II - Uma noite assombrada

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Corvos consomem os restos de uma garota, o cheiro embrulha o estômago de homem encolhido no canto do contêiner e antes que alguém possa tentar ajudá-lo, ele vomita no casaco que havia sido de uma garota. Ela foi levada assim como outros seis que foram arrastados pelos braços, alguns pelos cabelos, todos se debateram e gritaram para que alguém os salvasse. Me pergunto se alguns deles passaram a acreditar em alguma divindade. Se naquele momento em que suas vidas estavam nas mãos daqueles agentes de olhares frios e armas pesadas, eles pensaram que desperdiçaram anos de suas lamentáveis vidas não acreditando em alguém. Talvez eles tenham se arrependido por terem acreditado, porque não adiantou de nada. Sei disso porque o corpo que está servindo de alimento aos corvos foi uma daquelas pessoas, ela se recusou a sair no entanto. Os homens não se preocuparam em atirar na cabeça dela, eu estava ao seu lado quando aconteceu. O sangue atingiu meu rosto.

As gotas secaram em minha pele, não tive coragem de limpar, temi que acabasse me dando conta que havia uma vida ali. Restaram três de nós, éramos quarenta. Quarenta pessoas impossivelmente espremidas dentro de um contêiner sujo e cheirando a podridão, provavelmente houveram mais pessoas antes de nós, mais mortos do que seria possível contar. Além de mim, há outra criança, ela está quase morta e passei dias olhando para seu corpo encolhido, estranhamente paralisado. Ontem reuni coragem para verificar, apenas para descobrir que ela está viva, embora esteja queimando de febre.

O homem que acabou de vomitar estremece fortemente, talvez de dor ou de fome, quando o contêiner é aberto e uma faixa de luz solar entra. Me arrasto para o canto, me protegendo da luz que há tanto tempo não vejo. Parece que vai queimar meus olhos e quase não consigo ver o homem entrar, mas escuto o som das pesadas botas que se aproximam.

Ouço o tilintar do metal contra o chão do contêiner, o homem permanece parado.

Projeto meus olhos com a palma da mão antes de olhar para o que homem jogou no chão.

Facas. Três facas.

Sinto uma angústia profunda cair em meu peito e penso em meu irmão. Não ouso olhar para o lado, o cadáver dele está gélido e intacto. Não permiti que os corvos se aproximassem, os ataquei com meu casaco, atingindo-os sempre que se aproximavam.

– O último que sobreviver estará livre. – O homem diz, ríspido, sem nenhum sentimento em sua voz.

Não me mexo.

Acho que sou incapaz de matar o homem que restou, ele não parece uma pessoa ruim. Ele não vai me matar. E mesmo se fizer, não posso me defender. A HYDRA tentou me treinar, mas nada que fizeram pode mudar o fato de que sou apenas uma criança e que jamais serei forte como os agentes deles, talvez isso tenha feito eles me jogarem aqui.

Cometo o erro de olhar para o lado, para o cadáver de meu irmão e seu rosto doentiamente pálido. O cheiro começa a ser perturbador, não sei como ainda não vomitei e não sei como mantive seu corpo longe do ataque dos corvos. Quero abraçar ele, pressionar minha cabeça em seu peito para verificar seus batimentos mesmo sabendo que não vou encontrar um sinal de vida nesse corpo.

O primeiro ataque me tira da visão de meu irmão.

A lâmina sopra minha pele, atingindo diretamente minha bochecha. O corte arde como se fogo lambesse a pele, sangue emerge do corre e escorre por meu rosto. O ataque foi inesperado, cruel, eu olho para o homem fraco e magro que segura o cabo da faca com os dedos trêmulos. Parece que ele está à beira de lágrimas, tremendo violentamente, porém há uma determinação em seus olhos que fazem com que ele desfere o próximo corte.

A missão da minha vida - Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora