“Imploro-te, conceda-me tua indulgência e alívio de nossas aflições. Que tua influência malévola dê um fim às minhas angústias, ainda que seja à custa de nossa própria humanidade.“
Ela voltou a dobrar seus joelhos para dizer suas súplicas, não a qualquer deus, não ao deus que a salvou da morte e dor, mas sim, voltou a orar aos deuses que tanto degustam das aflições destinadas a vida mortal, se deliciam ao ver meros mortais, seres fracos e sem capacidade evolutiva a se humilharam em orações para que esses deuses possam “ajudá-los”, mas esses deuses têm suas vontades próprias e só fazem o que os beneficiem. Com Cassandra não foi diferente, ela orou, clamou, chorou e agonizou-se, porém, o único que ouvir seu clamor foi um demônio – não um deus -, mas um demônio que se beneficiou com seu desespero e torturou aqueles que machucaram sua chave a liberdade.
Sua voz era baixa, mas chegava aos ouvidos do demônio, que entediado, a ouvia.
Se estava a alguns metros dela, batia o pé repetidas vezes e passava a unha comprida na lateral do rosto: — Por que reza?
Murmurou o final da oração pondo as mãos alinhadas: — Huh? — olhou para ele — me conforta.
— E por que?
— Tenho esperança que os deuses me livraram do pecado, tirem a soberba e inveja da minha alma.
— Tcs... — reclamou o demônio — Isso não vai acontecer.
— Eu sei. — Se levantou do chão e se aproximou de onde ele estava sentado, ela observou seus olhos não se moverem nem mesmo quando ela andava em zigue-zague na frente dele, ele apenas tinha a ponta do dedo próximo ao fogo da fogueira esperando a carne do animal caçado assar — Gosto de pensar que um dia serei salva. Os deuses e fé aos mortais são uma chave que abre duas portas, a libertação, que nos faz agir de acordo com seus próprios desejos, e o medo, onde temer a irá dos deuses nos faz agir com a vontade deles, para assim, não termos que passar dos limites do côrtes.— suspirou, suas palavras foram como uma facada em si mesma, orar para si se tornou hipocrisia depois de tanto tempo e logo agora, depois de esta na presença do demônio — Como conheceu a Divindade?
— Fui muito perverso no passado.
Em silêncio ela permaneceu.
— Como você caiu nas mãos daqueles humanos?
Permaneceu um silêncio, até ela o olhar novamente: — Por que você se tornou o que é hoje?
O demônio franziu o cenho irritado: — Tcs — Ele pôs a mão na nuca — Criaturinha desprezível. Não se responde uma pergunta fazendo outra.
Uma linha reta surge nos lábios dela.
— Escute-me, você… — Ele apontou para ela – deveria, já que ela estava a frente dele e seu dedo apontou quase acima do fogo que os separava – disse irritado — Coma, magricela, não basta ser irritado por Galinarael agora tenho que te manter viva.Cassandra fungou o nariz, apoiou os braços na pedra atrás dela e manteve sua vista no céu sem lua.
Os estalos do fogo e os resmungou do demônio era os únicos sons da noite. Ali onde estavam, uma terra sagrada, um prédio derrubado e milenar, um local onde havia a presença grandiosa de magia, não pela presença do demônio – dono da terra – mas aquele lugar em específico era uma concentração densa de magia que mesmo a fraca mana que emanava dos pontos de ignição dela não faziam jus a um décimo, o local era vivo, mágico e especial.
Era sagrado ao demônio.
Um local particular a ele.
Seu território.
Seu domínio.
Ela, um ser de alma doente, não deveria pisar em um local tão vasto e mágico!Ela comeu e depois se deitou encostada a parede, se sentia mais confortável dormindo ao lado de um demônio do que humanos, se encolheu pelo frio da madrugada até sentir não só um grande casaco ser jogado sobre ela, mas ele se sentar próximo a ela, que diferente, tinha seu corpo em uma temperatura elevada, era como se ele estivesse sempre em brasas.
Por mais que se esquentasse, ainda se sentia fria e rígida. Cassandra passava suas unhas em parte de pele sensível e visíveis com cicatrizes antigas, as coçava, e voltava a abrir aquelas feridas finas e brilhantes.
Cassandra abriu os olhos, eles ardiam como se pegassem fogo, sangue escorria de dentro deles quando colocou as mãos sobre, sua respiração doía ao ponto de querer morrer, chiava e agonizava. Ela se sentou e encostou na parede, entre a vista avermelhada não encontrava a presença do demônio, novamente, apenas ela quando o sol clareou, tentou se levantar se apoiando na parede, deu apenas alguns passou longe de onde acordou, quando um frio na espinha lhe chamou atenção.— Há quanto tempo, Cassandra... — A voz rouca e arrastada se foi presente e amedrontadora para ela que se virou cambaleando — Minha menina... veja como está decadente... por que tenta se esconder de mim? Eu poderia ser seu eterno, seu ar, sua vida... Por que faz isso comigo? Porque sempre me abandona? — Ela olhou em todos os lados antes de ficar tonta e cair para trás — Eu sempre irei lhe encontrar, casulinho.
Ele apareceu à sua frente, tinha algo parecido um crânio nas mãos, calmamente, ele se aproxima dela que se arrasta para mais longe dele – suas pernas não se moviam, sua boca não saía voz, pedia socorro miseravelmente – que cantarolava uma melodia triste, contendo um cabuloso sorriso no rosto, passou a mão sobre o topo do crânio, se abaixou, deixou o crânio no chão e tira um punhal do cos, avançou sobre ela e cravou aquele metal em si repetidas vezes, que neste momento sua voz saiu.
Ela gritou, um som agudo saiu da sua garganta e se levanta de uma vez, a respiração ofegante, o peito doía e estava eufórica, o demônio ao seu lado se espanta com o barulho repentino. Ela o olhou, com lágrimas nos olhos ela se arrasta até ele.
— Zelofeade... — se curva diante dele — me mate, por favor. — lágrimas escorriam em seu rosto, as bochechas sujas e inchadas do choro — Me mate! Por favor... me mate!
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Eco Da Eternidade
FantasyEm um mundo sombrio e repleto de magia, Cassandra, uma jovem marcada pelo medo e angústia, escapa de anos de cativeiro nas mãos de traficantes cruéis. Desesperada, ela busca refúgio em um antigo templo sagrado, mas a liberdade é efêmera quando se vê...