III - Bebendo com o Diabo

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(Capítulo não revisado. Meta para o próximo capítulo: 130 comentários.)


Abyssal surgiu em uma noite fria no outono, através das folhas secas e do sangue que pingava no piso de concreto do salão de treinamento. Empunhando uma faca em minha mão esquerda, eu cercava um garoto da minha idade, o jovem Elliot. Ele não parecia aterrorizado como o último garoto que matei, o alheio Stuart, mas imaginei que fosse porque ele era mais bem preparado.

O salão de treinamento escureceu lentamente conforme meus dedos agarravam o cabo da faca com força o suficiente para deixar os nós dos dedos pálidos. Elliot ergueu a faca, colocando a lâmina na frente de seus olhos. Não permiti que ele pensasse muito quando pulei em cima dele, o derrubando no chão. A cabeça dele atingiu o concentro, um corte abrindo a lateral da cabeça, o sangue emergindo fluidamente. Ele não gritou, não teve a oportunidade. Ergui a faca e afundei a lâmina em seu peito.

O nome surgiu desse ataque.

– Abyssal.

O treinador surgiu através da sombra de uma pilastra de mármore, parecendo satisfeito com o golpe. Ele olhou friamente para o garoto convulsionando embaixo de mim, seus olhos me incentivavam a dar o último golpe em Elliot. Me pergunto se ele sabia seu nome, se perdeu tempo querendo saber o nome dele ao invés de simplesmente chamar seu número.

– Abyssal. – O treinador repetiu.

Pela primeira vez em quinze anos da minha vida, eu ganhei um nome.

Olhei nos olhos de Elliot e fiz um último corte, limpo e livre de dor. Eu quis poupar o sofrimento dele. O corte correu em direção ao seu pescoço, uma linha reta e que deixou que o sangue espirrasse, mas o garoto já estava morto antes de eu limpar a lâmina na calça.

– Foi um ataque profundo. – o treinador disse, aproximando-se para olhar o golpe que dei no peito de Elliot.

Era essa a minha intenção, fazer um golpe profundo o suficiente para matá-lo o mais rápido possível para impedir que sentisse dor, porém eu fracassei. A culpa corroeu meu peito enquanto o treinador se abaixava para verificar a profundidade do ataque.

– Abyssal.

Charles.

O salão de treinamento se desfaz em frente aos meus olhos como um pesadelo e quando olho para trás, Bucky Barnes está me observando com uma expressão confusa. Parece que ele está me chamando há horas ou talvez eu estivesse perdido em minhas memórias há horas.

O vento gélido açoita meu rosto com força o suficiente para fazer com que eu enterre o queixo na gola do casaco. O sol amanhece atrás de nós, através de prédios altos e espelhados, fazendo com que eu pare por alguns segundos para observar. Não há salão de treinamento nem o corpo de Elliot próximo aos meus pés. Não há sangue em minhas roupas nem em meu rosto.

O alívio que me atinge faz com meus ombros relaxem e a respiração saia lentamente de meus lábios.

– Você está pálido. – Bucky diz.

– Estou apenas cansado. – digo. – E aqui fora está muito frio.

Bucky começa a parar de acreditar em minhas palavras, suas sobrancelhas se arqueiam e há uma desconfiança perturbadora em seu olhar que me faz pensar em uma grande mentira. Depois de três horas dentro de um bar com Bucky Barnes, começo a ver que tudo em mim é uma mentira e que os anos na HYDRA me fizeram bem no fim das contas. Tanto treinamento e missões me prepararam para esse exato momento em que Bucky apressa o passo para me alcançar.

– Você soa como um mentiroso na maior parte do tempo. – ele informa como se eu já não soubesse, como se eu precisasse saber disso. E, apesar disso, não há julgamento nem uma pontada de raiva em sua voz. Meus treinadores teriam me pendurado no meio do salão de treinamento e deixado que para que qualquer um que me encontrasse espancasse meu corpo até a levar a minha mente a inconsciência.

A missão da minha vida - Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora