Capítulo 6

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ANNA

Eu nem sabia direito porque tinha feito aquilo. Já fui mais racional que isso. Me jogar nos braços de um desconhecido não era algo que eu, nem de longe, faria. Mas lembro que, no dia que quase fui atropelada, seus braços me seguravam tão firmemente que me faziam sentir segura. De alguma maneira, eu quis sentir aquela sensação de novo. Então apenas o abracei e comecei a chorar, chorar de soluçar porque, sinceramente, eu já não conseguia mais tentar fingir que tudo estava bem quando, na verdade, não estava. E ele não me julgou ou me empurrou, apenas afagou minhas costas com cuidado e deixou que eu chorasse.

Aos poucos, meus prantos cessaram e minha razão começou a falar mais alto, fazendo eu me dar conta de que estava na porta do colégio, abraçando um desconhecido e chorando em seu ombro desesperadamente enquanto, apesar de ter me deixado fazer isso, ele deveria estar me achando uma maluca sem noção.

— Ah...- digo o empurrando levemente e saindo do abraço- Desculpa, eu simplesmente não sei o que me deu. Eu nunca fiz isso.

— O que? Chorar? – ele pergunta divertido e nego com a cabeça.

— Não...me jogar nos braços de um desconhecido. Imagina só, passar por um lugar e perguntar se uma pessoa precisa de algo e ela simplesmente te atacar? Meu Deus, que vergonha.

— Ei...eu perguntei do que você precisava. E acho que isso era um abraço.- ele diz simplesmente- De verdade, eu nem me importei. Além do mais, eu...lembrei de você daquele dia, no Centro. Quer dizer, era você, né?

— Sim. Era eu sim...- digo – Você, mais uma vez, me salvando.

— Então eu já não sou mais tão desconhecido assim, né?

— Claro que é. Eu nem sei seu nome. E se você for um stalker que tá me seguindo só pra se aproximar de mim? – pergunto de brincadeira, buscando quebrar o gelo daquela situação constrangedora, mas ele me olha sério, o que me deixa apreensiva.

Ele era mesmo um stalker?

— Michael.

— O que?

— Meu nome, Michael Mower. E eu não estou mentindo pra você. Não sou um stalker ou serial killer. Só...apareci por acaso. Eu juro. Eu vou estudar aqui na GG esse ano...Acabei me atrasando e aí...eu te vi aí. Nem sabia que era a mesma moça até você se virar.

— Tudo bem, Michael...- digo- E já que você não é um stalker, me chamo Anna. Anna Martin.- digo sorrindo e estendo a mão, que ele aperta em retribuição.

— Então, Anna...por que você estava aqui sozinha, chorando tanto?- ele pergunta – Claro, se você se sentir à vontade pra me contar.

Respiro fundo antes de começar a falar, até porque, depois da minha cena com ele, o mínimo que Michael merecia era o motivo daquilo tudo, e além do mais...

— Bom, acho que você vai acabar descobrindo de um jeito ou de outro, já que vai estudar aqui e as notícias correm. Meu namorado morreu recentemente. Ele sofreu um acidente mês passado e não resistiu. Fizeram um vídeo de homenagem pra ele, lá no auditório já que ele era muito querido aqui e eu...não aguentei assistir.

— Ah, Anna. Eu...eu não sei nem o que falar porque você já deve ter ouvido "eu sinto muito" ou "meus sentimentos" até demais né?

— São as duas frases que eu mais escuto depois de "você precisa seguir em frente"- digo e Michael ri.

— Sei bem como é isso.

— Sabe?

— Sim. Não no sentido de já ter perdido alguém mas...de ouvir as mesmas frases motivacionais de todo mundo, que não sabe nada do que você tá passando como se isso fosse melhorar alguma coisa quando na verdade...

Meu coração é seu| Trilogia Curados- livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora