Capítulo 5

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ANNA

Eu não vi o carro vindo.

A verdade é que, nesse mês que se passou, eu tenho reparado muito pouco nas coisas que acontecem ao meu redor. É como se a vida tivesse sido a paisagem que vemos de dentro de um carro em movimento. As árvores, prédios e pessoas passando pela janela enquanto nós apenas assistimos, de fora, aquilo acontecer. Foi isso que significou esse tempo desde que o Andrew se foi.

Está difícil, demais, viver sem ele aqui, sinceramente, mais do que achei que seria. Tudo me lembra do meu namorado, dos planos que tínhamos e do futuro interrompido. Acredito que já devo ter passado pelas chamadas "fases do luto". A primeira, a da negação, ocorreu logo no dia seguinte, no enterro do Andrew. Eu não conseguia, ou não queria acreditar que ele tinha morrido e que eu nunca mais o veria. Aquilo parecia surreal demais pra mim.

A segunda, a raiva, veio quando eu fiquei me perguntando se isso era justo comigo, porque não parecia justo eu perder alguém que eu amava enquanto as outras pessoas seguiam suas vidas maravilhosamente bem. A terceira fase, a barganha, vinha exatamente quando eu me arrependia dessa revolta e me lembrava do quanto Andrew foi altruísta ao doar seus órgãos a pessoas que estavam na fila. Lembrei que isso foi o que me fez prometer que seguiria em frente, ainda que não soubesse como.

Atualmente, acho que estou vivendo a fase da depressão. Só sei chorar e fico trancada no quarto o dia inteiro. Sinto uma angústia, um vazio em meu peito que parece que não passa nunca, por mais que eu tente e me esforce, não consigo parar de sentir isso. Não consigo ver como seria possível passar pela última fase, aquela da aceitação. Ainda parece impossível apenas seguir com a minha vida. Como eu poderia se me sinto mal a cada vez que penso em deixar o Andrew ir?

Hoje cedo, Leah e Clair, minhas duas melhores amigas, vieram tentar, mais uma vez, me fazer sair do quarto e passear um pouco, pra me dar uma animada.

***

Vamos, Ann! Não vai ser a mesma coisa sem você.- Leah disse tentando me persuadir a ir ao centro com ela e Clair, comprar roupas e acessórios novos para o ano letivo que iniciaria em breve na GG.

É verdade amiga. Poxa, tá um dia tão lindo lá fora! Sair,olhar as pessoas, sentir o vento no rosto vai te fazer bem...- Clair diz, ajudando Leah na tarefa de tentar me tirar de casa.

Gente, eu não tô no clima pra nada disso. Eu não consigo! Vocês sabem que eu tento, me esforço mas...não dá.- digo simplesmente.

Oh, Ann- Leah diz andando até mim e me abraçando, assim como Clair.- Eu entendo, de verdade, como você tá se sentindo. Perder alguém que amamos é uma dor imensa. Mas a gente não pode, nunca, deixar essa dor nos consumir por mais difícil que seja. Foi isso que você me disse quando eu tava passando por isso, lembra?

Parecia tão mais fácil falar e não viver o mesmo...- confesso com pesar.

Mas você tava certa, Ann. Eu segui em frente, embora meu pai esteja nas minhas memórias pra sempre e eu ainda sinta falta dele, hoje são as memórias felizes que me vêm à mente quando penso nele.

Fora que...onde quer que o Andrew esteja, ele não vai gostar de te ver assim, amiga, triste, sem luz. Não foi por essa Anna que ele se apaixonou...- Clair diz.- Foi pela menina alegre, extrovertida e sorridente que você sempre foi...

Eu...não sei se alguma vez vou conseguir ser assim de novo...

Claro que vai. A gente vai estar aqui pra ajudar você, Anna. Não vamos te abandonar agora, né Clair?- Leah diz

Meu coração é seu| Trilogia Curados- livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora