Observo o homem sentado à minha frente, ele está em minha poltrona, com o nariz enterrado em um caderno, rabiscando com um senso de propósito. Eu estreito meus olhos, estudando a maneira como seus olhos são escuros, tanto a cor, tanto em torno deles, existe apenas um brilho sútil neles que chama minha atenção. — Seus olhos são assim mesmo ou você faz alguma coisa neles? — Eu pergunto.— Até quando você vai continuar me fazendo perguntas estúpidas? — Ele diz, inclinando a cabeça para o lado.
— Até você responder alguma delas.
Ele suspira — Uma. O que você quer saber? — Ele pergunta, sem tirar os olhos do caderno.
— Qual o seu nome? — Os cantos da boca dele se curvam em um leve sorriso.
— Eu não tenho um. — Ele diz simplesmente, voltando para seu caderno. — Humanos tem nomes, eu não. Não sou humano.
— Impossível! — Eu digo, praticamente gritando a palavra. — Você tem que ter um nome! — Seu sorriso fica um pouco mais largo, e tenho a sensação de que ele pode estar tirando sarro de mim.
— Bem, eu não tenho. — Diz ele, seu tom ainda uniforme.
O homem à minha frente está tão concentrado em escrever que me sinto quase invisível. Ele nem levanta os olhos quando faço uma pergunta, simplesmente levanta a cabeça para responder enquanto continua rabiscando em seu caderno. Seus olhos são escuros, quase intensos demais para a sala.
— O que você tanto escreve nesse caderno? — Pergunto-lhe.
— Não é da sua conta.
— Ei! Não precisa ser tão rude. - Eu digo, ainda olhando para ele.
De repente ele me encara. Seu olhar tão intenso que me faz engasgar. — Este caderno... — Diz ele, e quando fala, sua voz é quase um sussurro. — Contém os segredos do mundo.
Estou um pouco surpresa com a resposta dele, mas não deixo transparecer. — Oh, é sério? Então por que você não me deixa ler?
— Porque é mentira, idiota. — Ele diz antes de voltar a escrever. Pego um travesseiro e jogo nele, ele olha para cima com uma expressão de aborrecimento no rosto.
— Ei! — Ele exclama, e eu não posso deixar de rir de sua expressão. — O que você quer, Lúcia? — Sua voz está tingida com um leve aborrecimento que não consegue disfarçar o menor indício de diversão. Reviro os olhos para ele, sentindo-me um pouco insultada pela maneira como ele está falando comigo, mas acho que ele está apenas tentando me irritar.
— Você está me seguindo o tempo todo então poderia pelo menos falar comigo. — Eu respondo. Ele ri baixinho, seus olhos ainda fixos em mim.
— O quê? Seguindo você o tempo todo? Garota, eu não te vejo desde ontem de manhã. Eu sou muito ocupado, sabia? — Ele diz, seu sorriso apenas adicionando combustível ao fogo. — Antes você queria que eu fosse embora e agora quer minha atenção? — Ele zomba de mim, seus olhos com um brilho divertido. Pego outro travesseiro e jogo nele, mas esse acerta seu rosto e ele faz um som que é meio gemido, meio rosnado.
— Eu não quero sua atenção. Eu nem te conheço, esquisito. — Ele revira os olhos e coloca o travesseiro de volta na cama.
Sento-me na beira da cama, aproximando-me do homem sentado na poltrona ao meu lado. Ele me olha com cautela enquanto me aproximo, claramente incerto sobre minhas motivações. — O que? — ele pergunta, sua voz baixa e cortante. Estendo minha mão, apontando para a perna de sua calça.
— Eu não posso tocar em você, posso? — Eu digo, minhas palavras misturadas com curiosidade e uma pitada de desejo. — Mas, bem, isso vale apenas para sua pele, não é? — Eu me encontrei me aproximando dele, incapaz de resistir ao fascínio que ele exercia sobre mim. Minha mão prestes a deslizar pela barra de sua calça. Eu pude ver o brilho de curiosidade em seus olhos antes que ele se afastasse. Ele parecia um pouco nervoso com a hipótese do que poderia acontecer.
— Eu não sei. — Ele responde, seu tom cauteloso. — Mas é melhor não arriscar.
Eu sabia que ele era diferente no momento em que coloquei meus olhos nele. Havia algo na maneira como ele se comportava, com um ar de poder que era diferente de tudo que eu já havia visto antes. Mas também havia algo de trágico nele, uma escuridão em seus olhos que sugeria que ele vivia sob uma nuvem de tragédia e isolamento. Apesar do perigo, eu me sentia atraída por ele. Havia algo nele que me chamava, me puxando para ele como se ele fosse um imã e eu fosse feita de ferro. Eu ansiava por seu toque, mesmo sabendo que nunca poderia tê-lo. Eu me perguntei como seria para ele ser incapaz de tocar em alguém sem causar danos. Eu me perguntei como seria ser amaldiçoado com tal poder e como deveria ser a sensação de estar tão sozinho.
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Death Touch - Bill Kaulitz
FanfictionO ceifeiro caminhava pelos sagrados salões da morte desde que conseguia se lembrar. Ele nunca conheceu o amor, nunca conheceu a bondade ou a compaixão, apenas a realidade fria e insensível de seu dever. Mas então ele se deparou com um garoto ao qual...