ANNA
Eu não vi o carro vindo.
A verdade é que, nesse mês que se passou, eu tenho reparado muito pouco nas coisas que acontecem ao meu redor. É como se a vida tivesse sido a paisagem que vemos de dentro de um carro em movimento. As árvores, prédios e pessoas passando pela janela enquanto nós apenas assistimos, de fora, aquilo acontecer. Foi isso que significou esse tempo desde que o Andrew se foi.
Está difícil, demais, viver sem ele aqui, sinceramente, mais do que achei que seria. Tudo me lembra do meu namorado, dos planos que tínhamos e do futuro interrompido. Acredito que já devo ter passado pelas chamadas "fases do luto". A primeira, a da negação, ocorreu logo no dia seguinte, no enterro do Andrew. Eu não conseguia, ou não queria acreditar que ele tinha morrido e que eu nunca mais o veria. Aquilo parecia surreal demais pra mim.
A segunda, a raiva, veio quando eu fiquei me perguntando se isso era justo comigo, porque não parecia justo eu perder alguém que eu amava enquanto as outras pessoas seguiam suas vidas maravilhosamente bem. A terceira fase, a barganha, vinha exatamente quando eu me arrependia dessa revolta e me lembrava do quanto Andrew foi altruísta ao doar seus órgãos a pessoas que estavam na fila. Lembrei que isso foi o que me fez prometer que seguiria em frente, ainda que não soubesse como.
Atualmente, acho que estou vivendo a fase da depressão. Só sei chorar e fico trancada no quarto o dia inteiro. Sinto uma angústia, um vazio em meu peito que parece que não passa nunca, por mais que eu tente e me esforce, não consigo parar de sentir isso. Não consigo ver como seria possível passar pela última fase, aquela da aceitação. Ainda parece impossível apenas seguir com a minha vida. Como eu poderia se me sinto mal a cada vez que penso em deixar o Andrew ir?
Hoje cedo, Leah e Clair, minhas duas melhores amigas, vieram tentar, mais uma vez, me fazer sair do quarto e passear um pouco, pra me dar uma animada.
***
— Vamos, Ann! Não vai ser a mesma coisa sem você.- Leah disse tentando me persuadir a ir ao centro com ela e Clair, comprar roupas e acessórios novos para o ano letivo que iniciaria em breve na GG.
— É verdade amiga. Poxa, tá um dia tão lindo lá fora! Sair,olhar as pessoas, sentir o vento no rosto vai te fazer bem...- Clair diz, ajudando Leah na tarefa de tentar me tirar de casa.
— Gente, eu não tô no clima pra nada disso. Eu não consigo! Vocês sabem que eu tento, me esforço mas...não dá.- digo simplesmente.
— Oh, Ann- Leah diz andando até mim e me abraçando, assim como Clair.- Eu entendo, de verdade, como você tá se sentindo. Perder alguém que amamos é uma dor imensa. Mas a gente não pode, nunca, deixar essa dor nos consumir por mais difícil que seja. Foi isso que você me disse quando eu tava passando por isso, lembra?
— Parecia tão mais fácil falar e não viver o mesmo...- confesso com pesar.
— Mas você tava certa, Ann. Eu segui em frente, embora meu pai esteja nas minhas memórias pra sempre e eu ainda sinta falta dele, hoje são as memórias felizes que me vêm à mente quando penso nele.
— Fora que...onde quer que o Andrew esteja, ele não vai gostar de te ver assim, amiga, triste, sem luz. Não foi por essa Anna que ele se apaixonou...- Clair diz.- Foi pela menina alegre, extrovertida e sorridente que você sempre foi...
— Eu...não sei se alguma vez vou conseguir ser assim de novo...
— Claro que vai. A gente vai estar aqui pra ajudar você, Anna. Não vamos te abandonar agora, né Clair?- Leah diz
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Meu coração é seu| Trilogia Curados- livro 1
RomanceMichael Mower estava vivendo o melhor momento da sua vida. Havia acabado de receber um coração novo, após um ano na fila de transplante. Ele queria aproveitar essa segunda chance para viver intensamente tudo que a vida lhe oferecia. E sem se apaix...