Capítulo 3

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O som da chuva caindo no teto e no chão.

Olhava para as mesas vazias, enquanto o garçom terminava de limpar a última mesa. O som da música já estava baixo. Notou quando ele virou-se para o dono do bar que estava atrás do balcão. Este levantou o braço fazendo um gesto no pulso onde estava o relógio, indicando que logo iriam fechar. Ele levantou o copo, sinalizando que era a última e que mandassem a conta.

Seus olhos ardiam, já deviam estar vermelhos. A cabeça zonza já completamente tomado pela embriaguez, muito embora não estivesse tão bêbado que não pudesse ter consciência de quem era e de onde estava.

- É isso Rodrigo - dizia-lhe a voz dela em suas lembranças - acabou!

- Se é isso que você quer... posso me despedir da Raquel?

- Tudo bem, só não demora. Eu espero ela lá embaixo... Filha, vem cá... vem se despedir do seu pai!

- Oi meu amor!

- Papai... a mamãe disse que a gente não vai mais morar com o senhor!

- Isso mesmo filha!

- O senhor vai viajar por causa do trabalho de novo?

- Não filha... não é isso não. O papai e a mamãe vão morar em lugares separados daqui pra frente. Mas olha... você vai poder ver o papai sempre que quiser..."

Raquel...

Ele via agora seus olhos grandes e castanhos que choravam enquanto seus braços se prendiam em volta do pescoço. Lembrava-se ainda nitidamente do calor que sua filha lhe transmitia. Só Deus sabe o quanto lhe custara desfazer-se do abraço da filha e a levá-la até o elevador.

Raquel...

Malena...

Lembrou-se da filha de seu primeiro casamento.

Como ela estaria agora? Já deve estar com uns dezessete anos. Mas já não a via há anos.

"Achei que dessa vez iria fazer as coisas direito, mas agora mais uma filha minha vai crescer me odiando, envenenada pelo ressentimento de mais uma ex-esposa que vive me acusando de ter trocado a família pelo trabalho".

Olhava para o copo borbulhante enquanto ouvia a voz de seus pensamentos e dos pingos de chuva que caíam na rua vazia. De súbito, o brilho da tela do celular que estava sobre a mesa o tirou daquele estado de autopiedade, ao ver o nome de quem estava lhe fazendo a chamada.

Jaime, a sua fonte que trabalhava na PM.

Atende.

Escuta a voz do outro lado dizendo-lhe:

- Alô! seu Diógenes Sinope... aqui é o Jaime! Mermão... tem um furo aqui pra tu, ninguém aqui ainda apareceu pra cobrir... tu tem que vir agora pra Maracanaú! Vou te passar o ender...

- Tá louco cara... eu não tô podendo dirigir agora... mesmo se o metrô tivesse já funcionando eu tô longe da próxima estação e onde é que tem ônibus pra Maracanaú a essa hora?

- Porra mah! Dá teu jeito! A coisa aqui é grande! Muito grande! Se tu quiser, eu só posso segurar aqui por mais meia hora, mas já já vai ter gente até do estrangeiro pra cobrir isso aqui. Pega um táxi, UBER, o carái de asa, mas vem pra cá! Se tu não tiver aqui, tu vai se arrepender!

A gravidade com que ele falou fez com que pulasse imediatamente da cadeira e ficasse imediatamente em alerta. Jaime era um cara um objetivo, não costumava aumentar as coisas... se ele dizia que a matéria era grande, era porque realmente tinha importância, mas o que poderia ser tão especial há essa hora?

E em Maracanaú!

Tirou uma caneta do bolso da frente da calça e o guardanapo que estava em cima da mesa...

- Fala aí onde é que é!

- Tá, anota aí!

O GRANDE IRMÃO OU A VERDADE SOBRE FERNANDA CLIFFORDOnde histórias criam vida. Descubra agora