Aposta feita?

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Hailee Steinfeld

Voltar para Flórida definitivamente não era o meu sonho, mas era um alívio se comparado ao inferno que vivi no internato. Passei dois anos trancada em uma escola, aproveitando a companhia de várias garotas até que fui descoberta. Algumas meninas reclamaram que eu não retribuía os sentimentos delas, então umas cinco colegas resolveram me denunciar como pervertida. Engraçado como elas não pareciam tão convencidas disso quando estavam na minha cama.

Meus pais sempre souberam que sua filha era assim, então até se surpreenderam pelo fato de eu ter aguentado dois anos no colégio. Mas agora estou de volta em casa e me sinto mais viva do que nunca. Passei o verão consertando a minha moto para poder ir para a nova escola, já que meus pais não quiseram me dar dinheiro para o conserto. Tudo bem, eu provavelmente não merecia mesmo, mas isso pouco importava. Eu só queria um meio de transporte para não precisar andar por aí a pé.

Nunca cheguei a ter grandes amigos em Florida, por ser uma menina complicada, a maioria dos pais afastavam seus filhos de mim. O único que realmente foi meu amigo era Ross Lynch, nos encontramos várias vezes no verão e ele até me ajudou com minha moto. O garoto sempre sonhou em ter uma moto como a minha, a sua era um pouco mais antiga e velha. Não tínhamos a mesma condição, sempre fui mais rica que o Ross, mas nunca me importei com isso, ele sempre foi um bom amigo.

No primeiro dia da tão falada Flórida High, apostamos uma corrida para ver quem chegaria primeiro. Ross ficou para trás bem ligeiro, o motor da minha moto era muito melhor do que a dele. Quando pisamos em frente à escola, riamos como antigamente e eu me sentia feliz por nossa amizade nunca ter mudado.

- Você é Hailee Steinfeld?

Assustei-me com a voz ao meu lado, virei o rosto encarando uma loira, que apesar de estar usando saltos continuava mais baixa que eu. Os cabelos naturais caíam por seus ombros formando pequenos cachos ao final, havia um batom vermelho em seus lábios carnudos e uma sombra bem leve nos olhos.

- Sou.

Respondi, em êxtase com a garota a minha frente.

- O diretor pediu para mostrar a escola para você. - tentou sorrir, mas não conseguiu, parecia estar sendo obrigada. - Sou Sabrina Carpenter, presidente estudantil.

Apresentou-se, mas não me estendeu a mão.

- Tudo bem, eu mostro tudo a ela.

Ross falou. O encarei quase comendo com os olhos.

A garota era linda e poderia ser minha primeira aproximação na escola, mas meu amigo parecia estar acabando com isso.

- Tanto faz, Lynch. - a loira
falou revirando os olhos. - Só
diga ao diretor que fui uma ótima
acompanhante.

- Claro que digo.

Murmurei com um sorriso travesso nos lábios.

Acredito que a mesma não viu já que deu as costas antes mesmo de me ouvir. Não pude deixar de admirar a espetacular vista enquanto ela se afastava de mim.

- Hailee! - Ross chamou minha atenção. - Nem tente, essa ai é pior que você.

- 0 que? - franzi a testa o encarando. - Pode me contar tudo.

Meu amigo fez sinal para que eu o
seguisse. Andamos pelos corredores
da escola e parecia bem mais
movimentado que o internato. Ross
me encaminhou para uma sala onde
havia um pequeno computador, folhas por todos os lados e um quadro
empoeirado. Sentamos um ao lado do
outro e o garoto riu antes de começar a falar.

- Sabrina Carpenter, pode perguntar a quem quiser, todos a conhecem. -Ross falou como um escritor que
narra a história, isso era típico dele.
- Todos a intitulam como abelha
rainha, uma destruidora de corações
que mesmo tendo tantos aos seus pés,
nunca fez questão de se apaixonar.
A loira na verdade, adora pisar
nos sentimentos de todos sem pena
alguma. É isso, todos a querem, mesmo sendo lésbica assumida até os garotos desejam, mas ninguém a têm.

- Porra... - murmurei. - Quer mesmo ser escritor ein, fez todo esse drama para me falar de mais uma riquinha mimada? Sei muito bem do poder dos Carpenter.

- Mas não sabe o principal. - ajeitou
sua postura na cadeira. - Sabrina é
filha única, quando se assumiu lésbica
a mãe não aceitou e o que ela fez?
Colocou a própria mãe para fora de
casa, hoje a abelha rainha vive com
sua avó já que seu pai faleceu a alguns
anos.

- Minha vida é muito mais
interessante que a dela.

Dei de ombros.

- Aliás, como pode ver a Sabrina não
vai muito com a minha cara.

- Por que você é bolsista?

- Não sei ao certo, nunca gostou de
mim.

Ele não deveria se estressar por causa
de uma mimadinha que tem tudo
nas mãos enquanto ele batalha por
sua vaga na escola. Encarei Ross,
sentindo uma leve irritação pela loira
provavelmente ser uma babaca com
todos.

Será que todos anos que tive fora, meu amigo esteve sempre sozinho?

- Ei, você ainda curte fotografia?

Perguntou, abrindo um sorriso.

- Amo. - confessei. – Minha câmera
ficou aqui na Flórida, mas nesse
verão tirei muitas fotos com ela.

- Então, vai me ajudar com esse
jornal.

Abriu os braços. Corri meu olhar pelo
local empoeirado.

- Isso é um jornal?

- Ainda não, mas vai ser. Nós vamos
fazer ser.

A animação de Ross me contagiava tanto que eu desejava meu último ano do ensino médio sendo o
melhor de todos. Meu pensamento
foi rapidamente na loira esnobe,
sentia que de alguma forma teria
que coloca-la em seu lugar. Pelo jeito
se acha a dona do mundo aqui na
Flórida High, mas isso deveria
mudar, com certeza serei a pessoa que irá fazer tal feito.

- Você disse que a Carpenter não se
apaixona, certo?

Perguntei, divagando.

- O que foi? Quer mesmo ficar com
ela? É furada, Hailee.

- Só quero algo para me divertir e ela
parece ser um passatempo perfeito.

- No que está pensando?

Sorri travessa para meu amigo,
pensando que Sabrina pode tornar meu ano bem mais empolgante. Preciso de algo para focar, um desafio e ela é um perfeito. Nossa, mal cheguei nessa escola e já estou adorando o que posso causar.

- Você adora minha moto, não é?

Ross franziu a testa.

- Sabe que sim.

- Então, se até as férias Sabrina não
estiver apaixonada por mim, minha
moto é sua.

- Está louca? São apenas quatro meses
pra conquistar aquela pedra de gelo. - Ele riu negando. - Isso é uma aposta? - assenti confirmando. - O que tenho que dar em troca?

- Sua moto.

Falei como se fosse óbvio.

- Nem fudendo.

- Qual é, Ross? Me ajude a tornar esse
ano mais animado.

- Tanto faz. – rendeu-se. – A Sabrina
nunca vai se apaixonar, ainda mais por você, são igualzinhas.

- Aposta feita?

Estendi a mão em sua direção.

- Feita.

Apertamos as mãos, sorrindo.

Me aguarde Carpenter.

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