Os meus sentimentos em relação aos quinze anos sempre foram complexos, permeados por uma sensação de indiferença e descontentamento. Nunca consegui entender completamente a efusão de alegria e festividades em torno dessa idade. Parecia exagerado investir tanto tempo e energia em algo que, para mim, carecia de real significado ou importância.
Eu lutei para superar o que chamava de "o dia da escada", uma tentativa inútil que, lamentavelmente, me perseguia. Ao longo desse ano e dos subsequentes, esse episódio continuava a invadir meus sonhos, uma e outra vez, como se buscasse uma residência permanente em minha mente.
Apesar de nunca ter sido abalado por rejeições anteriormente, o fato de ser rejeitada por Maurício, e de forma tão humilhante, foi uma experiência dolorosa e desconcertante. No entanto, contrariando as minhas expectativas iniciais de afastamento, essa situação estranha e constrangedora acabou por nos aproximar ainda mais. Curiosamente, o "dia da escada" alimentou um sentimento possessivo dentro de mim, que se intensificava a cada dia, especialmente devido à preocupante dependência que eu tinha desenvolvido por medicação.
Foi nesse período que meus pais, preocupados com os meus surtos noturnos e o crescente clima de apreensão, decidiram buscar ajuda profissional e me encaminharam a uma psiquiatra. As noites, que antes eram um refúgio, tornaram-se assustadoras, com a sensação de presenças no meu quarto e a ilusão de paredes se fechando sobre mim. No entanto, o verdadeiro tormento residia nas vozes que ecoavam na minha mente.
Embora eu acreditasse que minhas experiências eram genuínas, meus pais e até mesmo a psiquiatra insistiam que tudo estava na minha imaginação, ou talvez fosse resultado dos medicamentos que eu tomava. Como consequência, a medicação foi interrompida abruptamente, sem o devido processo de desmame, sendo substituída por comprimidos de alta dosagem que me mergulhavam em um estado de dopagem por semanas a fio.
Uma situação constrangedora veio à tona quando, durante um simulado, os efeitos desses medicamentos me fizeram adormecer na sala de provas, resultando em olhares de zombaria e murmúrios dos meus colegas que, compreensivelmente, não entendiam o que estava acontecendo.
O início do Ensino Médio se revelou um período desafiador. Minhas notas declinaram ainda mais, minhas crises se agravaram e o relacionamento já conturbado com Maurício parecia naufragar em brigas e desentendimentos frequentes.
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C O R R E N T E S
Roman d'amour"Querido diário, hoje é meu aniversário de vinte e quatro anos e sabe qual é o meu desejo? Beijá-lo como se fosse a primeira vez..." Verônica e Maurício poderiam ter trilhado uma jornada semelhante à do casal icônico 'Eduardo e Mônica' da música da...