim.

Minha amiga Yara chega pouco depois, quebrando o ciclo de pensamentos perturbadores. Decido então concentrar-me na apresentação dela para as minhas amigas, compartilhando animadamente detalhes das nossas rotinas. No entanto, um conflito interno persiste. O problema é claro: meu ciúme exagerado.

Quando Yara reaparece após alguns meses, com cabelos lisos, negros e longos, exibindo uma beleza deslumbrante, uma onda de fúria surge dentro de mim ao perceber que ela está próxima demais de Maurício. Minhas emoções à flor da pele levam-me a agir impulsivamente, agarrando o pulso dela com firmeza e proferindo as palavras:

— Fique longe do Maurício.

Inicialmente, ela me observa sem expressão, mas em seguida, seu semblante se fecha e ela responde que não tem qualquer interesse nele. O resto do dia passa em um clima de tensão entre nós, e a sensação de ter agido de forma equivocada fica cada vez mais forte.

À noite, pelo MSN, reúno coragem para enviar uma mensagem a Yara, pedindo desculpas pelo meu comportamento impulsivo. Felizmente, ela compreende e aceita minhas desculpas, e retomamos nossa proximidade, como costumávamos ter anos atrás, fortalecendo ainda mais nossos laços.

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