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ANY G.

Dois dias após meu primeiro encontro com o Noah, eu iria voltar até o presídio para outra sessão. Entretanto, ao acordar pela manhã e checar meus e-mails, notei que o diretor do presídio havia me avisado de que as sessões seriam adiadas porque Noah havia sido mandado para a solitária por ter agredido dois guardas.

Irritada com a situação, eu comecei a digitar uma resposta.

Caro diretor Ramón,
O senhor está ciente de que as sessões de terapia são uma exigência judicial e que elas não são um tipo de tratamento especial para o detento. Minha análise é de interesse popular, visando dar a melhor resolução possível para o caso de Noah Urrea, referente ao que for melhor para a segurança da sociedade. Tendo noção disso, o senhor deve imaginar que independente do mal comportamento do detento, as sessões de terapia continuam sendo uma obrigação.
Espero não precisar contatar o juiz do caso para que o libere hoje. Estarei aí em uma hora e meia e pelo bem do senhor e de seus funcionários, é melhor que Noah Urrea esteja na mesma sala de visitas em que eu entrar.
Atenciosamente, Dra. Any Soares.

Alguns diretores se achavam donos dos detentos e ignoravam algumas coisas básicas. Fiquei ainda mais aborrecida porque os dois dias na solitária possivelmente haviam afetado coisas em Noah que antes eu poderia trabalhar com mais facilidade. Irritar alguém que já tinha o ódio como sentimento natural era como colocar fogo em pólvora.

Ao chegar ao presídio, ainda tive um pouco de dificuldade em convencê-los de liberar o Noah para a sessão. Depois de ameaça-los pela terceira vez, finalmente me foi explicado o motivo de estarem tão relutantes.

- Tememos por sua segurança, doutora Soares. - o diretor Ramón disse enquanto andava de um lado para o outro. - O detento parece ter algum tipo de obsessão pela senhorita e dado o histórico dele isso pode ser perigoso.

- Olhe, eu sou a psiquiatra aqui. Não interessa o que o Noah vê em mim, eu posso contornar. - sorri sarcasticamente.

- Pode contornar isso? - me entregou um caderno aberto em uma das folhas.

Peguei o caderno e observei o desenho. Era eu, claramente.

- Se não fosse pela rasura de riscos no meu rosto eu mandaria emoldurar. - eu disse despreocupada. - Obrigada, eu queria mesmo descobrir no que o Noah é talentoso. Isso diz muitas coisas sobre ele. O senhor adiantou uma parte do meu trabalho. - continuei usando o tom de deboche.

- Folhei-e as páginas, doutora. - pediu de maneira séria.

Olhei os outros desenhos, todos homens, alguns eu reconheci como carcereiros do presídio.

- Artistas desenham o que podem ver, certo? O que tem de especial nisso? - suspirei de tédio.

- O Noah só desenha o que ele quer matar.

- Acha que ele quer me matar? - soltei um riso divertido.

- Alguma coisa com você ele quer e eu duvido que a senhorita goste disso. - aborreceu-se.

- Hum... - talvez eu pudesse aproveitar. - É uma prisão de segurança máxima. Você foi muito elogiado na mídia por dirigir um lugar tão seguro e impenetrável. Por que tem medo que o Noah me mate numa sala de visitas se os seus homens estarão a menos de dez metros de nós? Não se garante tanto assim?

- Evitar se aproximar de pessoas perigosas é a melhor medida de segurança possível, estou apenas sugerindo-a.

- E já deve ter notado que eu não estou nenhum pouco interessada nas suas sugestões. Levem o Ceifador até a porra da sala de visitas antes que eu precise falar com o juiz do caso sobre a sua oposição. - fiquei de pé. - Vou te dar dez minutos. - balancei o caderno em minha mão. - Levarei isso comigo.

Reaper ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora