❧ Capítulo I

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Sentiram saudade de Jaylise? Preparadas para o último livro dos nossos alecrins?

Eu não.

O sol brilhava do lado de fora com um vigor invejável, deixando todo o campus em um tom dourado único de fim de tarde

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O sol brilhava do lado de fora com um vigor invejável, deixando todo o campus em um tom dourado único de fim de tarde. De onde eu estava, escondida sob dois casacos grossos e enfurnada em uma sala quentinha com mais umas cem pessoas espalhadas pelas cadeiras ao meu redor, até poderia me enganar pensando que o dia estava gostoso.

Não estava.

Se tem uma coisa que aprendi morando há quase quatro anos em Providence é que, aparentemente, o calor não gosta de se fazer presente nessa cidade. Aqui, o frio tem livre domínio. Ele se instaura com uma precisão invejável, logo no fim de setembro, mas, muito diferente da Carolina do Sul, no Norte os termômetros se mantêm baixos até meados de maio.

MAIO.

E eu odeio frio.

— Annelise, você está com cara de quem quer cometer um assassinato.

Torci o nariz, me ajeitando melhor dentro dos dois casacos e quase sumindo no meio de suas golas com fartos pelinhos. No púlpito, alguns bons metros abaixo, o senhor Donovan dissertava sobre cores e sombras com uma felicidade invejável, não me contaminando.

— Eu estou com frio — resmunguei, olhando de esguelha para Neelan a tempo de vê-lo suprimir a risada. — Ei, não ria! Está frio de verdade!

— Não. Está fresco.

Fresco é a uma ova. Onze graus celsius não é fresco nem aqui, nem na China.

Quando a aula acabou, longas duas — e frias — horas depois, eu esperei que Neelan fosse conversar com o professor sobre a sua escolha de aula eletiva para o último semestre do curso. Ele queria fazer Curadoria Crítica, mas no site avisava que todas as vagas já estavam preenchidas. Como o senhor Donovan seria o ministrante, eu dei a ideia de o garoto ir conversar direto com o professor para ver se conseguia algo.

A esperança é a última que morre, não é?

— E então? — perguntei quando o vi se aproximar, já no último degrau das fileiras de assentos. Um sorrisinho esperançoso brincava em seus lábios, me antecipando de que a conversa fora no mínimo boa.

— Ele disse que, de fato, as vagas já estão preenchidas. Foi o primeiro curso que fechou em menos de um dia de inscrição — respondeu, passando a me acompanhar na direção da saída da sala, acenando para alguns colegas nossos ao passarmos por eles. — Mas, depois de eu quase me arrastar e dizer que esse curso de primavera vai ser incrível e muito útil para a minha carreira, já que quero virar um curador, ele disse que vai conversar com a diretoria para abrir algumas vagas a mais. Só preciso ficar de olho no site.

— Vê se não perde a data dessa vez.

Neelan gemeu em negação.

— Juro que não. Vou abrir a página e só a fecharei quando fizer a inscrição, nem que para isso eu tenha que dormir em frente ao computador e ficar sem fazer xixi nesse meio-tempo. É sério.

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