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NOAH U.

Depois de fazer a minha parte eu fui direto para a casa de Any. A encontrei sentada no sofá com as luzes diminuídas e a lareira acessa. Ela usava um roupão e estava com os cabelos ainda úmidos. Olhava diretamente para a chama da lareira quase sem piscar. Eu sabia que o assassinato a tinha afetado negativamente. Any não deveria ter feito aquilo, ela não tinha jeito para a coisa, tanto por agir com impulsividade quanto pelo seu emocional frágil.

— Como se sente? — perguntei ao me aproximar dela.

— Eu não sei. — falou sem olhar para mim.

Agachei para ficar mais perto dela e apoiei minha mão em um dos seus joelhos.

— Leva um tempo até isso se normalizar. A primeira vez é sempre confusa e uma guerra de valores dentro da sua cabeça.

— Eu não sou você. — ela disse rapidamente ainda incapaz de se mexer ou me encarar. — Não sou igual a você.

Não gostei de ouvir aquilo, mas deixei meus incômodos de lado. Ela estava abalada e eu tinha que relevar isso, mesmo não conseguindo entender cem por cento do porquê de ela estar tão mal com a morte de uma pessoa que ela sequer gostava. Ok, ela fez aquilo, mas ela queria fazer. Ninguém pega uma pedra e bate na cabeça de outra pessoa repetidas vezes sem ter a intenção de matá-la.

— Você sabia o que ia acontecer quando decidiu machucá-la. Foi o seu propósito.

— Eu não sabia que ia ser tão complicado viver com isso depois.

— Tem razão, não somos iguais. Eu penso bem antes de fazer alguma coisa, você só foi lá e fez sem nem se importar em ser pega. — não contive meu tom rude. — Foi irresponsável.

— Cala a boca.

— Irresponsável e cruel. Não deixou nem a garota saber por que estava morrendo.

— Cala a boca. — seus olhos marejaram.

— Você deveria...

— Cala a boca! — berrou, finalmente olhando para mim. — Você se acha o maioral, não é? Que direito você tem de julgar quem é bom ou não? O que te faz diferente de todos que você já matou? Você também é um criminoso e aumenta ainda mais os seus pecados quando tortura alguém.

— Any...

— Eu ainda não acabei! — esquivou-se na minha direção. — Se você realmente pensasse direito nem sequer se meteria com essas coisas. Não mataria ninguém se tivesse uma cabeça que funcionasse. Ser bom em assassinatos não te faz menos louco do que você é. Agora para de falar o quão ruim eu sou nisso, não preciso ser avisada disso.

Fiquei quieto e levantei. Olhei para ela por alguns instantes, buscando um meio de retrucar o que ela disse.

— Eu sei que tenho problemas, Any. Mas você é bem pior do que eu.

— Como pode dizer isso? — ficou indignada.

— Você é pior porque não admite que é louca. Ou pior ainda, talvez você nem saiba que é doente da cabeça.

Eu vi ódio arder naqueles belos olhos verdes. Eu estava certo, ela não queria admitir os próprios problemas e isso se tornava um problema para mim, que teria que estar com ela o tempo inteiro e ficar de olho em seus impulsos.

— Vai se foder. — rangeu os dentes.

— Eu vou tomar um banho. — sorri de canto. — Sugiro que comece a procurar um filme de comédia ou qualquer coisa que te acalme. Essa sensação de culpa que você sente vai demorar a ir embora.

Reaper ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora